Bailarino cearense faz campanha de arrecadação de dinheiro para trabalhar na Finlândia
O jovem de 19 anos, Israel Mendes, foi chamado para um contrato de trabalho na Companhia Juvenil do Balé Nacional Finlandês
O que parecia ser apenas objeto de um sonho se tornou realidade para o jovem Israel Mendes, de 19 anos. Bailarino desde os 6 anos de idade, a trajetória do cearense ganha mais uma página com a notícia recebida há pouco mais de uma semana: um contrato de trabalho com a Companhia Juvenil do Balé Nacional Finlandês.
De origem humilde e sem dinheiro para custear as passagens, documentação e estadia do primeiro mês, a família e o Studio de Dança Mainara Albuquerque, da qual é aluno, se uniram numa campanha de arrecadação de dinheiro para realizar o sonho do jovem.
Com a temporada prestes a começar, no dia 2 de agosto, Israel tem pouco tempo já que a contratação é com urgência.
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De acordo com a professora Mainara, responsável por organizar a campanha, o jovem precisa de cerca de R$ 15 mil para os custeios básicos: o visto – que custa cerca de R$ 3 mil –, passagens de ida e volta para Brasília para tirar o visto, passagem para a Finlândia, além de uma ajuda de custo para moradia e alimentação, já que ele só receberá o primeiro salário após um mês.
As doações podem ser realizadas por transferência ou PIX. Para mais informações, basta entrar em contato pelo telefone (85) 8783.5467 ou pelo Instagram do estúdio ou de Israel.
‘Difícil por causa do preconceito’
A paixão de Israel pela dança começou ainda na infância, quando participou de um projeto do bairro onde mora até hoje, o Parque São José. "Comecei em outra modalidade da dança e era muito difícil por causa do preconceito, era um projeto religioso. Eu fazia capoeira, hip hop e ballet, mas era escondido”, relata.
Quando a mãe o viu se apresentando pela primeira vez, a admiração pelo talento do filho falou mais alto. “A partir dali, só foi aumentando mais ainda o apoio e a esperança que o pessoal tinha em mim, da minha família, minha mãe me viu dançar e acabou não me limitando mais e foi só crescimento”.
Depois disso, Israel passou por outras escolas e projetos, além de diversas modalidades da dança. “Tive a oportunidade de dançar num palco pela primeira vez no Theatro José de Alencar, ali, comecei a ver de verdade como era o mundo da dança mais expandido”, conta.
Mainara destaca o talento do jovem: “participamos de muitas competições Brasil afora, ele já teve a oportunidade de participar dessa seletiva em 2018 e ele passou um mês estudando ballet clássico na Flórida, porque ganhou uma bolsa”.
“Estou abraçando essa campanha com ele, pois ele merece muito. Os pais deles estão desempregados. É uma primeira experiência de contrato de trabalho, conta demais pro currículo dele”.
Realização de um sonho
A notícia da vaga de emprego foi, para o bailarino, a realização de um sonho. “É o que todo bailarino almeja, trabalhar com isso é um sonho. Aqui no Brasil não temos valorização nenhuma, nenhum incentivo. É difícil você conquistar seu meio com a dança. Aí o foco é se torna sair, conseguir uma bolsa, um contrato para crescer”.
A mãe de Israel, Márcia, relata estar muito feliz. “A gente já vem com essa luta há muito tempo. Essa oportunidade do contrato agora é única, eu não tenho nem palavras para definir. Mas temos que correr para conseguir que ele vá, não temos condições de bancar”, declara.
“Eu estou realizado, poder sair da vida que a gente tem, para eu ver quão grande é o mundo. Conhecer diferentes culturas, vou fazer o que amo, vou aprender. Estamos muito gratos a Deus, porque não estávamos esperando”.
Repassando conhecimentos
Para retribuir para a comunidade o que sabe, o jovem passou a dar aulas para as crianças do projeto Menor Também Constrói, que é coordenado pela mãe. Desde o final de 2019, a iniciativa promove aulas de capoeira, dança, informática para as crianças da comunidade.
“Quando a gente é criança, temos muitos sonhos e tirar isso de alguém é muito absurdo. Nosso objetivo é fazer com que elas se desenvolvam e descubram novas potencialidades”, explica o bailarino.
Com a pandemia, o projeto passou por dificuldades, mas a atuação seguiu. “É um ciclo, comecei em um projeto social e agora estou passando para outras pessoas. É gratificante para mim”, conclui.