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Como a avaliação do Governo Lula mexe com os planos políticos no Ceará a um ano das eleições

Cientistas políticos avaliam como a recuperação de popularidade do presidente pode impactar os movimentos governistas e oposicionistas locais em 2026

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
Lula e Elmano lado a lado em cima de um palco. Lula veste uma peça cearense de Espedito Seleiro
Legenda: Em 2022, Elmano estabeleceu uma parceria com Lula na campanha que impulsou o desempenho do cearense
Foto: Divulgação/Governo do Ceará

A recuperação da popularidade do presidente Lula (PT), apontada pela nova rodada da pesquisa Quaest, reacendeu o otimismo entre governistas e ligou o alerta na oposição, que pretende barrar a reeleição do governador Elmano de Freitas (PT).

O movimento tem peso particular no Ceará, uma das principais vitrines do PT no País. É o único Estado onde o partido comanda, ao mesmo tempo, o Governo e a Prefeitura da Capital. Por isso, o desempenho de Lula tende a influenciar diretamente os planos políticos de 2026.

“No cenário cearense, um Lula bem avaliado certamente será positivo para o grupo governista, pois fortalece o discurso dos benefícios do alinhamento político entre governo estadual e federal, a chamada aliança Lula–Camilo–Elmano”, afirma Pedro Barbosa, cientista político e diretor técnico do Instituto Opnus de Pesquisa.

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Nas eleições de 2022, a unidade entre os governos federal e estadual, sob liderança do ministro Camilo Santana (PT), do governador Elmano de Freitas e do presidente Lula, funcionou como mote de estabilidade e continuidade. Impulsionado pela boa avaliação do Governo Camilo e pela onda lulista pelo País, Elmano foi eleito ainda no primeiro turno.

O professor Marcos Paulo Campos, da Universidade Vale do Acaraú (UVA) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece), avalia que o governador seguirá beneficiado por essa relação, mas agora dependerá mais dos resultados próprios.

“Agora, ele também vai depender dos próprios resultados no Governo, não vai bastar só a relação com o Governo Federal. Nesse sentido, Elmano não está em seu pior momento, pelo contrário, ele tem conseguido manter a aliança e um nível razoável de aprovação (...) enquanto a oposição ainda aparece dividida. Mesmo fortalecida nas eleições municipais, ela não está organizada para enfrentá-lo”
Marcos Paulo
Professor da UVA e da Uece

O que a pesquisa Quaest revelou?

Realizada entre os dias 2 e 5 de outubro, com 2.004 entrevistados, a pesquisa Quaest mostrou que Lula mantém ampla vantagem sobre seus principais adversários em um eventual segundo turno. O petista tem 9 pontos à frente do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), e 10 pontos sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que segue inelegível. Também supera o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) por 12 pontos.

Entre os nomes testados, Lula é o menos rejeitado: 51% dos eleitores afirmam que não votariam nele “de jeito nenhum”, contra índices acima de 60% entre os adversários. A Quaest indicou ainda uma melhora na avaliação do governo: Lula tem 48% de aprovação e 49% de desaprovação — um empate técnico, o melhor resultado desde janeiro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%. 

Por que os índices melhoraram?

Para o professor Marcos Paulo, a melhora é resultado da combinação de fatores políticos e econômicos. “É importante lembrar que o presidente fez uma minirreforma ministerial e levou para o Palácio do Planalto a ministra Gleisi Hoffmann, trocou o ministro da Comunicação e dialogou com ministros do Centrão sobre fidelidade (...) Além disso, houve uma melhora da inflação e uma mobilização intensa do governo para reagir ao tarifaço de Donald Trump”, observa.

Segundo ele, o momento positivo de Lula também coincide com a piora da situação jurídica do seu maior adversário, Jair Bolsonaro, e de generais envolvidos no plano de golpe (de 8 de Janeiro de 2023), o que fragilizou ainda mais a oposição.

Lula discursa no púlpito da ONU. Ele veste um paletó
Legenda: Durante participação na Assembleia Geral da ONU, Lula encontrou o presidente Donald Trump e estreitou contato com o norte-americano
Foto: Ricardo Stuckert / PR

O tarifaço e a queda no preço dos alimentos também foram apontados pelo cientista político Pedro Barbosa para explicar a reação do governo diante da queda de popularidade. Segundo o analista, no caso da retaliação do governo norte-americano, o ônus do desgaste atingiu a imagem da família Bolsonaro, já o preço dos alimentos é um fator decisivo por gerar um efeito imediato no cotidiano da população.

Outro elemento foi “a aprovação pela Câmara do aumento do número de deputados e da PEC da Blindagem, que reforçaram o discurso de que a esquerda está do lado dos pobres e a direita e o Centrão defendem os ricos e a manutenção de privilégios”, acrescenta Pedro Barbosa.

Efeitos nas articulações para o Senado

O avanço da popularidade de Lula deve pesar também nas articulações para o Senado e na tentativa do Palácio da Abolição de manter ou ampliar sua base de apoio. Hoje, o grupo governista tem quase dez nomes cotados para a disputa, incluindo do próprio PT, enquanto legendas aliadas buscam se fortalecer para não ficarem em segundo plano na formação das chapas.

Paralelamente, lideranças governistas tentam ampliar ainda mais a base. Uma das ofensivas do governo estadual é agregar a recém-formada União Progressista — federação entre Progressistas e União Brasil —, que pode se tornar um dos novos pilares de apoio a Elmano.

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Diante dessa queda de braço, Pedro Barbosa reforça que as siglas que integram o chamado “Centrão” podem atuar de forma mais cautelosa a partir dos resultados da pesquisa.

“Já estamos vendo muitos casos de divisões internas nos partidos, com alas pró e contra Lula. No caso do Ceará, uma escolha por se posicionar como oposição a um presidente bem avaliado pode custar votos”
Pedro Barbosa
Cientista político e diretor técnico do Instituto Opnus de Pesquisa

Segundo ele, com Lula em alta, esses partidos de centro tendem a agir de forma pragmática. “Eles tendem a privilegiar a eleição de deputados, assim, nos estados, é provável que muitos sigam a estratégia que dê melhores resultados, independente das alianças para a eleição presidencial”, completa.

Marcos Paulo compartilha essa análise e acrescenta que o bom desempenho do governo federal tende a “turbinar aqueles que estiverem aliados a ele na construção dos palanques”. 

Para ele, a melhora na popularidade de Lula e o avanço em pautas como a justiça tributária e a isenção do Imposto de Renda “criam uma zona de atração para partidos e lideranças que estavam na órbita, além de favorecer o fechamento de alianças sobretudo nos estados onde o presidente é mais forte, como o Nordeste”.

Peso de Lula na reeleição de Elmano

Com o governador Elmano de Freitas mirando a reeleição, a dúvida é até que ponto a boa fase de Lula pode se converter em capital político local. 

“É inegável que a percepção de que o governo Lula vai bem fortalece o grupo governista local, que não só é aliado, mas é do mesmo partido e conta com Camilo Santana à frente de um dos mais importantes ministérios”, diz Barbosa.

Lula, Elmano e Camilo em uma picape fazendo campanha, os tres vestem branco
Legenda: Lula participou ativamente da última campanha de Elmano
Foto: Ricardo Stuckert

“A melhora da aprovação de Lula será boa para todos os governadores e senadores do PT, porque a marca do partido é muito identificada com o próprio Lula. No caso do Elmano, ele também será beneficiado, porque o governo dele é visto como uma reprodução das diretrizes nacionais e parte da grande aliança petista”, avalia Marcos Paulo.

Apesar disso, ambos ponderam que a conversão desse apoio depende do desempenho do próprio governo estadual. “A popularidade de Lula não será mais tão central quanto foi na eleição passada. Em 2018, como Elmano era pouco conhecido, o voto que recebeu dos eleitores decorreu em grande medida da confiança na liderança de Camilo Santana e num voto de esperança no retorno de Lula à presidência”, conclui Barbosa.

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