Legislativo Judiciário Executivo

Sai Cid e volta Figueiredo: o que está em jogo no novo capítulo da crise no PDT Ceará

Cid e Figueiredo defendem a pacificação do partido no Estado, contudo, dirigentes e correligionário não conseguem se entender

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Cid Gomes e André Figueiredo
Legenda: Há menos de três meses, Cid e Figueiredo firmaram um acordo
Foto: Reprodução/PDT

Menos de três meses após assumir a presidência do PDT Ceará, o senador Cid Gomes foi destituído da função em meio a um novo capítulo da crise que se arrasta desde as eleições do ano passado. O agora vice-presidente do partido no Estado, que assumiu com promessas de pacificação, viu suas decisões serem questionadas por correligionários até na Justiça e terminou perdendo o comando da sigla por intervenção do presidente nacional do PDT, André Figueiredo.

Na primeira semana de julho deste ano, Cid e Figueiredo deram um passo para tentar acalmar os ânimos dentro da sigla. Em uma decisão que provocou insatisfações entre aliados dos dois mandatários, Figueiredo aceitou deixar a presidência do PDT Ceará até o fim deste ano para que Cid, vice-presidente do partido no Estado, comandasse a sigla no período.

Veja também

A proposta do senador era organizar as eleições no Interior e pacificar o partido. Em troca, ofereceu apoiar Figueiredo na reeleição dele ao comando do PDT Ceará, no fim do ano. O acordo começou a desandar quando Cid, durante reunião do diretório estadual do partido no último dia 25 de agosto, colocou para votação a carta de anuência para que o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão, pudesse deixar a sigla.

Com a decisão, Evandro estaria livre para disputar a Prefeitura de Fortaleza por outro partido, o que o colocaria em oposição ao pré-candidato pedetista José Sarto, que planeja disputar a reeleição. Logo após a decisão ser anunciada, Figueiredo disse que a anuência era “totalmente nula”. Segundo o dirigente, que é deputado federal no Ceará, “não existe a possibilidade de haver uma carta de anuência sem a aquiescência da direção nacional”.

O impasse foi parar na Justiça, onde Evandro Leitão tenta justificar sua saída alegando perseguição enquanto Figueiredo, que também é presidente nacional do PDT, nega.

Base ou oposição

Quase um mês após a reunião que deflagrou essa crise envolvendo a saída de Leitão, Cid convocou um novo encontro do diretório cearense do partido para a última sexta-feira (29). Na reunião, o senador pautou a decisão se o PDT Ceará é base ou oposição no Governo Elmano.

Oficialmente, o PDT adota uma postura de independência em relação ao Governo do Estado. Contudo, na prática, a ampla maioria já integra a base, tanto que o líder do Governo na Alece é o pedetista Romeu Aldigueri. Na Casa, dos 13 deputados do PDT, apenas Cláudio Pinho, Antônio Henrique e Queiroz Filho adotam postura de oposição. Já na bancada federal, só André Figueiredo.

Veja também

Na reunião do diretório estadual, o próprio Figueiredo, que estava presente, pediu que o assunto fosse retirado de pauta, o que foi atendido por Cid. 

No entanto, o tensionamento do encontro só aumentou até chegar a uma confusão generalizada. O estopim do bate-boca, segundo alguns parlamentares, ocorreu após uma fala de Roberto Viana, presidente nacional do Movimento Cultural Darcy Ribeiro, que questionou a condução do partido e fez menção ao pleito do ano passado. Cid Gomes se sentiu contrariado e rebateu.

Após a fala do senador, André Figueiredo saiu em defesa de Viana, o que gerou o embate entre as duas alas de pedetistas. Da calçada, onde a imprensa ficou, era possível ouvir Cid desejando "felicidades" a Figueiredo, que ameaçava deixar a reunião e criticava a conduta do senador.

Abandono da reunião

Em meio ao embate, o presidente nacional André Figueiredo e nomes ligados a Roberto Cláudio, que comanda o diretório de Fortaleza, deixaram a sede do partido em revolta após atritos com o grupo de Cid Gomes, presidente do diretório estadual. 

"Infelizmente, a reunião estava ótima. Infelizmente, não terminou bem, vamos tomar decisões porque não dá para conviver com ditaduras dentro da PDT. Resolvemos nos retirar para não ser coniventes com agressões descabidas contra companheiros nossos", assinalou Figueiredo. 

Ao ser questionado se o PDT nacional atuaria, ele respondeu que "vai ser resolvido", sem dar mais detalhes.

Veja também

No fim do encontro,  o senador Cid Gomes comentou sobre a acusação de conduzir o partido de forma autoritária.

"Se fui acusado, em minha defesa, o que eu faço é reunir as instâncias partidárias. Alguém pode ser ditador com essa característica? Eu faço reunião a cada 15 dias da Executiva. E faço uma reunião uma vez por mês do diretório. Isso é atitude de ditador? Em minha defesa, eu acho que eu não mereço esse título, não. Talvez não tenha sido também não, né? Talvez tenha sido para outro ente", disse o senador. 

"Foram feitos alguns informes de ações no partido: ar-condicionado, pintura e som novo. Depois, a gente fez um levantamento de potenciais candidatos em situação e em oposição pelo PDT. [...] Em seguida, nós colocamos essa questão polêmica de 'ser ou não ser'. Para mim, não é 'ser ou não ser' governo, para mim, é reaproximar, refazer uma aliança com o PT ou não", explicou.

"Isso é uma coisa que já ficou, a meu juízo, mal resolvida na eleição de 2022 e essa era uma oportunidade de a gente discutir. Então houve uma ponderação de que não fosse discutida agora e, em seguida, nós ficamos discutindo algumas coisas sem ser deliberativo, e aí os ânimos se acirraram e uma parte dos presentes resolveram se retirar", completou.

O senador afirmou que o debate sobre a relação com o grupo governista foi retirado de pauta a pedido de André Figueiredo. 

"Nós ficamos conversando sobre diversos assuntos, avaliando, vendo o passado, pensando no futuro e aí as intervenções mais acaloradas acabaram provocando manifestações mais duras, alguns se incomodaram, enfim, isso acabou acirrando os ânimos", concluiu. 

Destituição

Cumprindo a promessa que fez na sexta-feira, Figueiredo, de fato, tomou atitudes contra o correligionário. Nesta segunda-feira (2), o comandante nacional do partido resolveu destituir o senador Cid Gomes do comando estadual da legenda e voltou assumir a presidência da sigla no Ceará, acumulando as funções de presidente estadual e nacional.

André disse que ouviu correligionários dos diretórios estadual e municipal, além de Ciro Gomes, irmão de Cid, e Carlos Lupi, antes da decisão.

Veja também

“Não dá pra gente continuar convivendo com esse desarranjo institucional que está vivendo o PDT, inclusive com desrespeito a companheiros históricos do Partido. Por isso, após conversa com alguns companheiros do diretório regional, diretório municipal, com companheiro Ciro e companheiro Lupi e decidimos voltar à presidência do diretório estadual”, disse Figueiredo, para aplausos dos presentes.

Em nota enviada à editora e colunista de política do Diário do Nordeste, Jéssica Welma, Cid Gomes (PDT) disse ter sido surpreendido pela decisão de Figueiredo. Através da assessoria de comunicação, o senador afirmou ainda que deverá se reunir com lideranças do partido para definir quais serão os próximos passos.

O senador convocou reunião com aliados na tarde desta segunda-feira (2), em seu escritório na Capital.

Assuntos Relacionados