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Qual o papel de um vice na eleição e numa gestão municipal

Para a composição das chapas, acordos são feitos visando espaço na administração, manutenção de blocos políticos e apoio nos pleitos seguintes

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
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Legenda: A grosso modo, a função do vice-prefeito é auxiliar o companheiro de gestão e assumir sua função na vacância.
Foto: Reprodução/Google Maps

Nas eleições de 2024, em Fortaleza, há um fato inédito: a reedição da chapa vitoriosa do pleito anterior, com José Sarto (PDT) e Élcio Batista (PSDB). É uma situação sem correspondências desde a redemocratização, uma vez que o comum era que acontecessem rompimentos entre os prefeitos e vice-prefeitos da Capital ao longo do mandato.  

A grosso modo, a função do vice-prefeito é auxiliar o companheiro de gestão e assumir sua função na vacância. Para a composição das chapas, acordos são feitos visando não só espaço na própria administração – o que ajuda a construir experiência e capital político –, mas também a manutenção de blocos políticos e apoio nos pleitos seguintes. Quando essa receita desanda, alianças são estremecidas e uma nova dinâmica se estabelece. 

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A posição de vice-prefeito (ou candidato a) é um fator considerado nessa equação de peso eleitoral, máquina partidária e força de padrinhos e lideranças políticas. Não à toa, as candidaturas mais competitivas em Fortaleza até aqui deixaram para definir e anunciar seus vices às vésperas ou na própria convenção partidária, após ponderações com partidos aliados e com os próprios correligionários. 

É o caso de Sarto e Élcio, mas também de Evandro Leitão (PT) e Gabriella Aguiar (PSD); de Capitão Wagner (União) e Edilene Pessoa (União); de André Fernandes (PL) e Alcyvania Pinheiro (PL).

“Principalmente nos grandes centros urbanos, esse papel acaba sendo parte da negociação nas candidaturas porque a máquina administrativa é maior, então a gente consegue ver para onde o vice vai, onde e como ele está atuando desde o início do governo. [...] O partido espera que aquela liderança tenha um lugar estratégico dentro da prefeitura, que possa, de alguma maneira, contribuir e fazer disso um capital político”, comenta Paula Vieira, cientista política e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Eles vão negociando, gerenciando, disputando internamente esse lugar de vice, que também é importante. Eles também cumprem funções que podem ser direcionadas lá na frente para consolidar e ampliar a base eleitoral”, explica também Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece). 

A escolha de Élcio em 2020, na campanha a vice-prefeito, também considerou esses fatores. Ele passou a compor a chapa de José Sarto como uma indicação do então governador Camilo Santana (PT) por ter ocupado posições de confiança na gestão estadual, como a chefia da Casa Civil. Ele, inclusive, era filiado ao PSB à época. 

Quatro anos depois, o grupo político se desmembrou, PDT e PT foram para lados opostos, mas o vice-prefeito ficou. Nessa separação, o PSDB seguiu ao lado de Sarto e acolheu Élcio, que chegou ao comando estadual da legenda. Com esse quadro, a chapa de reeleição foi montada, mantendo os mesmos titulares, ainda que a coligação tenha mudado.

Histórico em Fortaleza é de rompimentos

O último rompimento expressivo no Executivo fortalezense foi entre Roberto Cláudio e o então vice-prefeito Gaudêncio Lucena (2013-2016). A cisão ficou evidente quando a Prefeitura exonerou secretários municipais peemedebistas, correligionários de Gaudêncio. 

Monalisa aponta que, ao menos na últimas quatro eleições municipais na Capital, os vencedores contaram com uma ampla coalizão, e isso pode dificultar a manutenção da união no bloco político. 

“Essa base vai se ampliando e chega um momento que tem desgastes e desentendimentos, principalmente quando a gente pensa do processo eleitoral. Há nomes que vão se fortalecendo ao longo da gestão, e no momento de decisão dessas candidaturas, há os rompimentos, os conflitos, as brigas, e aí a gente vê alguns aliados se transformando em adversários e migrando para o outro lado”, argumenta. 

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O histórico de rompimentos na Prefeitura desde 1985 começou na gestão de Maria Luiza Fontenele, a primeira prefeita eleita após a Ditadura Militar. Uma série de problemas na administração levaram a conflitos com o vice-prefeito Américo Barreira e resultaram, em 1988, na expulsão da prefeita do PT. A cisão também resultou em uma considerável baixa de ex-aliados do primeiro e do segundo escalão do governo municipal.

Mas esses não foram casos isolados. Naquele mesmo ano, Ciro Gomes (na época do PSDB) foi eleito para a Prefeitura de Fortaleza, mas deixou o cargo no biênio seguinte para assumir o Executivo Estadual, após campanha vitoriosa. O município passou a ser governado pelo então vice-prefeito Juraci Magalhães (PMDB), que estava rompido com os tucanos naquele momento por ter decidido apoiar outro nome nas eleições ao Palácio da Abolição. 

Foi assim também nos mandatos seguintes, com o prefeito Antônio Cambraia e o vice Marcelo Teixeira (1993-1996). Juraci também teve desentendimentos com os seus vice-prefeitos nas outras duas gestões que assumiu em Fortaleza, ao lado de Marlon Cambraia (1997-2000) e de Isabel Lopes (2001-2004) – esta, inclusive, deixou o antigo PMDB devido ao rompimento. 

Além deles, Luizianne Lins (PT) teve problemas com seus vice-prefeitos nos dois mandatos (2005-2008 e 2009-2012) no Executivo fortalezense. Com Carlos Veneranda, houve queixas sobre a falta de espaço na gestão, o que resultou na sua migração do PSB para o PDT e no apoio dado à candidatura de Patrícia Saboya em 2008 contra a petista.

Já com Tin Gomes, já no segundo mandato, a relação seguiu estável publicamente, mas as divergências ficaram visíveis quando ele ascendeu à Assembleia Legislativa em 2010 e renunciou à Vice-Prefeitura. 

Élcio na gestão

Já na segunda gestão Roberto Cláudio (2016-2020), a relação com o vice Moroni Torgan se manteve amigável até a sucessão a José Sarto (2021-presente). Ali, havia diferença na própria administração: foi no segundo mandato que o orçamento manejado pela vice-prefeitura aumentou em, no mínimo, 50%, além de Moroni ter conseguido indicar seu filho, Mosiah Torgan, como secretário de governo.

Apesar de o orçamento sob Élcio ter diminuído – mantendo-se, contudo, superior aos antecessores de Moroni –, a Vice-Prefeitura passou a dividir a chefia com o Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), órgão com status de secretaria. 

Além desse fator, o PSDB presidido por Élcio é, hoje, o partido com maior estrutura dentro do arco de aliança liderado pelo PDT, o que demanda um esforço maior pela sua permanência no bloco. 

“O PDT montou uma coalizão muito grande para 2012 e 2016 e, assim, conseguiu agregar muitos aliados. Em 2020, a gente viu um sufoco para manter essa coalizão unida. Hoje, o PDT está com poucas possibilidades desse ponto de vista, já que os partidos que agregam a coalizão são inexpressivos. Então quem, dentro desse arco de aliança inexpressivo, agrega? Quem teria esse potencial?”, indica a cientista política sobre o papel do PSDB na coligação. 

“O Élcio já é um nome que tá com ele (Sarto) há um tempo, é possível que eles tenham construído essa relação de confiança e tudo mais. [...] No caso dele, já há uma militância, um trabalho em Fortaleza, ele já exerceu outras funções, então isso agrega do ponto de vista do que se espera para uma candidatura de incumbente que quer ser competitiva no cenário de alta competitividade”, completa Monalisa.

Prefeitos e vice-prefeitos de Fortaleza (1986-atualidade)

  • Maria Luíza Fontenele (PT) e Américo Barreira (PT): 1986-1989;
  • Ciro Ferreira Gomes (PSDB) e Juraci Magalhães (PMDB): 1989-1990;
  • Juraci Magalhães (PMDB), sem vice-prefeito: 1990-1992;
  • Antônio Cambraia (PMDB) e Antônio Marcelo Teixeira Souza (PMDB): 1993-1996;
  • Juraci Magalhães (PMDB) e Marlon Cambraia (PMDB): 1997-2000; 
  • Juraci Magalhães (PMDB) e Isabel Lopes (PMDB): 2001-2004;
  • Luizianne Lins (PT) e Carlos Veneranda (PSB): 2005-2008;
  • Luizianne Lins (PT) e Tin Gomes (PHS): 2009-2012;
  • Roberto Cláudio (PSB) e Gaudêncio Lucena (PMDB): 2013-2016;
  • Roberto Cláudio (PDT) e Moroni Torgan (DEM): 2017-2020;
  • José Sarto (PDT) e Élcio Batista (PSB): 2021-hoje.

Conheça os candidatos à Vice-Prefeitura de Fortaleza em 2024

Alcyvania Pinheiro

Vice na chapa de André Fernandes (PL), Alcyvania Maria Cavalcante de Brito Pinheiro (PL) tem bagagem como secretária-executiva de Juventude e Esporte de Caucaia, secretária de Ação Social de Granjeiro e coordenadora do Procon da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).

Ela também é advogada e mestre em Direito Constitucional, além de ter experiência como professora universitária. 

Edilene Pessoa 

Edilene Pessoa (União) é titular do Conselho Tutelar VII, mas está afastada da função de 6 de julho a 6 de outubro para "concorrer a cargo eletivo". Ela, que também é nutricionista, foi eleita conselheira em 2023, com 1656 votos e tomou posse em 2024. 

O Conselho Tutelar VII abrange os bairros Quintino Cunha, Olavo Oliveira, Antônio Bezerra, Padre Andrade, Presidente Kennedy, Vila Ellery, Monte Castelo, São Gerardo, Parquelândia, Amadeu Furtado, Parque Araxá, Rodolfo Teófilo e Farias Brito. Ela é candidata a vice-prefeita ao lado de Capitão Wagner (União).

Roberto Santos

Dirigente sindical da construção civil, Roberto Santos (PCB) foi oficializado candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Chico Malta (PCB).

"A nossa candidatura é uma candidatura da esperança. É uma candidatura comunista, radical, classista e da construção do poder popular", afirmou Chico Malta.

Silvana Bezerra de Menezes  

Como companheira de chapa, o senador e candidato a prefeito Eduardo Girão (Novo) escolheu Silvana Bezerra de Menezes (Novo). Ela é viúva do ex-governador Adauto Bezerra, que integrou a tríade de coronéis – junto com Virgílio Távora e César Cals – que governou o Ceará durante a Ditadura Militar. 

Já Silvana disse que refletiu sobre a vida quando Girão a convidou para integrar a chapa. “Repensei o que a vida quer de mim. Quantas mulheres de valor tem nesta cidade e ele lembrar de mim, sem eu nunca ter feito uma propositura de estar junto dele para ser notada? Não é do homem, isso vem de Deus”, justificou.

Gabriella Aguiar

A deputada estadual Gabriella Aguiar (PSD) concorre à Vice-Prefeitura de Fortaleza na chapa de Evandro Leitão (PT). Apesar de ter disputado o primeiro cargo eletivo em 2022, a médica vem de uma tradicional família na política: é filha do ex-vice-governador Domingos Filho, e da prefeita de Tauá, Patrícia Aguiar; irmã do deputado federal Domingos Neto; e neta de Domingos Aguiar, ex-prefeito de Tauá. 

Antes de entrar na vida pública, ela se dedicou à especialização em geriatria e teve experiência como professora universitária.

Rachel Girão

A advogada Rachel Girão (SD) é candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo ex-deputado George Lima (SD). Ela é estreante na política, mas adiantou à imprensa algumas prioridades de sua campanha.

“Quero usar o meu papel como mulher, que sempre advoguei, sempre exerci a profissão, sempre trabalhei em prol dos menos favorecidos, dos mais vulneráveis, e agora vou poder trabalhar e poder lutar por isso de uma forma mais ativa”, disse.

Élcio Batista

Atual vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista (PSDB) busca a reeleição ao lado de José Sarto (PDT). Ele também ocupa cargo de superintendente do Instituto de Planejamento (Iplanfor).

Além disso, tem em seu currículo a chefia de gabinete do ex-governador Camilo Santana (PT) e da Casa Civil do Governo do Ceará entre 2015 a 2020. Também compôs a gestão do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) como secretário municipal da Juventude.

Cindy Carvalho  

Cindy Carvalho (Rede) chegou a ser pré-candidata à Prefeitura de Fortaleza, mas devido às vedações do modelo de federação partidária, que unifica a campanha da Rede com o Psol, abdicou da cabeça da chapa majoritária para compor como candidata a vice-prefeita. Ela acompanha o produtor cultural Técio Nunes na composição.

Além de ser presidente da Rede no Ceará, Cindy é conselheira do Conselho Estadual da Juventude no Estado (Conjuce) e do Conselho Municipal de Juventude (CMJ). Durante convenção partidária, alertou apoiadores: "não espere que eu seja coadjuvante de nada".

Malu Costa

A dirigente sindical Maria de Lourdes Gonçalves da Costa, a “Malu Costa” (PSTU), também compõe o grupo de candidatas mulheres à Vice-Prefeitura de Fortaleza. A composição conta, ainda, com o sindicalista Zé Batista, da mesma agremiação.

Em 2024, ela é estreante em pleito eleitoral. Mas a sua trajetória política começou no Sindicato dos Trabalhadores em Informática. Depois, passou pelo Sindicato dos Servidores Públicos de Fortaleza (Sindifor) — onde foi diretora entre 2004 e 2012 —, pelo Sindicato dos Servidores de Proteção e Defesa Civil — onde é presidente licenciada —, pela Diretoria Executiva da CSP-Conlutas e pelo Movimento Mulheres em Luta.

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