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A saga do PDT no Ceará: entenda a crise que levou à troca de comando de Figueiredo para Cid Gomes

O senador vinha disputando o comando do diretório estadual com o deputado federal André Figueiredo, agora licenciado do cargo

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Cid Gomes e André Figueiredo
Legenda: Cid Gomes e André Figueiredo disputam a presidência do PDT no Ceará
Foto: Fabiane de Paula

A disputa pela presidência do PDT Ceará entre o deputado federal André Figueiredo (PDT), apoiado pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), e o senador Cid Gomes (PDT) chegou a uma solução depois de semanas de impasse. Figueiredo confirmou, nesta quinta-feira (6), que irá se licenciar da presidência do diretório estadual para que Cid — que é o primeiro vice-presidente — possa assumir o comando até o final de novembro. 

Em contrapartida, segundo o deputado, Cid irá apoiá-lo na eleição para um novo mandato à frente do PDT Ceará, agendada para dezembro desde ano. "Nós vamos priorizar as eleições municipais nesse período em que o Cid estará à frente da presidência do partido", ressaltou Figueiredo, em entrevista ao Diário do Nordeste

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A decisão ocorreu após reunião entre Cid Gomes, André Figueiredo e o presidente nacional do PDT e ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), na quarta-feira (5). Com isto, a reunião extraordinária do diretório estadual convocada por aliados de Cid Gomes para esta sexta-feira (7) foi cancelada. A previsão era que a reunião discutisse exatamente a troca de comando da sigla, com indicativos de que poderia haver a destituição de Figueiredo.

A aproximação da reunião fez com que, na última segunda-feira (3), a Executiva nacional tivesse decidido por realizar uma intervenção, tomando para si as competências do diretório estadual nesta segunda-feira (3). Com isso, "nenhuma decisão no estado do Ceará será reconhecida sem necessariamente passar pela direção nacional", ressaltou Figueiredo no dia. 

O Diário do Nordeste lista os principais momentos para entender o impasse pela presidência do diretório estadual do PDT - mais um episódio da crise interna vivida pelo partido no Ceará.

'Represento sentimento majoritário no Ceará'

O senador Cid Gomes falou pela primeira vez sobre o desejo de presidir o PDT Ceará no último dia 5 de maio, em encontro do Consórcio Nordeste realizado em Fortaleza. Na época, após o prefeito de Aracati, Bismarck Maia (PDT), assumir o Podemos no Ceará, houve a especulação de que Cid poderia estar de saída do PDT. 

"Zero plano. Ao contrário, estou cada dia mais motivado no PDT. Ocupo hoje a liderança do PDT no Senado, feliz, animado e entusiasmado com essa responsabilidade. Tenho um desejo, acho que não por vaidade pessoal, acho que represento hoje o sentimento majoritário do PDT aqui, no Ceará, em relação aos assuntos cearenses, e tenho a pretensão de vir a presidir o partido. Quem tem essa motivação, obviamente não está pensando em sair", respondeu o senador.

A declaração foi seguida de manifestações de apoio de parlamentares do PDT que integram a base do governador Elmano de Freitas. O presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, chegou a dizer que Cid assumir o partido "talvez seja o único caminho" para uma unificação da legenda no Ceará

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Um dos argumentos utilizados por aliados do senador é de que André Figueiredo estava acumulando a presidência do PDT nacional e do Ceará. Cid é o primeiro vice-presidente do PDT Ceará. 

Encontro regional do PDT

Do outro lado, pedetistas ligados a Ciro Gomes e ao ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), passaram a defender a permanência de André Figueiredo no comando do partido. Um dos momentos em que essa defesa ganhou destaque foi na abertura do Encontro Regional do PDT. 

"Se o André hoje tem antagonismos dentro do PDT, acreditem, não é pelos defeitos do André, é pelas virtudes do André, pelo compromisso canino com o PDT. (...) André, você conta comigo, nós precisamos de você em nome da unidade do partido", ressaltou Ciro, durante o discurso.

Para Roberto Cláudio, Figueiredo é "a única liderança capaz hoje de dialogar com as diferenças com as quais o PDT convive hoje". Para o ex-prefeito, que preside o PDT Fortaleza, as "diferenças que perseveram" no partido atualmente são frutos de "um pedaço minoritário do partido que não seguiu a decisão de candidatura a presidente" nas últimas eleições. 

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O encontro, por sinal, foi outro momento em que ficou nítido o racha pelo qual o partido passa. Após uma reunião realizada, durante a tarde do dia 22 de junho, entre André Figueiredo e Cid Gomes acabar sem consenso sobre a presidência do partido no Ceará, Cid Gomes cancelou a ida ao evento e aconselhou aliados a fazer o mesmo, o que acabou esvaziando o encontro. 

No dia seguinte, Figueiredo voltou a falar do "momento difícil" vivenciado pela sigla e que iria "lutar até o fim pela unidade". "Mas se não tiver unidade, o que a gente pode fazer? Vamos para o enfrentamento. Isso é muito ruim. Não posso dizer que estou confortável com essa situação, porque verdadeiramente não estou", disse.  

Entrevista de Ciro Gomes

Pouco antes do encontro regional, o ex-ministro Ciro Gomes concedeu entrevista exclusiva ao PontoPoder. As críticas feitas por ele a ex-aliados, como o ministro da Educação, Camilo Santana (PT) e a ex-governadora Izolda Cela e ao próprio irmão Cid Gomes, também aumentaram a tensão dentro do partido. 

Desde a campanha eleitoral de 2022, parte dos parlamentares estaduais e federais do PDT continuam alinhados a Camilo, ao governador Elmano de Freitas e defendem o retorno da aliança entre PDT e PT no Ceará. 

Isso se reflete no apoio da bancada do PDT à gestão estadual. Apesar do ex-candidato ao Governo do Ceará, Roberto Cláudio, e do próprio André Figueiredo serem oposição ao Governo Elmano, 10 dos 13 deputados estaduais do PDT integram a base aliada - incluindo o líder do Governo, Romeu Aldigueri (PDT). 

Na bancada federal, quatro dos cinco deputados federais também são aliados ao petista, assim como o único senador do partido. Além disso, três secretários estaduais são do PDT: Robério Monteiro, Salmito Filho e Oriel Nunes. 

Cid reúne integrantes do PDT Ceará

Após a decisão de não comparecer ao encontro regional do PDT, Cid Gomes convocou reunião com integrantes do diretório estadual do partido para a última segunda-feira (26). Na ocasião, ele reuniu dezenas de prefeitos e a ampla maioria dos parlamentares estaduais e federais do partido. 

Na ocasião, foi assinado documento para uma convocação extraordinária do diretório estadual com objetivo de discutir a mudança da presidência do partido. O documento contou com apoio de 53 dos 81 integrantes do diretório, segundo pedetistas. Cid defendeu que a pressão pela mudança na direção partidária é uma cobrança de pedetistas.

"Parece que eu estou disputando presidência do PDT, não é assim. Eu estou sendo solicitado, demandado. Muita gente entende que eu sou a pessoa que pode ajudá-los nessa hora difícil pelo qual membros do partido, vereadores, prefeitos, estão passando. É desagradável para mim, não estou pleiteando presidência, isso não é nenhum troféu, o que eu quero é que o partido esteja bem e tranquilo e que a gente compreenda que a nossa luta deve ser pra fora, e não uma luta fraquecida, uma luta interna".
Cid Gomes
Senador

Durante o encontro, por ligação, Carlos Lupi chegou a pedir mais tempo para tentar chegar a um consenso. Foram marcadas outras duas reuniões para o mesmo dia: uma entre Lupi, Cid e Figueiredo e a outra com uma comissão formada por integrantes do diretório estadual aliados de Cid e o ministro. 

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Contudo, a primeira reunião acabou não durando muito. Na saída, Figueiredo disse que foi um momento "descontraído" e ratificou que o mandato dele na presidência do PDT Ceará vai até dezembro. 

"A ideia que o Lupi tem é que a gente vá dialogando, mas que meu mandato, que vai até dezembro, seja respeitado. A ideia é essa porque não existe um fato concreto que justifique a convocação do diretório para me destituir da presidência, não tem fato concreto, mas vamos dialogar, vamos conversar", disse na data. 

Carlos Lupi está reunido com pedetistas em hotel em Fortaleza
Legenda: Carlos Lupi está reunido com pedetistas em hotel em Fortaleza
Foto: Luana Barros

Lupi, que desembarcou em Fortaleza apenas para as reuniões sobre o impasse no partido, falou que a sua tarefa era "buscar a unidade partidária" e que, para isso, iria procurar dialogar com as lideranças do PT. 

"Semana que vem vou procurar o Camilo, que é um dileto e fraterno amigo, junto com o Cid, depois vamos procurar também o Elmano. Nessas horas, quando as coisas estão mais acirradas, é o momento de encontrar a unidade partidária, minha tarefa é buscar essa unidade", disse Lupi, ao Diário do Nordeste, após as reuniões na capital cearense. 

Intervenção nacional do PDT Ceará

Na segunda-feira (3), a Executiva nacional do PDT resolveu, por 7 votos e 2 abstenções, pela intervenção no diretório estadual no Ceará. A decisão é uma resposta à convocação extraordinária feita por aliados a Cid e chamada, por Figueiredo, de "ilegal". 

"Houve uma convocação ilegal de uma reunião do diretório pra destituir a atual Executiva (estadual). Não existe previsão estatutária, em nenhum local, que justificasse essa convocação, e consequentemente a Direção Nacional avocou para si a gestão do PDT no Ceará, neste momento, onde existem esses imbróglios esperando ser superados", disse o senador ao sair da reunião, na sede nacional do PDT, em Brasília.

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Cid, por sua vez, afirmou que trecho do Estatuto do PDT prevê que o diretório estadual pode se autoconvocar com o aval de 1/3 dos membros. Segundo ele, 63% dos membros aceitaram a convocação. Por conta disso, o senador contestou a intervenção nacional e disse que está mantida a reunião do diretório estadual para a próxima sexta-feira.

"Se o Diretório Nacional quiser tomar qualquer outra medida, muito bem, cabe ao Diretório Nacional, à Executiva Nacional. Mas o nosso entendimento é de que o artigo 67 do estatuto não permite a Executiva nacional intervir, como está noticiado, no diretório estadual", disse o senador. 

Troca de comando

Na quarta-feira (6), uma nova reunião da cúpula nacional do partido começou a indicar um possível acordo para o impasse. No encontro, foi discutida a possibilidade de afastamento de Figueiredo para que Cid assumisse o comando da sigla no Ceará.

Na quinta-feira (7), o acordo foi anunciado. O próprio deputado federal confirmou que decidiu ceder a a presidência da legenda no Ceará ao senador até novembro. Em entrevista ao Diário do Nordeste, Figueiredo pontuou ainda que o acordo prevê que ele retorne ao posto no fim de novembro, quando vai novamente disputar a presidência do PDT Ceará em chapa única apoiada por Cid.

A decisão, segundo Figueiredo, visa "pacificar" o partido. 

"Creio que isso pacifica. Nós vamos priorizar as eleições municipais nesse período em que o Cid estará à frente da presidência do partido. Ele vai se encarregar das eleições municipais no interior do Estado e nós vamos tratar, lógico, através do prefeito Sarto e do ex-prefeito Roberto Cláudio, presidente do diretório de Fortaleza, as eleições em Fortaleza pra que nós possamos continuar fazendo do PDT o maior partido do Ceará", explicou.   

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