Expocrato retorna depois de dois anos e resgata memórias de quase 8 décadas do evento

Edição deste ano traz shows de mais de 50 nomes da música local e nacional promovendo o reencontro e as lembranças da festa

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Nesta edição, evento vai reunir mais de 50 nomes da música local e nacional
Foto: Antonio Rodrigues

A chegada do mês de julho é mais que o anúncio das férias escolares no Cariri. É quando a ansiedade se mistura com o orgulho da cultura local para os festejos que duram oito dias no Festival Expocrato. A edição deste ano traz um sentimento ainda mais especial: é o retorno do evento que marca gerações desde a década de 1940 após dois anos sem acontecer por conta da pandemia.  

O festival acontece anualmente no Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcanti, na cidade do Crato, e a edição de 2022 inicia neste domingo (10) e segue até dia 17 de julho. Além da feira de negócios agropecuária, há uma série de programações culturais com shows de mais de 50 artistas, como Leo Santana, Erasmo Carlos, Luísa Sonza e Zé Felipe.  

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Com quase 80 anos de realização, o evento permeia o imaginário do cratense e também do caririense e resguarda memórias que só quem viveu, sabe. A professora Edna Félix tem 50 anos, destes, 46 são vividos no Crato. Ela conta que frequenta o festival com a família desde quando ainda era chamado de Exposição Agropecuária de Animais e Produtos Derivados.   

“Todo mundo espera, aguarda o mês de julho pra receber seus familiares, amigos em suas casas, é um momento de grande expectativa pra todo mundo. Faz parte do patrimônio imaterial do cratense e caririense”, afirma. 

Legenda: O evento, para Edna, é tempo de velhos e novos encontros
Foto: Arquivo pessoal

Casa cheia  

Além dos festejos, a Expocrato marca o reencontro e até novos encontros. Edna explica que, neste período, é tempo de casa cheia. “Minha família é muito grande e temos muitos amigos. Quando era criança, a casa dos meus pais era aberta pra quem quiser chegar. Já chegamos a hospedar 15 pessoas em casa”. 

“Dormia gente em todo canto. Colchões no chão da sala, várias redes armadas pela casa. Era uma festa. Ainda hoje recebo algumas pessoas, até de Pernambuco. É super gratificante, sem contar que conheci muita gente, de outros estados, de outros países, fiz muitos amigos”.  
Edna Félix
professora

Legenda: Edna (de vestido listrado) com amigas na Expocrato
Foto: Arquivo pessoal

Ela, que atua como coordenadora de uma escola de educação infantil e ensino fundamental, conta ainda que há toda uma expectativa dos pré-adolescentes. "As meninas todas se organizando pra ir, é uma festa que não tem idade, vai da criança ao idoso. É uma época que pessoas que passam um ano sem vir aqui se programam pra ir”.  

Expocrato dá casamento 

O encontro parecia até improvável, mas foi a Expocrato que os uniu. Alayne de Lavôr e Bergson Moura moravam em cidades diferentes quando se conheceram na edição de 2000 do festival. “Eu sou cratense e ele morava em Fortaleza, nunca nos viríamos se ele não tivesse vindo com um amigo para as festas”.  

Naquele ano, aconteceu a primeira ‘ficada’, mas a distância para os dois estudantes universitários na época foi um problema. “A gente não começou a namorar, mas mantivemos contato. Até que ele veio novamente pra Expocrato e dessa vez começamos a namorar”.  

Legenda: Bergson e Alayne na Expocrato em 2009
Foto: Arquivo pessoal

“Em 2003, nós noivamos e sabíamos que o casamento tinha que ser na Expocrato. Veio todo mundo, amigos, a família dele. Nos casamos no final de tarde, porque todo mundo queria ir à noite pra Expocrato, inclusive a gente”.  
Alayne de Lavôr
advogada

Hoje, prestes a completar quase 16 anos de casados, a comemoração já tem data e local: o festival. “A gente vai todo ano pra reviver quele dia que a gente se conheceu”. E este ano é ainda mais especial, já que é a primeira vez que o filho mais velho do casal, de 14 anos, vai ao evento junto da namorada.  

Legenda: Alayne com o marido e os filhos na Expocrato, onde se conheceram
Foto: Arquivo pessoal

‘Era a rede social’ 

O fotógrafo Allan Bastos, de 45 anos, cresceu em uma casa localizada a cinco minutos do parque de exposições. Nos dias que antecedem o festival, virou rotina para ele passar pelo local para ver a montagem das estruturas.  

Além dos encontros e diversão, Allan conta que o festival era a ‘rede social’ da época da adolescência. “Era o momento que a gente era visto. Tinha que ter roupa nova todo dia, tênis novo, um banho de loja, cabelo cortado, sempre muito arrumado pros passeios da tarde e pros shows à noite”, lembra.  

Legenda: Allan com o pai, irmãos e primo em registro feito na infância na Expocrato exposto num monóculo
Foto: Arquivo pessoal

"E eu sempre ia com a turma do colégio, minhas primeiras festas realmente aconteceram na Expocrato. Na época que ainda eram os trios, ficávamos todos ao redor das barracas das caipirinhas mesmo sem beber, já querendo se comportar como os mais velhos, era o momento de se enturmar”. 
Allan Bastos
fotógrafo

Hoje, Allan aproveita o momento para capturar imagens e guardar sempre os momentos do evento e são esses registros que marcam a memória do fotógrafo. “Na minha infância, tinham fotógrafos que faziam as fotos em diversos cenários e vendiam em monóculos, guardo até hoje”.  

Sabores do Nordeste  

Mas não é só da música e da feira de negócios que a Expocrato é feita. Todo ano, é possível comer diversas delícias nas barraquinhas. Além dos sabores do Cariri, há comidas típicas de outros estados do Nordeste. A baiana Ana Angélica Bastos, de 49 anos, vende acarajé e abará, por exemplo, há 20 anos no festival.   

“Vou da Bahia todo ano. Levo 15 pessoas comigo que me ajudam com o preparo das comidas, alugamos uma casa e compramos o espaço dentro do parque pra vender.  Ficamos no Crato uns 20 dias e todo mundo gosto do acarajé, por isso sempre volto”.  
Ana Angélica Bastos
empreendedora

Legenda: Ana Angélica vem há 20 anos vender quitutes típicos da Bahia na Expocrato
Foto: Arquivo pessoal

Conforme Allan, o sucesso das comidas de Ana é tanto que sempre há filas enormes para comprar o acarajé. “As pessoas nem se importam de esperar, só querem matar a saudade ou mesmo experimentar as delícias que ela faz. O Crato a reverencia”.  

Legenda: Allan aproveita o evento para comer as delicias da Bahia produzidas por Ana Angélica
Foto: Arquivo pessoal

Para Edna, a Expocrato tem sabor de maçã do amor. “Quando eu era criança, lembro muito de sempre comprar maçã do amor lá, se não comprasse, não tinha ido, e eu amava muito”.  

Farra boa 

Desde os trios elétricos aos shows com grandes nomes da música, a Expocrato é hoje também muito aproveitada por quem gosta de uma boa festa. A advogada Naira Filgueira, de 26 anos, é de Barbalha mas cresceu indo ao festival com a família. “No domingo de abertura, a gente passava o dia todo lá, olhando os bois, andando de pônei”.  

Legenda: Para Naira, o evento remonta às raízes e tradições do Cariri
Foto: Arquivo pessoal

Porém, à medida que ela foi crescendo os interesses foram mudando e, na adolescência, começou a frequentar os shows com os amigos. Até hoje, mesmo morando em Fortaleza, Naira conta se programar para vir ao Festival. Neste ano, inclusive, ela tirou férias e comprou ingressos para todos os dias.  

“Tenho diversas lembranças com meus amigos, eu vou desde quando ainda nem existia a divisão de vip e premium. Na quarta, tinha forró das antigas, sempre foi a mais marcante pra mim, era a noite que eu mais me divertia. Sempre tava em férias escolares, então nosso point era lá”.  
Naira Filgueira
advogada

Legenda: No evento, Naira reencontra amigos da região
Foto: Arquivo pessoal

Por isso, Naira relata não ver a hora de voltar para a região natal e comer tapioca com amendoim e sentir o cheiro do Engenho de Farinha. “Tô muito emocionada, nessa festa você se apega a todos os sentidos, o clima da cidade muda, todo mundo fica no aguardo”, conclui.  

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