Legislativo Judiciário Executivo

STF: ex-ministro da Defesa cearense nega minuta do golpe e fala em divisão no Exército

Réu, o ex-ministro nasceu em Iguatu, no Interior do Ceará, e estudou no Colégio Militar de Fortaleza até a adolescência

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
(Atualizado às 10:17, em 11 de Junho de 2025)
Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa, durante interrogatório no STF onde nega minuta do golpe e fala em divisão no Exército
Legenda: Paulo Sérgio foi ministro da Defesa no Governo Bolsonaro
Foto: Fellipe Sampaio/STF

O cearense Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, 60, ex-ministro da Defesa, pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do processo que investiga tentativa de golpe após as eleições de 2022, no qual o militar é réu. No interrogatório, o general negou o acesso e a distribuição de uma “minuta do golpe” e revelou que, após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), temeu um racha no Exército.

O ex-ministro foi o sétimo e penúltimo interrogado, antecedido pelo ex-presidente. Já na primeira pergunta de Moraes, o militar apresentou o pedido de perdão. O magistrado questionou o réu sobre uma reunião ministerial em julho de 2022, quando Paulo Sérgio criticou a Justiça Eleitoral, colocou em desconfiança o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e sugeriu estar em guerra com a Corte.

“Quero me desculpar publicamente por ter feito as colocações naquele dia (...) Foram completamente inadequadas sobre o trabalho do TSE, e mais ainda olhar para Vossa Excelência, porque nós trabalhamos juntos. Quando vi o vídeo, posteriormente, eu não acreditei”, disse.

MINUTA DO GOLPE

Cearense Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa, ao lado de seu advogado durante depoimento ao STF
Legenda: O ex-ministro foi o sétimo e penúltimo interrogado, antecedido pelo ex-presidente
Foto: Fellipe Sampaio/STF

O general também foi questionado se teve acesso ou fez a distribuição aos comandantes das Forças Armadas da chamada “minuta do golpe”, onde constariam medidas autoritárias a serem adotadas após a tomada do poder. “Nunca tomei conhecimento ou recebi esse documento”, disse. 

Ele explicou ainda o relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. O documento, divulgado somente após o segundo turno das eleições de 2022, gerou debate por conta da ambiguidade, indicando que não era possível comprovar fraude nas urnas, mas não descartava totalmente a possibilidade de haver vulnerabilidades. 

  • Segundo Paulo Sérgio, a divulgação após o pleito ocorreu por conta da impossibilidade dos técnicos de confeccionarem o relatório logo após o segundo turno. 

“Eu gostaria muito de ter entregue, eu prometi e não entreguei. Tenho alguns documentos que dizem porque a gente postergou (...) Mas o presidente jamais me pressionou, seja para mandar o relatório só após o segundo turno, seja para alterar o relatório”, disse.

Paulo Sérgio também se disse arrependido da nota publicada, à época, pelo Ministério da Defesa em tom de réplica ao TSE. “Eu não fui legal nas palavras, eu queria desvincular o relatório de fraude. O que está na nota, está no relatório, mas eu quis esclarecer a finalidade da equipe, não tive nenhuma intenção de confrontar o TSE. Se fosse hoje, não teria feito essa nota ou teria feito com um tom mais ameno”, disse.

Sob interrogatório de Moraes, o ex-ministro precisou dar sua versão sobre uma reunião dos dias 7 e 14 de dezembro de 2022, quando supostamente foi discutido entre Bolsonaro, Paulo Sérgio e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a possibilidade de uma atuação dos militares para a garantia da ordem nacional. 

“Depois que terminou a reunião, acho que o Freire Gomes (então comandante do Exército) estava ao meu lado, alertei ao presidente da seriedade, da gravidade e das consequências de uma ação futura”, disse. 

DIVISÃO DAS FORÇAS ARMADAS

Após o encontro, o general disse que ficou “preocupadíssimo” e acompanhou a reação dos militares à derrota de Bolsonaro. "Eu temia uma fissura. Até mesmo dentro do três comandantes das Forças eu queria uma unidade, preservar a coesão e a disciplina", afirmou.

  • Paulo Sérgio também negou as declarações do ex-comandante da Aeronáutica, Batista Júnior, de que o então ministro da Defesa teria distribuído entre os chefes das três Forças a minuta do golpe.

“Eu nunca tratei e nem peguei em minuta para tratar com comandante de Força, para acompanhar ou corrigir. Tem uns dados que não fecham nesses depoimentos, digo isso porque nunca tratei de minuta de golpe com meus três comandantes”, acrescentou.

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MINISTRO DA DEFESA E O 'HACKER' DA ZAMBELLI

Imagem do hacker Delgatti para matéria sobre ex-ministro da Defesa cearense que, em depoimento no STF, negou qualquer contato
Legenda: De acordo com as investigações, Delgatti teria encontrado o general em diversas ocasiões
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Paulo Sérgio foi questionado por Moraes e negou contato direto com o hacker Walter Delgatti Neto, que foi condenado por invadir os sistemas digitais do Judiciário em parceria com a deputada federal Carla Zambelli (PL). De acordo com as investigações, Delgatti teria encontrado o general em diversas ocasiões e contribuído com o relatório sobre as urnas eletrônicas das Forças Armadas.

“Eu estava embarcando para Belém do Pará e o Bolsonaro me ligou dizendo que estava mandando um técnico, não um hacker, para falar comigo e ver o que ele tinha a acrescentar. Imediatamente eu liguei para um assessor e avisei que ia chegar um técnico”, narrou o ex-ministro da Defesa.

Segundo ele, seu assessor desconfiou que o “técnico” fosse um hacker, o atendeu em uma sala de visitas e logo em seguida o dispensou. “Não passou disso. Ele (Walter Delgatti Neto) disse que participou de quatro ou cinco reuniões comigo e que o relatório das Forças Armadas era baseado em ideias dele, não foi isso. Ele é um criminoso, tanto que está onde está”, concluiu.

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Quem é Paulo Sérgio Nogueira?

  • O ex-ministro, réu no processo, nasceu em Iguatu, no Interior do Ceará, e estudou no Colégio Militar de Fortaleza até a adolescência.

Sua carreira militar foi iniciada em 1974, aos 16 anos, quando ele foi selecionado para estudar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em São Paulo.

Paulo Sérgio também estudou na Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro, e foi declarado aspirante a oficial da arma de Infantaria em 1980.

Casado com Maria das Neves Paiva França de Oliveira, ele é pai de três filhos: Danilo, Rafael e Lucas.

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