Salários de graduados, mestres e doutores caíram em média 8% nos últimos 15 anos
Apesar da queda relativa na remuneração, os salários ainda chegam a ser 7 vezes maiores do que o de um profissional com apenas ensino médio
O incremento de vagas para o ensino superior fez com que o número de profissionais formados saltasse nos últimos 15 anos. O mercado de trabalho cearense, contudo, não tem conseguido remunerar na mesma medida.
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Considerando dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, a remuneração de profissionais com graduação, mestrado e doutorado caiu em média 8% entre 2006 e 2021, quando corrigidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para valores de 2021.
A correção revela uma queda de até R$ 1.151,09 nos salários, no caso de profissionais com superior incompleto. Ainda assim, a remuneração de quem tem um maior grau de escolaridade chega a ser até 7 vezes maior do que a de profissionais com apenas ensino médio completo.
A queda relativa nos salários é reflexo de uma dificuldade do mercado de trabalho cearense em absorver o contingente de pessoas formadas. De acordo com o analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Alexsandre Cavalcante, o aumento de salários com base em remunerações ainda é muito puxado pelo setor público.
Absorção de profissionais no mercado de trabalho
Alexsandre destaca que apesar de o número de cearenses formados ter crescido com o aumento de universidades, o mercado de trabalho não está necessariamente pronto para receber esses profissionais.
Ele aponta que grande parte das empresas do setor privado não possui políticas de incentivo e aumento da remuneração com base na qualificação dos funcionários. Segundo o economista, essa relação é muito mais direta no setor público.
Ele analisa que a redução relativa dos salários quando é feita a correção pelo INPC tem a ver com a oferta de profissionais com maior escolaridade.
“Normalmente as pessoas com baixa escolaridade ganham próximo do salário-mínimo e quem tem maior escolaridade teve uma redução relativa. Isso é explicado pela oferta, quando tem mais oferta o salário tende a cair”, coloca.
Ainda assim, ele reforça que “estudar vale a pena”. “Há uma recompensa enorme pelos anos de estudo. Mas isso daqui acontece principalmente no setor público. Um mestre ganha quase o dobro de quem só é formado e o doutor é mais de duas vezes, então realmente vale a pena estudar”, diz.
Overeducation e a queda de salários
A doutora em Ciências Econômicas e docente nos Cursos de Economia e Finanças na Universidade Federal do Ceará (UFC) Campus Sobral, Celina Oliveira, ressalta que, apesar do aumento no número de universidades ter trazido maiores possibilidades de capacitação, houve ainda como consequência negativa um fenômeno chamado “overeducation”, ou “sobreeducação”.
“O overeducation é um fenômeno em que existem recém-formados que encontram uma ocupação, só que essa ocupação não exige nível de graduação, nem da área que ele se formou, nem o nível que ele tem. Tem todo um nível de gasto público e privado para a formação daquele aluno e o mercado não está absorvendo, absorve ele por outras habilidades”, explica.
Ela aponta que esse fenômeno traz uma maior rotatividade nas empresas, devido às pessoas mais qualificadas ficarem insatisfeitas no trabalho. Ele também afeta os salários que esses profissionais recebem.
“Há uma penalização sobre o salário. Se ele sai da graduação e vai para uma ocupação que exige graduação, ele fica na média do salário daquela ocupação. Se ele ocupa um cargo que não exige nível de graduação, ele vai receber uma média abaixo daquele salário”, afirma.
Ela cita um estudo na área, que aponta que 25% da mão de obra formada no Brasil está em uma situação de overeducation. Segundo ela, uma solução para o problema é que as novas instituições de ensino realizem estudos de demanda antes de realizarem os investimentos.