Filme cearense resgata a vida de Dimas Batista, o ‘Príncipe dos Repentistas’

Dirigido por Valdo Siqueira, documentário ilumina vida do poeta e cantador admirado por nomes como Ariano Suassuna e Alceu Valença

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Dimas nasceu em São José do Egito (PE), ganhou o Brasil com sua arte e tornou-se professor em Tabuleiro do Norte (CE)
Legenda: Dimas nasceu em São José do Egito (PE), ganhou o Brasil com sua arte e tornou-se professor em Tabuleiro do Norte (CE)
Foto: Acervo da família

Os documentários contribuem no resgate da memória. Iluminam histórias e situações nunca reveladas. Chegou a hora do grande público conhecer o legado de Dimas Batista (1921-1986), o homem conhecido como “Príncipe dos Repentistas”.

O filme “De Repente, Dimas” segue em fase de produção, com filmagens realizadas em Tabuleiro do Norte (211 km de Fortaleza). A direção é de Valdo Siqueira e a missão é adentrar a vida desse pernambucano que, mesmo sendo considerado um ícone da cultura popular, é pouco conhecido e valorizado no País. 

“Na década de 40, Ariano Suassuna foi ao Vale como jornalista e conheceu Dimas, de quem se tornou admirador e amigo. Ariano, talvez, tenha sido o primeiro intelectual a perceber a poesia suprema que brotava dos versos”, situa o diretor. 

Dimas e o irmão Otacílio: poesia em família
Legenda: Dimas e o irmão Otacílio: poesia em família

O documentário acontece no melhor momento. 2021 marca o centenário de nascimento de Dimas Batista. Em cena, os depoimentos da filha Dicélia e pessoas de Tabuleiro e do Vale.

Recontam essa história, poetas do lugar, como Geraldo Amâncio e Ivanildo Vilanova. Participam também Oswald Barroso, Bráulio Bessa, dentre outros intelectuais e artistas. 

Valdo Siqueira assina o roteiro ao lado do compositor e escritor Eugênio Leandro. A produção é do Instituto Brasil de Dentro. “De Repente, Dimas” foi contemplado pelo Edital de Apoio ao Audiovisual Cearense –Lei Aldir Blanc. 

Quem foi Dimas?

Dimas Guedes Patriota nasceu em São José do Egito, hoje Itapetim (PE). Começou aos 15 anos e a cantoria vem do berço.  É irmão de Lourival (o Louro do Pajeú,) e Otacílio, com os quais montou o trio “Irmãos Batista”

O “Príncipe dos Violeiros” enfrentou mais de 300 desafios de repente. Percorreu o Nordeste e foi até o Rio de Janeiro (então capital do Brasil) cantar sua arte. Mas, foi em Tabuleiro do Norte (CE) que fez família e escreveu definitivamente o legado.  

Do repente para os bancos da Universidade
Legenda: Do repente para os bancos da Universidade
Foto: Acervo da família

Dimas nem havia terminado o segundo grau quando chegou ao Vale. Fez supletivo e logo depois engatou três cursos superiores pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM). Em seguida, o poeta passou a atuar como professor da instituição.

“Se a maioria dos cantadores buscava inspiração na lida difícil do homem popular, Dimas se abastecia de livros e uma rica visão de mundo que chamou a atenção de Suassuna, este que passou a apelidá-lo como o ‘príncipe dos poetas cantadores’ ou ‘príncipe dos repentistas’, completa Valdo Siqueira. 

Missão do diretor   

Realizador audiovisual e professor de Cinema da Universidade de Fortaleza (Unifor), Valdo Siqueira detalha que o universo de Dimas vem sendo trabalhado desde 2013. À época, ao lado de Eugênio Leandro, realizava um documentário sobre a importância do repente à cultura do Vale. 

É quando teve a chance de conversar com Dicélia, filha do mestre. Conheceu também a biblioteca de Dimas. “Caí para trás. Ele havia lido todas as obras clássicas da literatura e da filosofia. Fiquei impressionado. Voltei a Fortaleza e passei a pesquisar sobre ele.  Quase nada encontrei, nem mesmo na internet”, avalia o cineasta. 

Davi Pinheiro Rasta.
Legenda: "É um filme sobre essa lacuna, sobre a ausência de Dimas, mais do que sobre ele", conta o diretor Valdo Siqueira
Foto: Davi Pinheiro Rasta.

Como estudioso do cinema documental, Valdo Siqueira sentiu a necessidade de trazer à luz a história obscurecida do poeta que morreu na década de 1980. 

“É um filme sobre essa lacuna, sobre a ausência de Dimas, mais do que sobre ele. Encontrei ressonância no pessoal do Instituto Brasil de dentro (Limoeiro do Norte), que resolveu comprar a ideia do projeto”, finaliza o realizador. 

Apoio 

Organização não-governamental de Limoeiro do Norte (CE), Instituto Brasil realiza projetos voltados ao desenvolvimento da região do Vale do Jaguaribe. Produziu os documentários “Brinca Faceira” (2006), “A Tradição do Repente no Vale do Jaguaribe” (2014) e “O Povo do Outro Lado” (2015). 

Além do legado artístico de Dimas Batista, documentário destaca o contexto e a efervescência cultural do Vale do Jaguaribe
Legenda: Além do legado artístico de Dimas Batista, documentário destaca o contexto e a efervescência cultural do Vale do Jaguaribe
Foto: Davi Pinheiro Rasta.

Atua também na realização do Festival de Sanfoneiros de Limoeiro (atualmente na 13ª edição), o projeto “Jornada das Letras”, Feira do Livro de Limoeiro, “Arte em Movimento” e "Sons do Rio”.