Marcola assume pela primeira vez que é chefe do PCC e fala sobre o racha na facção

Condenado a mais de 300 anos de prisão, o criminoso fala também lembrou a época em que ajudou um diretor controlar rebeliões em penitenciárias tomadas por faccionados

Pela primeira vez, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, assumiu que é chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em conversa gravada por advogados, e veiculada no programa Cidade Alerta, da TV Record, nessa segunda-feira (4). Apesar de ser de conhecimento geral, visto que ele é condenado a penas que somam mais de 300 anos de reclusão, o criminoso ainda não havia clamado, pelo menos publicamente, seu papel da organização. 

"E aí que eu me tornei o chefe do negócio [do PCC], porque antes disso aí eu não era chefe de nada", diz Marcola. Em gravação, ele fala sobre o racha interno da facção e como ajudou um diretor de presídio a controlar rebeliões em penitenciárias tomadas por faccionados. 

Conforme Marcola, ele chegou a ser levado de uma cadeia em Taubaté, São Paulo, pois o Estado "perdeu o controle das penitenciárias de SP". 

"Me deixavam solto lá na penitenciária para que eu administrasse. E nisso aí a gente fez uma amizade boa, ele levou meu irmão para lá. Só que meu irmão fugiu e levou 100 caras com ele", comenta. 

O chefe do PCC ainda se defendeu de crimes imputados a ele e diz que há acusações "genéricas". "O do Carandiru é o mais gritante de todos, porque nem subjetivamente dá para me colocar, porque o jornal não é prova de nada", relembra. Ele foi condenado a 152 anos por morte de presos na antiga Casa de Detenção do Carandiru, em 2001. 

Marcola está preso desde 1999, e já passou por penitenciárias de seis estados, por onde chegou a ficar isolado em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde o detento passa 22 horas por dia sem comunicação e em uma cela sozinho.  Atualmente ele está na Penitenciária Federal de Brasília. Neste ano, a família dele expressou preocupação com a saúde mental do detento. 

Racha no PCC e relação com Tiriça 

Ainda nas novas gravações de 2022 obtidas com exclusividade pela TV Record, Marcola fala sobre o racha da cúpula do PCC, e como foi enganado por um agente penitenciário. O condenado fala que estava na enfermaria tomando soro quando um agente se aproximou em uma "emboscada" com um gravador escondido. 

Marcola foi questionado sobre homicídios e sobre outros líderes do PCC, como Roberto Soriano, o Tiriça. Essa gravação escondida foi vazada e usada em um julgamento, que terminou com condenações de supostos parceiros. 

Em 2023, Tiriça foi condenado a quase 32 anos de prisão em 2023 por ser apontado como mandante da morte da psicóloga Melissa de Almeida. A mulher teria sido "escolhida" para morrer, pois trabalhava na penitenciária onde ele cumpria pena. 

No áudio gravado pelo policial penal durante o atendimento médico do chefe do PCC, Tiriça ainda é chamado de "psicopata" por Marcola. Esse fato teria irritado o criminoso, que junto a Abel Pachedo, o Abel Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, teriam decretado a expulsão de Marcola do PCC, e sua morte. 

Conforme a reportagem, entretanto, Marcola também fez o mesmo e decretou as mortes dos ex-comparsas por traição. No último dia 30 de outubro deste ano, o escritório do advogado de Tiriça foi atacado por criminosos. 

Uma gravação de Tiriça, na qual ele é perguntado sobre o poder de Marcola, ele fala: "Tudo isso é um misticismo que geram em torno dele. É uma situação completamente fantasiosa, porque ele não era meu líder, a minha liderança era o crime".