Estreia da Globoplay, ‘Onde Está Meu Coração’ propõe debate consciente da dependência química

Com Leticia Colin, Daniel Oliveira, Fábio Assunção e Mariana Lima no elenco, série de seis capítulos mergulha no drama de uma médica viciada em crack

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Na busca de informações precisas para compor a protagonista Amanda, atriz Letícia Colin visitou grupos de narcóticos anônimos e o teritório conhecido como
Legenda: Na busca de informações precisas para compor a protagonista Amanda, atriz Letícia Colin visitou grupos de narcóticos anônimos e o perímetro conhecido como "cracolândia" em São Paulo
Foto: Fábio Rocha/Globo

Tema complexo e urgente, a dependência química afeta o destino de inúmeras famílias. Essa doença é indiferente a classe social, opção religiosa ou etnia. Nova produção da Globoplay, "Onde Está Meu Coração" busca adentrar o tema a partir de uma perspectiva mais humanizada. A série chega à plataforma de streaming nessa terça-feira (4). O primeiro episódio vai ao ar hoje (3) na Tela Quente, na TV Verdes Mares.

Em cena, o dilema de uma jovem viciada em crack.

Amanda (Leticia Colin) contraria o estereótipo geralmente associado a dependentes. Médica. Bem-sucedida. Filha da classe alta de São Paulo. Nada disso foi capaz de barrar a queda de sua vida profissional e afetiva. O núcleo familiar é estilhaçado. Nesse turbilhão constam o marido Miguel (Daniel de Oliveira) e os pais, a executiva Sofia (Mariana Lima) e o médico David (Fábio Assunção).

Na última sexta-feira (30/05), uma coletiva virtual reuniu elenco, a diretora artística Luísa Lima e os roteiristas George Moura e Sergio Goldenberg. A produção foi gravada antes da pandemia, em 2019. A equipe falou do intenso processo de pesquisa quanto ao assunto.  O objetivo de "Onde Está Meu Coração" é propor um debate relevante acerca desse drama tão comum na sociedade. 

"A obra insere essa conversa num tema adulto. De uma família, né. Desassocia desse mundo externo que não nos pertence e traz para uma realidade possível"
Fábio Assunção
Ator

Por ser médica, Amanda possui a capacidade de entender os efeitos nocivos da droga. Essa contradição interna revela uma pessoa que não consegue sozinha de desvencilhar do vício. A partir desse prisma, o sensível alerta conta que "ninguém é infalível". Todos estamos sujeitos ou próximos de alguém com esse problema. 

Fugindo dos clichês

O universo da série tem como cenário a cidade de São Paulo. É a metrópole quem emoldura as angústias e quedas de Amanda. Este mergulho nas locações externas é mais um ingrediente da proposta da série em discutir o tema com qualidade. "Onde Está Meu Coração" propõe uma trama municiada com o máximo de informações e dados acerca do tema.

"A dramaturgia, às vezes trata, realmente, esse assunto com presídios, tiros, moradores de rua. A droga é uma questão universal. Não depende de classe social. Não depende de etnia. É uma questão emocional. Uma questão mental. De sentimento. É uma doença do sentimento e isso tem em todos os lugares do mundo, explica Assunção. 

Méritos da série

As mentes responsáveis pela obra explicaram seus processos de trabalho. O que inclui visitas a grupos de narcóticos anônimos e clínicas de reabilitação. Os depoimentos reais foram um diferencial à produção.

"Fiquei comovida com as pessoas que conheci. Mudou a minha vida essa experiência, explica Letícia Colin. 

Mariana Lima, Letícia Colin e Fábio Assunção em produção que dramatiza o desmoronamento de uma família
Legenda: Mariana Lima, Letícia Colin e Fábio Assunção em produção que dramatiza o desmoronamento de uma família
Foto: Fábio Rocha/ TV Globo

Fábio Assunção estava duplamente feliz. Além da estreia de "Onde Está Meu Coração", a filha caçula do ator acabou de nascer. Aos 49 anos, o artista superou o dilema pessoal da dependência química e segue investindo na carreira. Interpretar um pai que luta com a filha usuária traz uma mensagem poderosa.  

"Isso e importantíssimo para as famílias brasileiras, as pessoas falarem sobre isso. Refletirem de uma forma sem estigmas, de uma forma palpável diante da complexidade do problema. Mas, trazendo para um tipo de realidade. A série tem esse mérito", descreve.

Caso de saúde

George Moura e Sergio Goldenberg descreveram detalhes da pesquisa de campo. Visitas a clínicas de recuperação e toda sorte de literatura científica foram ordem. Tudo para conseguir aspectos mais próximos do real.

"No núcleo familiar, quando se fala de droga, associam muito às questões da periferia e tráfico. Quisemos outra matriz de abordagem. Um olhar mais generoso e menos julgador",  explica Moura. 

George Moura (roteirista), Luísa Lima (direção artística ) e Sergio Goldenberg (roteirista)
Legenda: George Moura (roteirista), Luísa Lima (direção artística ) e Sergio Goldenberg (roteirista) optam por abordagem menos julgadora desse drama familiar
Foto: Victor Pollak/ Globo

A desventura da protagonista vivida por Leticia Colin eclode um drama familiar e como essa situação corrói estas pessoas. Além de tabu, é uma questão de saúde, não de polícia. Mesmo diante de um cenário tão triste, "Onde Está Meu Coração" aponta que o afeto é decisivo nessa luta por redenção. Em seus trabalhos, Moura e Goldenberg exaltam mulheres em sua ficção.

Eles citam como exemplo, as obras "O Canto da Sereia", "O Rebu" e "Onde Nascem os Fortes". Este olhar feminino ganha amplitude com Luísa Lima, que  estreia como diretora artística em "Onde Está Meu Coração".