Sonho antigos dos navegadores
Com cerca de 80 quilômetros de extensão, o Canal do Panamá é uma das maiores obras de engenharia do mundo moderno e sua expansão trará fortes impactos ao transporte marítimo internacional
'Atalho' cria novas rotas de comércio pelo mundo
O encurtamento das distâncias entre o Atlântico e o Pacífico é um sonho antigo dos navegadores. Antes do Canal do Panamá, as embarcações tinham que percorrer uma distância de cerca de 15 mil quilômetros, contornando a América do Sul e passando pelas gélidas águas da Patagônia para fazer o trânsito entre os dois oceanos.
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Em 1914, esta travessia pôde passar a ser feita em apenas 80 quilômetros. Com este "atalho" para a Ásia, um novo comércio marítimo internacional surgiu.
Os 80 quilômetros de canal que ligam a Cidade do Panamá, no Pacífico, a Colón, no Atlântico, é percorrido em aproximadamente oito horas. Cerca de 40 navios fazem o trajeto diariamente, numa média de 14 mil por ano.
Mais de 140 rotas fazem a travessia hoje, envolvendo 1.700 portos em 160 países, com destaque para 12 delas, que se relacionam principalmente com duas áreas geográficas específicas: Ásia e Estados Unidos.
Expectativa
Esse trânsito rende US$ 2,3 bilhões ao Panamá e a expectativa é de que, em 2025, esse valor chegue a US$ 6 bilhões. Atualmente, estima-se que o Canal do Panamá responda por 5% do comércio internacional de transporte marítimo.
Um século depois, o canal prepara-se para concluir sua ampliação. "A expansão é baseada em seis anos de pesquisas, que incluem mais de 100 estudos, que incluem a viabilidade econômica, demanda de mercado, impactos ambientais e outros aspectos de engenharia técnica", informa a Autoridade do Canal do Panamá (ACP), por meio de sua assessoria de imprensa.
De acordo com a ACP, todos os portões serão instalados até meados de 2015. Pra se ter uma ideia da grandiosidade do projeto, o maior destes portões tem 33 metros, o equivalente a um prédio de 11 andares. A construção das novas eclusas envolve a utilização de 4,4 milhões de metros cúbicos de concreto. Até dezembro, toda a obra deve ser entregue. Com a expansão, serão incrementadas a intensidade e a frequência do tráfego ao longo do istmo.
O canal poderá movimentar até 16 mil navios por ano, incluindo embarcações de capacidade superior ao dobro das que atualmente passam lá. Esse incremento irá expandir a variedade e escopo do comércio que passa pelo canal e intensificar o crescimento potencial do Panamá como uma rota transcontinental e como centro logístico e de transbordo de cargas.
Projeto de ligar oceanos é antigo
O plano de ligar o Atlântico ao Pacífico por meio do istmo do Panamá é antigo. Uma das maiores e mais difíceis obras de engenharia já realizadas no mundo, o canal teve sua primeira tentativa de construção empreendida pelos franceses, ainda em 1878, motivados pela experiência bem-sucedida do Canal de Suez, que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho. O intento, contudo, fracassou. Cerca de 15 mil pessoas foram recrutadas pela Companhia do Canal Interoceânica, com financiamento feito através de recursos provenientes da venda de ações na Europa.
Seguindo a experiência de Suez, queriam abrir passagem ao nível do mar. Foram, então, construindo caminhos com a explosão de dinamites entre as montanhas do Panamá. A construção de uma via aquática artificial em região montanhosa se mostrou, contudo, bem mais difícil do que se esperava. Além disso, a febre amarela e a malária, doenças que não tinham cura à época, dizimaram diversas vidas nos canteiros de obra, obrigando, assim, à desistência do projeto. A companhia faliu.
Saída: elevadores aquáticos
Em 1904, então, os Estados Unidos compraram os direitos para a construção do canal. Alterando o projeto de engenharia, os americanos decidiram, ao invés de construir canais entre as montanhas, construir eclusas, que funcionam como elevadores aquáticos para os navios. A ideia vingou. Dez anos depois, o canal foi concluído e permaneceu sob controle dos EUA até 1999, quando foi assumido pelo governo panamenho. Hoje, é gerenciado e operado pela Autoridade do Canal do Panamá (ACP). A construção do canal resultou na morte de mais de 20 mil pessoas e motivou a independência do Panamá da Colômbia, em 1903, fato que contou com o apoio dos Estados Unidos.
Sérgio de Sousa
Repórter