CMFor ainda vai analisar veto de Sarto que impediu ocupação de área de prédio na Maraponga
Gabinete do Prefeito barrou, mas decisão pela manutenção ou derrubada da proibição cabe aos vereadores
Tramita na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) um veto do ex-prefeito José Sarto (PDT), enviado em janeiro deste ano pelo atual mandatário, que barra um projeto de lei de autoria do vereador Paulo Martins (PDT) que modificaria o Plano Diretor e flexibilizaria a ocupação imobiliária nas margens da Lagoa da Maraponga.
Na terça-feira (5), um prédio residencial irregular foi demolido pela Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) na região. As equipes de fiscalização apontaram que o empreendimento invadiu a Zona de Preservação Ambiental 1 (ZPA 1), específica para proteção permanente de recursos hídricos, e aterrou a lagoa.
Segundo a proposição vetada pelo Gabinete do Prefeito, perímetros da margem da lagoa limitados pelas ruas Bibio Frota e Nereu Ramos, atualmente considerados Zona de Recuperação Ambiental (ZRA), seriam uma Zona de Requalificação Urbana 1 (ZRU 1), facilitando a ocupação.
Além disso, conforme o texto, a ZPA 1 — invadida pelo condomínio demolido — passaria a ser circunscrita num trecho de 30 metros a partir da margem superior, reduzindo a faixa de proteção em alguns pontos ao redor do recurso hídrico.
No Sistema de Apoio ao Processo Legislativo (SAPL), utilizado pela CMFor para a tramitação de matérias, não há documento que mencione os argumentos utilizados pela administração municipal para vetar a proposta. Atualmente, a proposição consta como “autuada e cumprindo prazo para inclusão na pauta”.
O que são essas zonas
De acordo com o Plano Diretor, entre outras finalidades, a ZPA visa a preservação de sistemas naturais, a promoção e realização de estudos e pesquisas científicas, o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, o turismo ecológico e a preservação de sítios naturais.
A ZRA, por sua vez, é composta por áreas parcialmente ocupadas e com atributos ambientais relevantes em processo de degradação. Elas são voltadas para a conservação e recuperação ambiental, a proteção de ambientes naturais, entre outros objetivos.
A ZRU 1 é caracterizada pela insuficiência ou precariedade da infraestrutura e dos serviços urbanos, principalmente de saneamento ambiental, carência de equipamentos e espaços públicos. No rol de objetivos desse tipo de zoneamento está o estímulo da dinamização urbanística e socioeconômica.
Autor justificou 'legalização'
Na justificativa do projeto de lei vetado, o autor argumenta que a área que foi objeto da alteração proposta “possui ocupação consolidada há décadas”. Assim, seu intuito seria “legalizá-la”, “trazer para dentro da lei o que de fato já existe”.
Ainda defendendo a aprovação, em outro trecho, ele diz que “o entorno da lagoa não apresenta mais a vegetação pioneira, tendo passado por profundas modificações em sua paisagem natural, em consequência do processo de ocupação pela urbanização”.
Sobre a redução da Zona de Proteção Ambiental ao redor da Lagoa da Maraponga, Paulo Martins alegou que o nível atual da lagoa seria “artificial” em função de um “barramento” existente no local.
O parlamentar sustentou que a linha de margem “artificial” seria “bastante prejudicial aos moradores do entorno da lagoa que viram a faixa de 30 metros de preservação ambiental avançar sobre suas terras”. De acordo com ele, a modificação sugerida não seria “significativa”.
O pedetista acusou ainda que no local estão “fragmentos ambientais isolados” que “perderam a função ambiental em relação à Lagoa da Maraponga”. Segundo ele, “não há justificativa ambiental” para a área pertencer à Zona de Recuperação Ambiental.
Da mesma maneira, ele afirma não haver “justificativa ambiental e legal” para que a Zona de Preservação Ambiental na margem da lagoa “seja maior que o que determina a legislação ambiental”. É citado como base para essa afirmação o Código Florestal Brasileiro.
Projeto vetado atingiu outras áreas
No decorrer da tramitação na Câmara Municipal, os parlamentares aprovaram emendas dos vereadores Gardel Rolim (PDT) e Emanuel Acrízio (Avante), que modificam o zoneamento de áreas nos seguintes bairros:
- Edson Queiroz — passando uma área aos fundos do Centro de Eventos de Zona de Ocupação Moderada 2 (ZOM 2) para Zona de Ocupação Moderada 1 (ZOM 1). Por força da alteração, poderia ser objetivada também a regularização urbanística de núcleos habitacionais de interesse social existentes e ações de recuperação de assentamentos de interesse social. Mas seria permitida uma altura máxima maior das edificações e maiores índices de aproveitamento máximo e aproveitamento básico pelas construções.
- Lagoa Redonda — mudando um trecho da Zona de Ocupação Restrita (ZOR) existente para Zona de Ocupação Moderada 2 (ZOM 2) e outro (onde está o Condomínio Portal da Lagoa, que margeia a Lagoa da Precabura) de Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) para Zona de Ocupação Restrita (ZOR). As medidas afrouxam as limitações relacionadas com a ocupação por construções.
- Canindezinho — alterando a parte da Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) localizada entre o Rio Maranguapinho e Avenida General Osório de Paiva para Zona de Requalificação Urbana 2 (ZRU 2).
Outros vetos
A decisão final, que definirá pela manutenção ou derrubada do veto, cabe aos vereadores. E ele não é o único projeto que versa sobre a legislação ambiental que aguarda apreciação, já que estão nesta condição vetos do ex-prefeito Sarto sobre matérias relacionadas com o Plano Diretor, já que ao menos quatro recusas estão nesta condição.
As propostas vetadas — integral ou parcialmente — trazem procedimentos para a cessão de atividades nocivas na Zona de Orla, mudanças nas regras sobre a concessão de outorga onerosa e o zoneamento de poligonais na Varjota, no Edson Queiroz, na Serrinha, na Praia do Futuro, no Luciano Cavalcante, na Messejana e na Sapiranga.
Em 1º de agosto, o presidente do Legislativo municipal, o vereador Leo Couto (PSB), ao ser indagado sobre a apreciação dos vetos, afirmou existir tratativas com “muita responsabilidade” e “transparência” para viabilizar o andamento. “[A gente] dialoga para que todas as matérias sejam pautadas e colocadas no rito normal”, falou.
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