Buscas por Lázaro Barbosa chegam ao 14º dia; Defensoria Pública pede que ele vá para cela separada

A solicitação do órgão foi negada pela Justiça do Distrito Federal. Na decisão, a juíza justificou que, neste momento, o pedido é "inoportuno"

Escrito por Redação ,
Buscas por Lázaro Barbosa
Legenda: No entorno do Distrito Federal, 270 agentes da Segurança Pública usam cães farejadores, drones e helicópteros nas buscas pelo foragido
Foto: Reprodução/SSP-GO

As buscas por Lázaro Barbosa, suspeito de ser autor da Chacina em Ceilândia, em Goiás, e de diversos outros ataques, chegaram ao 14º dia nesta terça-feira (22). Para conseguir encontrá-lo, 270 agentes da Segurança Pública foram deslocados para a missão.

Na segunda-feira (21), a Defensoria Pública do Distrito Federal pediu à Vara de Execuções Penais que, quando ele for preso, fique em uma cela separada dos demais internos. No entanto, a Justiça do DF negou a solicitação do órgão no mesmo dia. As informações são do G1.

A juíza Leila Cury classificou que, neste momento, o requerimento do órgão é "inoportuno", pois depende "da concretização de fatos futuros e incertos". Conforme a magistrada, caso Lázaro seja capturado, ainda não se sabe se ele será transferido ao Distrito Federal, já que as buscas por ele estão concentradas em Goiás. 

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A defensoria havia pedido proteção da integridade física e psíquica de Lázaro Barbosa. Na solicitação, o órgão justificou que o caso tem "enorme repercussão nacional" e que, por isso, é necessário "salvaguardar a vida e a saúde" do investigado.

"Registramos que esse pedido é comum, em casos dessa natureza, tendo por objetivo a garantia do cumprimento da legislação vigente após a eventual captura de Lázaro Barbosa", detalhou no documento.

A defesa ainda frisou que "tortura" e "violência físicas e psicológica" são práticas ilícitas, e que o caso gerou "um sensacionalismo exacerbado".

Em relação à possibilidade de Lázaro ser alvo de atos violentos, Cury afirmou que a defensoria não apresentou fatos concretos de que autoridades policiais descumpriram princípios da legalidade ou dignidade humana. 

"É completamente descabido analisar eventual cometimento tortura, a uma, porque sequer foi descrita qualquer conduta criminosa; a duas, porque o sentenciado deste feito, apontado como potencial vítima, sequer está preso; e, a três, porque este Juízo não é competente para analisar e julgar crimes, mas para executar penas", disse a juíza.  

Com a negativa da Justiça, a Defensoria Pública recorreu da decisão.

Solidariedade às vítimas

Na solicitação, a defensoria ainda se solidarizou com as vítimas dos crimes cometidos pelo foragido, e desejou que as Forças de Segurança Pública consigam capturá-lo.

"Ao mesmo tempo que se solidariza com as vítimas dos delitos, deseja que as investigações e buscas sejam bem sucedidas, com a maior celeridade possível, e que nenhuma outra pessoa venha a sofrer risco de vida ou lesão aos seus direitos", afirmou.

"Esperamos que, após a detenção do suspeito, sua vida e integridade física sejam protegidas, a fim de que ele seja submetido ao devido processo legal", acrescentou.

Vítimas de latrocínio de autoria de Lázaro Barbosa, segundo a polícia
Legenda: Quatro membros da mesma família foram mortos por Lázaro, segundo a polícia
Foto: Reprodução/Redes Sociais
 

O pedido da instituição foi de "proteção especial à integridade física e proteção contra qualquer forma de sensacionalismo e exposição vexatória em razão da grande repercussão e comoção social vivenciada no caso".

No documento, a Defensoria Pública salientou que a tortura, as violências física e/ou psicológica direcionadas a qualquer ser humano são consideradas práticas ilícitas.

"São valores absolutos que devem ser garantidos a todos, independentemente da conduta criminosa praticada e do clamor da sociedade por justiça", ressaltou.

Também no requerimento, o órgão frisou que as pessoas em situação de cárcere são vulneráveis, "ainda mais quando há a presença de grande repercussão midiática e o clamor da população que acompanha todos os passos dessa caçada em tempo real pelos meios de comunicação em âmbito nacional".

Lázaro Barbosa cercado

No entorno do Distrito Federal, 270 agentes da Segurança Pública usam cães farejadores, drones e helicópteros nas buscas pelo foragido.

Na sexta-feira (18), a Polícia Rodoviária Federal colocou barreiras nas estradas de terra e rodovias das regiões de Cocalzinho de Goiás e Águas Lindas de Goiás, e cercaram o suspeito.

Buscas por Lázaro Barbosa
Legenda: Mais de 200 agentes participam de buscas por Lázaro Barbosa
Foto: Reprodução/SSP-GO

Os servidores públicos que fazem parte da força-tarefa estão abordando veículos que passam pela BR-070, seja durante o dia ou madrugada.

Também na sexta-feira (18), um morador contou que o homem apontado como autor da Chacina em Ceilândia invadiu uma fazenda para roubar queijo, carregador de celular e dinheiro. 

Visto em um chiqueiro de chácara

Na sexta-feira (18), Lázaro Barbosa foi visto em um chiqueiro de uma chácara, mas fugiu para a área de vegetação novamente, segundo a PRF. 

Também conforme instituição, agentes que estavam em um helicóptero o identificaram no local. A movimentação intensa de viaturas da corporação iniciou depois das 15h. 

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Família feita refém

No dia 15 de junho, uma família foi feita refém pelo suspeito, em Edilândia, Goiás. A adolescente, que tem 16 anos, foi encontrada por ele embaixo da cama, enquanto ligava para a Polícia Militar.

Dois dias depois, os parentes publicaram um vídeo nas redes sociais agradecendo a quem rezou pela vida deles e informaram que "estão bem".

Fuga da cadeia

Antes de cometer os delitos neste ano, Lázaro Barbosa já havia fugido de presídios várias vezes. A primeira foi em março de 2016, quando ele escapou do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), em um "saidão" de Páscoa.

O então presidiário ganhou o benefício depois que ele, que cumpria pena em regime fechado, conseguiu progressão para o semiaberto.

Carta escrita por Lázaro Barbosa e enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a progressão da pena para o regime semiaberto
Legenda: Carta escrita por Lázaro Barbosa e enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a progressão da pena para o regime semiaberto
Foto: Reprodução

Ficha criminal de Lázaro Barbosa

  • 2007: capturado sob acusação de um duplo homicídio no município Barra dos Mendes, na Bahia. Dez dias de ser preso, no entanto, ele fugiu e até hoje é tido como foragido pela polícia local
  • 2009: o criminoso migrou para Brasília, onde ficou em reclusão no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP). Os ilícitos atribuídos a ele era porte ilegal de arma de fogo, estupro e roubo
  • 2013: o mesmo presídio emitiu um laudo psicológico informando que o homem era um "psicopata imprevisível". O diagnóstico foi elaborado a partir da conduta agressiva e impulsiva, assim como pela instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio do preso
  • 2014: a Justiça autorizou a conversão da prisão de Lázaro Barbosa para o regime semiaberto
  • 2016: voltou a sumir do radar das forças de segurança
  • 2018: fora do sistema prisional do Distrito Federal, foi alcançado pela polícia de Águas Lindas de Goiás e novamente preso por porte ilegal de arma de fogo, homicídio qualificado, roubo e estupro. Em julho do mesmo ano, escapou da detenção
  • 2020: foi indiciado por roubo mediante restrição da liberdade de quatro idosos e emprego de arma branca durante tentativa de latrocínio em uma chácara em Santo Antônio do Descoberto, em Goiás

CRIMES MAIS RECENTES

Já no último dia 8 de abril de 2020, a polícia de Goiás o indiciou por roubo mediante restrição da liberdade de quatro idosos e emprego de arma branca durante tentativa de latrocínio em uma chácara em Santo Antônio do Descoberto. Na ocasião, uma das vítimas chegou a ser atingida na cabeça com golpes de machado.

De volta ao Distrito Federal, Lázaro invadiu uma casa no dia 26 de abril no Sol Nascente. Ele levou uma mulher para um matal e a estuprou enquanto o marido e o filho dela ficaram trancados no quarto.

Em 17 de maio, ele esteve na mesma região e ameaçou populares com arma de fogo e faca. As vítimas foram obrigadas a ficarem peladas. Das 19h até meia-noite, o suspeito prendeu homens no quarto e as ordenou que as mulheres preparassem e servissem um jantar.

No dia 9 de junho, Lázaro invadiu uma chácara em Ceilândia e matou quatro pessoas de uma mesma família: os empresários Cleonice Marques de Andrade, 43, Cláudio Vidal, 48, e os filhos do casal Gustavo Marques Vidal, 21, e Eduardo Marques Vidal, 15.

Na quinta-feira (10), ele rendeu o caseiro de uma chácara e a filha dele próximo ao imóvel dos empresários. Ele ordenou que a mulher preparasse o almoço enquanto ele acompanhava um telejornal. No mesmo dia, voltou a entrar sem permissão em uma casa e fez três pessoas reféns. Duas delas foram obrigadas a fumar maconha.  

O homem fugiu em 12 de junho para Cocalzinho de Goiás, onde invadiu fazendas, disparou contra quatro pessoas e colocou fogo em uma residência. A polícia montou um cerco, mas ele fugiu. Em 13 de junho, o criminoso furtou um carro e o largou na BR-070. 

O que é um serial killer?

A série de ataques realizados por Lázaro Barbosa em um curto espaço de tempo e as informações divulgadas pela Polícia Civil sobre sua personalidade levaram os internautas a chamarem o suspeito de 'serial killer'.

Um assassino em série é aquele que comete crimes com determinada frequência e tem um 'modus operandi' para agir, com características do crime que representam sua marca. 

A criminologista especialista em serial killers Ilana Casoy, que escreveu um roteiro sobre o caso de Suzane von Richtofen, afirmou ao portal G1 que esse não é o momento de definir o perfil psicológico de Lázaro.

"Ele é um fugitivo e precisa ser parado, ser preso porque é um cara de alta periculosidade, de grande experiência e está matando no caminho. Não é hora de pensar se ele é um serial killer, se teve uma infância traumática ou não, se ele é frio, psicótico, esquizofrênico, psicopata".

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