Realização de Réveillon em Fortaleza só deve ser definida em outubro
Faltando menos de seis meses para a virada do ano, empresários do trade turístico estão descrentes com a realização do evento. Secretário admite que, se fosse hoje, festa "não aconteceria", mas que ainda tem "muita água para rolar"
As limitações provocadas pela dinâmica de prevenção do contágio do novo coronavírus têm deixado parte do setor produtivo sem perspectivas de retorno às atividades. O segmento de eventos, por exemplo, segue com planejamento indefinido diante de programações que envolvem alta movimentação de recursos, como o Réveillon de Fortaleza.
Segundo o secretário do Turismo do Ceará (Setur), Arialdo Pinho, as discussões sobre a festa só devem ocorrer a partir de outubro. "Se fosse hoje, o Réveillon não aconteceria, mas ainda tem muita água para rolar e vamos ter que esperar mais um tempo para iniciarmos as discussões. Eu não sei exatamente qual seria o impacto se a festa não acontecesse, mas com certeza é muito forte na economia e no turismo do Estado".
No ano passado, a festa na Capital reuniu mais de 1,2 milhão de pessoas e movimentou cerca de R$ 1,6 bilhão - o segundo maior impacto econômico no País, atrás apenas do Réveillon do Rio de Janeiro, com R$ 3 bilhões. A ocupação da rede hoteleira fortalezense no período chegou a 96%, segundo a Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor).
Por ora, faltando pouco mais de seis meses para a (ainda indefinida) realização do mega evento, organizado pela Prefeitura de Fortaleza, parte do setor não demonstra confiança na confirmação da agenda. Um dos entraves é a aglomeração do público, um dos pontos mais sensíveis da prevenção da Covid-19.
Segundo Circe Jane, presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins do Estado do Ceará (Sindieventos/CE), a entidade já questionou sobre a realização do Réveillon ao secretário Arialdo Pinho. "Mas ele nada adiantou de concreto. Pelo que temos observado das opiniões do governo, sobretudo dos executivos da (pasta de) Saúde, acho pouco provável haver qualquer evento de grande aglomeração até o fim deste ano", prevê Jane.
Ontem, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, anunciou o cancelamento da festa, após o governo de São Paulo já ter descartado a realização de megaeventos na última terça (14). A capital paulista hoje tem a terceira maior festa de Réveillon do País, atrás de Fortaleza. A última movimentou R$ 600 milhões, segundo o Ministério do Turismo.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, também afirmou ontem que há 90% de chances de não haver festividades no Natal e no Réveillon em 2020 no Estado, por causa da pandemia.
Em Fortaleza, segundo a presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo do Ceará (AMHT), Vera Lúcia, não há esperança, para o setor, em contar com a movimentação de recursos gerados pelo Réveillon. "Acredito que, pelo andar da carruagem e pela postura do Governo do Estado, o evento será cancelado", prevê.
Discussões
Mas nem todo o setor produtivo já conta com o cancelamento da festa. Segundo Régis Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH/CE), o debate sobre o Réveillon ainda não avançou, dentro da entidade, devido a prioridades mais urgentes.
"Ainda não chegamos no pensamento de como seria o impacto de ter ou não ter. Sem nenhuma dúvida, a falta do Réveillon impactaria o turismo. Mas sabemos que tudo isso deve ser analisado, aguardado. E ver como vai ser o desenrolar da pandemia no nosso País, além da decisão dos poderes públicos sobre tudo isso", reflete Medeiros.
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), Maurício Filizola, o tema Réveillon não faz parte atualmente das discussões da entidade.
"Estamos aguardando o desenrolar da pandemia, das situações que temos que avançar na nossa representatividade. Estamos olhando para eventos mais próximos. Nós deveremos ter mais noção disso no próximo mês até para se pontuar como estará a situação da Covid-19 no Estado".
Ele diz ainda que a festa da virada tem um grande impacto no comércio local e que a não realização do evento é preocupante. "O Réveillon no nosso Estado e em especial em Fortaleza movimenta muito o comércio. Se a festa não ocorrer, vamos ter diminuição realmente do número de participantes do turismo local porque a movimentação das pessoas faz o comércio rodar. Isso está nos preocupando".