Booktuber cearense diz porque não aceitou lista dos melhores livros do século do The New York Times

O Que Nem Tu desta quinta-feira (5) traz uma conversa com Darwin Oliveira, do canal Seleção Literária

Escrito por Redação ,

Ele tinha a paixão pela leitura e a preocupação de fazer com que a literatura fosse mais acessível. Darwin Oliveira rechaçava a ideia de que ser leitor ficasse nas prateleiras mais altas e, consequentemente, mais distante da maioria da população. Foi aí que ele encontrou os canais dedicados à divulgação de livros e resolveu que iria fazer o seu. Surgiu, em 2017, o Seleção Literária - uma referência não tão óbvia e engraçada a Charles Darwin.

Desde então, o cearense divide sua rotina em um emprego formal nos negócios da família ao ofício de booktuber- criador de conteúdo de literatura no Youtube. Ele faz críticas, entrevistas, unboxing, indicações e criou até mesmo uma séries especial para falar sobre os sebos e seus livreiros. Tudo isso com o objetivo de popularizar a literatura e incentivar o pensamento crítico, tão valorizados por Darwin. E foi sobre essa trajetória o tema do Que Nem Tu desta quinta-feira (5).

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O administrador de empresa e apaixonado por livros é crítico, inclusive, com o meio dos booktubers, booktoks e bookgrams. Para ele, muitas vezes é preciso abrir mão de um maior engajamento e da ampliação de um público para ser fiel aos princípios e não se "entregar" à lógica dos algorítimos. Darwin fala com naturalidade que não vale tudo pelo like. Com quase 24 mil seguidores, ele diz que prefere manter um público mais enxuto e fiel do que ter que fazer um conteúdo que não seja alinhado com seus gostos e verdades.

É preciso responsabilidade do influenciados. "A gente fala muito de diversidade de livros, mas o algoritmo não está deixando essa diversidade surgir. Se você tem um conjunto de criadores de conteúdo no TikTok, falando sobre esse livro, o TikTok vai passar o resto do mês sozinho indicando esse livro. Então, o outro gerador de conteúdo vai querer falar desse livro também", pontua. "O The New York Times me lançou uma lista de livros, de 100 melhores livros do século XXI. Eu fiquei estarrecido com a lista, sabe? Eu não ia fazer vídeo, eu via a lista, muita gente me mandou [pedido] 'comenta'... Fiquei calado, passei uma semana calado. E começou a aparecer pra mim colegas meus, que eu sigo, acompanho, de muito tempo, conhecidos falando.  Eu já não tava com muita fé, mas se o pessoal tá dizendo que é boa, eu vou dar um voto de confiança. E a lista é muito ruim", relembra o episódio.

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O cearense disse que resolveu, diante da inexistência de vozes que desse um contraponto a uma lista de visão tão centrada na literatura americana, fazer um video criticando o poderoso jornal. " O mundo do The New York Times se resume aos Estados Unidos e ao Canadá. Desprezar a literatura feita na América Latina, na África, na Ásia, na China, no Japão, é de uma insensibilidade muito grande do jornal, sabe? E eu fiquei tão chateado quanto a lista do New York Times com o posicionamento dos meus colegas no YouTube elogiando a lista. A velha questão de a gente aceitar as coisas sem ter um senso crítico, esse vídeo viralizou no meu canal, recebi muitos comentários e às vezes falta um ponto de discordância, porque dentro daquele momento que estava um monte de gente elogiando, eu fui fazer um contraponto"

"Você tem uma lista de 100 melhores livros do século XXI, que o século XXI não acabou, aí não tem ninguém que escreva em português, você não tem um Saramago dentro da lista, você não tem uma Adélia Prado, você não tem um João Ubaldo Ribeirão. Essa lista naturalmente já nasceu morta."
Darwin Oliveira
Booktuber

Darwin Oliveira ( Seleção literária), Karine Zaranza e Alan Barros
Legenda: Darwin Oliveira, criador de conteúdo do canal Seleção Literária, falou sobre o impacto da literatura na vida das pessoas com Alan Barros e Karine Zaranza
Foto: Ismael Soares

 Como fazer a literatura atrativa para crianças e jovens

Darwin também comentou sobre o desafio que é fazer o livro voltar a ser um espaço de encantamento para crianças e jovens de um tempo hiperestimulado por telas.

"Um livro, um objeto analógico, pesado, absurdo, às vezes fedendo de mofo,  em concorrência com um tablet coloridíssimo, cheio de aplicativo... Eu acho que a gente já está perdendo é nessa largada. Ela (a criança) vai pro conteúdo mais rápido, e aí, volta aquela história, ela já não escuta um disco completo, ele vai virar um adolescente que não escuta mais o disco completo, ele não assiste mais uma série completa. Pra ver um vídeo como esse aqui no YouTube, vai botar no 2x, no 10x. E no livro não, ele não vai poder fazer nada, ele não vai ter ter propaganda dentro do livro. Acho que ele já começa estranhamento daqui", provoca o crítico de literatura.

O cearense lamenta que esses possíveis novos leitores não consigam sequer ter acesso a uma diversidade de livros e não consiga se deixar encantar por grandes autores. "Já não chega na literatura de jeito nenhum porque a concorrência com as telas já barra ali. Não dá nem para chega o Harry Potter nem o mais básico da fantasia. O consumo de rede social de conteúdo rápido que chamamos de topaminésico é só aquele aquele prazer muito efêmero", diz ele que relembra que ficou muito encantado pelos autores brasileiros já na adolescência.

E falar dos nosso autores e livros é outra bandeira do booktuber. Tem espaço para nomes mundiais, mas Darwin, em sua Seleção literária, faz questão de valorizar aqueles que estão em casa. A literatura cearense, indica ele, é uma das melhores do Brasil. E os autores cearenses estão em uma ótima fase.

"Literatura cearense, a nível nacional, ela é uma das melhores. Tem vários [escritores do Ceará] que a gente pode ficar listando aqui e estão em grandes casas editoriais. Mas veio através disso aí, veio da Padaria Espiritual, tudo isso que a gente está construindo veio do Antônio Salles, do Rodolfo Teófilo, Raquel de Queiroz".

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