Delgatti reafirmou acusações feitas em CPI e apresentou 'indícios de provas' à PF, diz defesa
Advogado de hacker também disse não poder falar sobre possível acordo de delação premiada por "estar em andamento"
Responsável pela defesa do hacker Walter Delgatti Neto, o advogado Ariovaldo Moreira disse que o cliente reafirmou à Polícia Federal, nesta sexta-feira (18), as acusações feitas durante depoimento à CPMI que investiga os ataques de 8 de janeiro. As informações são do g1.
Segundo ele, Delgatti também apresentou "indícios de provas" para ajudar os investigadores a confirmarem as acusações feitas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, entre outros.
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Ainda conforme Ariovaldo Moreira, o hacker apresentou à PF o áudio em que conversa com uma assessora de Carla Zambelli sobre possíveis pagamentos por serviços prestados ao governo e a descrição da sala no Ministério da Defesa, onde teria se reunido com técnicos da pasta para elaborar um relatório técnico sobre as urnas eletrônicas usadas em 2022.
"[Apresentou] Indícios de provas. A autoridade policial deve agora, nas investigações, encontrar as provas de que o Walter esteve na [sede do ministério da] Defesa", disse Moreira.
Na chegada à sede da Polícia Federal em Brasília, mais cedo, o advogado havia dito que era possível provar a presença de Delgatti Neto no Palácio da Alvorada, para reunião com o então presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2022, mas era "impossível" provar o conteúdo da conversa.
Sobre um possível acordo de delação premiada a ser firmado por Delgatti, Ariovaldo Moreira disse que não poderia comentar porque "está em andamento".
Delgatti está preso preventivamente desde o início de agosto em decorrência da Operação 3FA da Polícia Federal (PF). Ele é investigado por suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Foram apresentados seis requerimentos para a convocação de Delgatti no colegiado.
O que disse Delgatti à CPI?
Na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, Delgatti mencionou a participação direta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da deputada Carla Zambelli (PL-SP), entre outras figuras, em esquemas golpistas que antecederam os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Delgatti disse que o ex-presidente o ofereceu um indulto para que violasse medidas cautelares da Justiça e invadisse o sistema das urnas eletrônicas para expor supostas vulnerabilidade. O hacker disse ainda ter ido ao menos cinco vezes ao Ministério da Defesa a mando de Bolsonaro para tratar sobre suas propostas.
Segundo Delgatti, a proposta de indulto aconteceu em conversa com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e contou com a participação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e do coronel Marcelo Câmara.
"Sim, recebi (proposta de benefício). Inclusive, a ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado e como eu estava investigado pela (operação) Spoofin.
Grampo contra Moraes
Delgatti revelou também que foi contatado por Zambelli a mando de Bolsonaro para que assumisse a autoria de um grampo ilegal contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente teria garantido ao hacker que ele não seria preso por isso.
A conversa teria ocorrido via telefonema em 2022, antes do primeiro turno das eleições, com a intenção de minar a confiança da população no processo eleitoral.
Segundo Delgatti, ele foi informado que o grampo já havia sido realizado e que teria conversas comprometedoras do ministro.
Além do telefonema sobre o grampo de Moraes, Walter Delgatti revelou que Zambelli lhe pediu para invadir as redes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo.
“A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça ou do TSE em si. Alguma invasão que mostrasse a fragilidade do sistema de Justiça. Dizendo que seria uma ordem também do presidente (Bolsonaro). Porém, apenas a deputada me disse isso, não ouvi isso do presidente”, afirmou.
“Fiz a invasão do CNJ e de todos os tribunais do país. Tive acesso a todos os processos, a todas as senhas de todos os juízes e servidores e fiquei por quatro meses na intranet da Justiça brasileira”, completou. É por esse motivo, inclusive, que ele está preso desde o início do mês em São Paulo.
Defesa de Bolsonaro nega acusações
Após o depoimento de Delgatti à CPMI, a defesa de Jair Bolsonaro divulgou nota confirmando a reunião no Alvorada, mas negando o teor da conversa.
Disse ainda que entrará com uma queixa-crime contra o hacker, por "informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova".