Transnordestina e rodovias do Ceará: como ficam os projetos na transição de governos?
Obras de rodovias podem sofrer novas paralisações ou continuar sem resolução; Transnordestina não deve ser impactada
Os momentos de transição de governos costumam ser períodos de adaptação turbulentos algumas vezes, especialmente quando oposição assume o poder. Não é raro ver projetos e políticas públicas serem descontinuadas. Entre pautas importantes para o desenvolvimento econômico do Ceará, a infraestrutura logística é um dos focos que pode sofrer prejuízos, ao menos num primeiro momento.
O presidente do Conselho Temático de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Coinfra/Fiec), Heitor Studart, pontua que o setor industrial espera um momento de hiato na continuidade de projetos em andamento e lançamento de novos.
A pausa seria em decorrência da nomeação de ministros e secretários, que devem tomar possem apenas em janeiro, além do retorno das atividades da Assembleia, que só retomam em fevereiro, e a conclusão do Orçamento, em meados de março e abril.
"Só nisso aí já vamos para quase meio ano. A (demora na) retomada dos estudos nos preocupa e achamos que os eixos estruturantes do Ceará sofrerão impactos", afirma.
No segmento rodoviário, apesar de os problemas mais urgentes a resolver serem as obras do Anel Viário e da CE-155, ambas sob responsabilidade do governo estadual, ainda há intervenções em andamento nas BRs 116, 020, 222 e 304, que podem vir a sofrer paralisações.
"Nesses primeiros seis meses de adequação ao novo Governo, sofreremos profundos impactos de continuidade, sim. Passado esse período, acreditamos que essas questões possam ser resolvidos pela vontade dos nossos governantes", ressalta.
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O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Ceará (Setcarce) e vice-presidente da Câmara de Logística do Estado do Ceará (CSLog), Marcelo de Holanda Maranhão, revela que o setor está apreensivo com uma possível piora da qualidade das estradas.
Segundo ele, o orçamento previsto para manutenção das rodovias em 2023 é de apenas R$ 6 bilhões. Em 2012, a cifra teria sido de R$ 20 bilhões.
"As expectativas não são boas. O que estamos pleiteando é que os deputados possam transferir emendas parlamentares para infraestrutura para amenizar essa perda de orçamento, mas não tem nada concreto. Vai depender também de como a configuração do ministério vai ficar", alerta.
Transnordestina
Apesar da apreensão em torno do modal rodoviário, os especialistas estão confiantes na continuidade e conclusão das obras da Transnordestina. Studart pontua que a situação em torno desse projeto é mais tranquila, já que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) estaria demonstrando que a execução praticamente não envolve mais recursos da União.
"As obras estão sendo executadas, o cronograma está em dia, não deverá sofrer impacto (da transição)", arremata.
O professor de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bruno Bertoncini, destaca que a expectativa é de continuidade e celeridade na conclusão da ferrovia e ressalta que a própria equipe de transição já sinalizou a importância de ampliar investimentos em infraestrutura.
A Transnordestina, neste quesito, é de grande relevância, pois é um projeto importante para o Brasil, dado que a mesma será uma importante conexão entre uma região de grande produção de commodities até portos (Pecém e Suape), com capacidade de escoamento"
Atualmente, as obras realizadas no Estado já estão novamente em conformidade com o previsto e podem ser aceleradas em breve. Isso porque entraves diversos, relacionados a financiamento e ao projeto da ferrovia, no âmbito local foram superados.
"Entraves vão desde a concepção do projeto, o pensar nas cargas, no traçado, no tipo de material, até a questão de financiamento, de entrada de recursos. Inclusive, a entrada de capital talvez foi o maior desafio para o projeto todo, desde questões legais, que impossibilitavam, por exemplo, a atração de capital estrangeiro para o projeto, até questões práticas, como as variações cambiais e de custos que tivemos ao longo dos anos", explica Bertoncini.
Apesar do trecho que beneficia e passa pelo Ceará estar em um cenário mais favorável, o docente afirma que seria importante um estudo para viabilidade da conexão da Transnordestina com outras ferrovias, por exemplo, a Norte-Sul, o que potencializaria o empreendido, além da necessidade de revisão na ligação com Suape.