Edição japonesa de ‘O Quinze’ e mais: 5 obras raras do acervo da Biblioteca Pública do Ceará

Localizado no segundo andar superior do equipamento, setor reúne 9.314 exemplares, concentrando um dos acervos mais importantes do País

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Além dos livros listados, integram a seção as primeiras edições de obras de cearenses, a exemplo de Juvenal Galeno (1838-1931) e Barão de Studart (1856-1938)
Foto: Fabiane de Paula

O clássico “Iracema”, de José de Alencar (1829-1877), em inglês. Uma edição japonesa de “O Quinze”, obra-prima de Rachel de Queiroz (1910-2003). Um volume de 1492 escrito pelo poeta Virgílio (70 a.C-19 d.C) disponível em latim clássico, com anotações à margem. Mediante a reabertura da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE), esses e vários outros títulos podem ser conferidos de perto pelo público.

Veja também

Presentes no setor de Obras Raras do equipamento – reinaugurado nesta quinta-feira (12) e com agendamento para acesso ao atendimento presencial disponível nesta sexta (13) –, os exemplares integram a lista dos 9.314 volumes pertencentes à seção. Trata-se de um dos acervos mais importantes do País no que toca ao segmento.

Além dos livros já citados, também integram o ambiente as primeiras edições de obras de cearenses, a exemplo de Thomas Pompeu de Sousa Brasil (1818-1877), Antônio Sales (1868-1940), Juvenal Galeno (1838-1931) e Barão de Studart (1856-1938). Igualmente, guarda volumes da coleção do “Código de Napoleão”, publicado em Paris no séc. XIX.

Abaixo, seguindo uma curadoria feita pela própria equipe da BECE, você confere cinco títulos presentes no setor de Obras Raras da instituição, um dos seis já abertos para visitação.


> “Éclogas, Bucólicas, Georgicas, Eneida”, do poeta Virgilio (70 a.C-19 d.C)

É a obra mais antiga da seção, publicada em latim arcaico no ano de 1492 na cidade alemã de Nuremberg. Com anotações à margem, foi impressa em papel de trapo e possui encadernação em couro de boi, com gravação dourada na lombada.

As outras mesmas edições que integram o exemplar presente na BECE foram impressas entre os anos de 1450 e 1500, período considerado o berço da imprensa – uma vez que a técnica desenvolvida por Johannes Gutenberg (1400-1468) foi realizada entre os anos de 1439 e 1440, a partir da confecção e combinação de tipos móveis.

Legenda: O exemplar de autoria do poeta Virgilio (70 a.C-19 d.C) é a obra mais antiga da seção, publicada em latim arcaico no ano de 1492
Foto: Divulgação

Esses tipos – símbolos gráficos moldados em chumbo – eram passados em tinta à base de óleo de linhaça e impressos em papel por meio de uma prensa movimentada por uma barra de madeira.

> “Iraçema or Honey-Lips: A Legend of Brazil”, de José de Alencar (1829-1877)

Sim, a versão em inglês de um dos maiores clássicos da literatura cearense e nacional está sob posse da Biblioteca Pública Estadual do Ceará. 

Com tradução de Isabel Burton, o exemplar intitulado “Iraçema or Honey-Lips: A Legend of Brazil” foi publicado em Londres no ano de 1886, pela editora Bickers & son. O livro foi traduzido com a permissão do próprio José de Alencar (1829-1877), autor do romance. 

Legenda: Com tradução de Isabel Burton, o exemplar intitulado “Iraçema or Honey-Lips: A Legend of Brazil” foi publicado em Londres no ano de 1886
Foto: Divulgação

Nas páginas, a famosa história do enlace amoroso entre a índia Iracema, representante do povo nativo ameríndio, e o português Martim, colonizador português do século XVI. Considerado uma narrativa de fundação, o trabalho tem como eixo temático principal a criação de uma identidade cultural, um texto que se orienta a fim de representar a origem da nacionalidade brasileira.

> “O Quinze”, de Rachel de Queiroz (1910-2003), em japonês

De um clássico cearense para outro, e igualmente com variação no idioma. Entre os exemplares mais curiosos do setor de Obras Raras da Biblioteca Pública Estadual do Ceará, está a edição japonesa do romance “O Quinze”, de Rachel de Queiroz (1910-2003).

O volume foi editado em Tóquio, capital do Japão, entre os anos de 1970 e 1980. A permissão da autora para a tradução também foi dada para as edições do mesmo período, em alemão, francês e português.

Legenda: Este volume do romance "O Quinze" foi editado em Tóquio, capital do Japão, entre os anos de 1970 e 1980
Foto: Divulgação

Publicado originalmente em 1930, foi o primeiro e o mais popular trabalho de Rachel de Queiroz, até hoje amplamente estudado no Brasil e no mundo. O título do livro se refere à grande seca de 1915, vivida pela escritora na infância. Com 26 capítulos, cravou seu lugar na História dos clássicos literários nacionais.

> “Corona trágica: Vida y muerte de la serenísima reina de Escocia María Estuarda”, de Félix Lope de Vega y Carpio (1562-1635)

De autoria do dramaturgo, autor de peças teatrais e poeta espanhol Félix Lope de Vega y Carpio, “Corona trágica: Vida y muerte de la serenísima reina de Escocia María Estuarda” está presente no acervo de Obras Raras da BECE em edição do ano de 1627.

Disponível no idioma em que foi originalmente escrita, a obra conta a vida de María Estuardo. Rainha católica da Escócia, ela foi brutalmente decapitada por ordem da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, ao ser acusada de traição. 

Legenda: Disponível no idioma em que foi originalmente escrita, a obra conta a vida da Rainha católica da Escócia, decapitada por ordem da rainha Elizabeth I, da Inglaterra
Foto: Divulgação

A trágica morte – uma vez que a rainha era considerada inocente e mártir – foi um manifesto político de denúncia e de afronta, a favor da fé cristã e da moral católica. A escrita do livro, não à toa, é movida por circunstâncias literárias, pessoais, históricas e não menos religiosas, expressando um desejo do autor de se vincular às esferas do poder à época, buscando sua proteção e ajuda.

Assim, Félix Lope de Vega y Carpio elabora um esforço de comover o leitor e o próprio narrador, destacando um caso exemplar de inocência e punição injusta.

> “Equitis romani annalium ab excessu Augustisi”, de Publio Cornelio Tacito (55-120 d.C)

Historiador, orador e político, o romano Públio Cornélio Tácito (55-120 d.C), ou simplesmente Tácito, foi um dos maiores historiadores da Antiguidade. Conforme estudiosos, seu estilo de escrita é de grande complexidade, o que torna difícil a compreensão sobre sua verdadeira opinião a respeito da realidade política. 

De todo modo, o autor é apontado como bastante relevante para a historiografia romana, uma vez que é possível, a partir da leitura de seus textos, compreender as concepções sobre a decadência moral de Roma.

Legenda: Publicado em 1544, o exemplar é todo narrado em latim clássico, impresso em papel de trapo e com encadernação plena em pergaminho
Foto: Divulgação

Na Biblioteca Pública Estadual do Ceará, há um exemplar escrito por Tácito, intitulado “Equitis romani annalium ab excessu Augustisi”. Publicado em 1544, foi todo narrado em latim clássico, impresso em papel de trapo e com encadernação plena em pergaminho.


Serviço
Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE)
Atendimento durante a pandemia, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h – via agendamento online. Avenida Presidente Castelo Branco, 255, Centro. Mais informações pelo telefone (85) 3101.2545 ou pelo e-mail bece@secult.ce.gov.br

Assuntos Relacionados