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Qual o peso das vitórias da oposição entre os maiores colégios eleitorais do Ceará em 2024

Embora tenha conseguido um número menor de prefeituras do que em 2020, oposição ainda disputa Capital

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Oscar Rodrigues, Glêdson Bezerra e Roberto Filho venceram candidatos apoiados pelo grupo governista
Legenda: Oscar Rodrigues, Glêdson Bezerra e Roberto Filho venceram candidatos apoiados pelo grupo governista
Foto: Luana Barros | Thiago Sousa/Divulgação | Wanderberg Belém

Os resultados das Eleições 2024 marcaram algumas vitórias consideradas históricas pela oposição ao Governo do Ceará. Terceiro e quinto maiores colégios eleitorais do Estado, respectivamente, Juazeiro do Norte e Sobral evidenciam o novo redesenho do grupo político que está do lado oposto ao campo liderado pelo ministro Camilo Santana (PT) e pelo governador Elmano de Freitas (PT).

Além dos dois casos no interior do Estado, o grupo de oposição pode faturar o comando da Prefeitura da Capital. Isso, porque André Fernandes (PL) chega ao segundo turno à frente de Evandro Leitão (PT) no número de votos, desbancando candidatos como o atual prefeito José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União). 

Na comemoração após o resultado da primeira parte do pleito, na noite do último domingo (6), o próprio candidato bolsonarista citou que conta com o apoio de Glêdson Bezerra (Podemos), reeleito em Juazeiro, e Oscar Rodrigues (União), vencedor em Sobral, na segunda etapa da disputa pelo Paço Municipal, o que reforça sua posição de destaque na oposição.

Para a coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC), Monalisa Soares, será preciso mais tempo para entender o panorama geral desses desempenhos, principalmente pensando de que forma isso pode se consolidar como um “projeto único de oposição” que pretende se fortalecer para o pleito de 2026.

“O peso dessas vitórias é significativo, elas sinalizam coisas para o grupo no poder, especialmente para o ministro Camilo Santana de um lado e para os Ferreira Gomes do outro. Mas, para dizer o quanto que elas vão impactar do ponto de vista do peso e da força das oposições, vamos ter que esperar para ver em que medida esses grupos vão conseguir se articular para compor de fato uma oposição ao grupo que está dominante no Estado, lê-se o ministro de Camilo Santana, que é uma grandessíssima liderança, e o senador Cid Gomes”
Monalisa Soares
Coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)

FIM DE UMA ERA

Na maior cidade da região Norte, Oscar Rodrigues (União) quebrou a hegemonia do grupo político dos Ferreira Gomes – há 28 anos na gestão da cidade, ao superar a concorrência da ex-governadora Izolda Cela (PSB), da ala governista. "Foi um trabalho árduo, muito difícil, realmente. Estávamos trabalhando contra a máquina [pública], uma máquina pesada, a gente sabe disso”, ressaltou após a eleição. 

Monalisa Soares avalia que a derrota de Izolda em Sobral é emblemática pelo fato dela ser uma candidata que condensava todo esse movimento do grupo mais situacionista, com apoio de Camilo e Cid. 

“É um caso em que você vê claramente um cansaço, digamos assim, de um acumulado de muitos anos de dominância do mesmo grupo político. É importante lembrar que as últimas eleições já vinham sendo mais competitivas, a de 2020 foi mais competitiva. Então, a gente chega agora em 24 também com a recomposição dessa competitividade e a vitória da oposição”, explica a pesquisadora. 

Por sua vez, Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), vê o resultado no município como simbólico ao indicar um processo de reordenamento das forças políticas e o enfraquecimento dos Ferreira Gomes, sobretudo de Cid. 

“A gente está vendo esse redesenho do quadro das forças políticas e eu acho que a quantidade de partidos que vai sair dessas eleições vai indicar um pouco a força ou a fragilidade desses grupos, e com foco nessas cidades que são chaves, tanto do ponto de vista do empenho que determinada liderança teve, quanto da base eleitoral histórica, do reduto eleitoral histórico, a exemplo de Sobral para os Ferreira Gomes e Fortaleza para Camilo Santana”
Monalisa Torres
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

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REELEIÇÃO INÉDITA E VITÓRIA NO CENTRO-SUL

No município da região do Cariri, Glêdson Bezerra (Podemos) fez história ao se tornar o primeiro prefeito reeleito. Na fala logo após conseguir o novo mandato, o político fez questão de reforçar a posição de opositor. Ele citou que sua campanha foi "simples" e sem muitos líderes políticos, ao contrário de Fernando Santana (PT), adversário que foi apoiado pelo grupo governista. 

O caso é representativo do ponto de vista da força das oposições, considera a coordenadora do Lepem da UFC. “É uma derrota significativa porque é a primeira reeleição, contra um candidato que o ministro do Camilo Santana se empenhou pessoalmente, diuturnamente na disputa”, complementa. 

Outro caso que anima a ala opositora vem de Iguatu, nono maior colégio eleitoral do Ceará. Roberto Filho (PSDB) será o novo prefeito do município da região Centro-Sul após superar, entre outros candidatos, o governista Ilo Neto (PT). A derrota ganha um peso maior por conta do racha político que levou à escolha do petista. 

A divergência na legenda desencadeou um conflito interno, ocasionando a desfiliação de Sá Vilarouca do PT, filiado havia quase 40 anos, e sua consequente entrada na eleição pelo PSB. Do outro lado, Ilo venceu a queda de braço no grupo governista ao receber o apoio de lideranças estaduais da sigla, como Camilo, Elmano e o líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães.

“No caso do Iguatu tem a ver com a dinâmica também muito local. Há um forte sentimento de rejeição à liderança do deputado [estadual] Agenor Neto, que foi prefeito já na cidade e isso, inclusive, foi o alvo de muita disputa em torno da candidatura do PT, com a situação de saída de petistas históricos, de militantes históricos do grupo político, porque houve a filiação do filho de Agenor [Ilo] para estar no partido”, analisa Soares.

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EMBATE DE FORÇAS POLÍTICAS

Embora os resultados sejam considerados históricos pela oposição, o desempenho é menor na comparação com a quantidade de prefeituras conquistadas entre os maiores colégios eleitorais em 2020. Na última eleição municipal, o grupo celebrou, pelo menos, cinco desfechos das urnas. 

Há quatro anos, as vitórias de Professor Marcelão (à época no Pros), em São Gonçalo do Amarante; Vitor Valim (também pelo Pros), em Caucaia; Roberto Pessoa (então PSDB), em Maracanaú; e o próprio Glêdson, que conquistou o seu primeiro quadriênio em Juazeiro, foram comemoradas por opositores. Destes, apenas o caririense não se uniu à base governista após o pleito, apesar de ter se aproximado de lideranças do PT nas eleições de 2022, como o adversário em 2024, Fernando Santana.  

À época, a oposição celebrou, ainda, o desempenho de Capitão Wagner na eleição pela Prefeitura de Fortaleza. Em 2020, o político chegou ao segundo turno e protagonizou uma disputa acirrada contra Sarto, que buscava seu primeiro mandato. 

Para Monalisa Torres, Juazeiro, embora seja do interior, é um município que tem uma economia forte, o que ajuda a explicar, em alguma medida, a resiliência do Glêdson em manter-se na oposição. Já para outros municípios menores, mais dependentes economicamente ou com problemas mais complicados de resolver, a exemplo de Caucaia, avalia a especialista, há mais incentivos para que os prefeitos se alinhem à máquina estadual.

“Há esses estímulos a mais que levam ao que a gente chama de ‘adesismo’, que é um alinhamento de lá e de cá. Um alinhamento, porque o governador também precisa dos apoios, dos votos para os deputados, mas também no contrário, os prefeitos também precisam das emendas, precisam desses acordos, dessas pontes mais bem montadas, mais bem construídas”, ressalta a professora de Teoria Política da Uece.

Na análise de 2020, Monalisa Soares salienta que quase todo o grupo de oposição que saiu vitorioso acabou sendo inativado ao longo do tempo, a exemplo de Valim e Marcelão – que, inclusive, disputou a eleição deste ano pelo PT. Mesmo assim, a especialista destaca que os resultados alcançados pela oposição em 2024 servem como um sinal de alerta para o bloco governista. 

“Em 2020, na época, o governador Camilo Santana buscou dirimir essas oposições, na medida em que, pelo seu poder de governo, pela sua capacidade de poder contribuir em alguma medida executivamente, ele foi distensionando determinadas oposições. E aí é muito importante a gente ver os próximos passos, em que medida o governador Elmano de Freitas terá condições de distensionar algumas dessas oposições. Se ele não conseguir, de fato, vai se tornando mais complexo o projeto de continuidade desse grupo para 2026”, pondera.

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