Projeto propõe transformar autódromo de Eusébio em arena multiúso; veja propostas
Estado desistiu de leiloar local, mas não apresentou nova definição do que será feito

O Autódromo Internacional Virgílio Távora, localizado em Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza, equipamento estadual que recentemente recebeu atenção com a possibilidade de ser leiloado, pode se tornar uma arena multiúso. A proposta é da Federação Cearense de Automobilismo (FCA). A revitalização tem custo estimado de R$ 10 milhões.
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No projeto, já apresentado para a Secretaria do Esporte do Estado do Ceará (Sesporte), são propostos um centro de formação técnica em mecânica, além de estrutura adequada para provas de automobilismo, esportes ao ar-livre, ciclismo, atletismo e um espaço de treinamento para as instituições do poder público, como as forças de segurança. Para isso, seriam feitas obras como o recapeamento da pista, elevação de boxes e padoque superior, restaurantes e área para shows, com cercamento e pavimentação específicos.
"Temos projeto para transformar o espaço em uma arena multiúso, onde a sociedade pode se beneficiar do equipamento. Além disso, as ações gerariam uma movimentação considerável nos setores do turismo, esportes, cultura e economia. Isso está pegando corpo. Apresentamos para a Sesporte e a Prefeitura do Eusébio. Além disso, grandes concessionários de veículos estão nos apoiando e há interesse de montadoras de veículos para usar o equipamento para promover eventos, testes e treinamentos", afirma o presidente da FCA, Lutianne Soares.
Sobre o assunto, a Sesporte, por meio de nota enviada por sua assessoria de comunicação, informou apenas que "um projeto proposto pela Federação Cearense de Automobilismo está em análise". Já a Prefeitura de Eusébio não respondeu à reportagem as demandas sobre o autódromo instalado na cidade.
Veja proposta para uso do autódromo:
- Centro de formação técnica em mecânica
- Provas de automobilismo
- Provas de ciclismo
- Provas de atletismo
- Treinamento de instituições do poder público
- Esportes ao ar-livre
Uso e estrutura do local

O calendário de eventos da FCA para o Autódromo de Eusébio deste ano está sendo construído. Contudo, em 2024, apenas a entidade utilizou o espaço em 16 fins de semana. Os eventos variam de 40 a 60 equipes participantes, 200 a 300 profissionais envolvidos diretamente, e um público de 1 mil a 3 mil pessoas.
Para utilizar o espaço, é pago à Sesporte uma taxa de R$ 3 mil por dia utilizado. O valor, segundo a federação, é convertido em manutenção e bem feitorias no equipamento.
Conforme a entidade, o espaço recebeu, no ano passado, investimentos privados da federação e de parceiros da entidade. Entre as melhorias estão a pintura geral, reforma nos banheiros e climatização dos ambientes e tratamento de pequenos defeitos na pista.
Conforme nota da Sesporte, o local é usado para provas de automobilismo e ciclismo, além de treinamento para órgãos do poder público, a exemplo das Forças de Segurança Pública.
Como já foi a utilização

A FCA foi a administradora do Autódromo Internacional Virgílio Távora (nome de batismo do empreendimento), da sua inauguração, em 12 de janeiro de 1969, até meados de 2018, quando a responsabilidade passou a ser da Sesporte.
Nestas quase cinco décadas, o local recebeu diversas provas nacionais, como a Fórmula Truck (de caminhões) e Fórmula 3 Sul-americana. Na época, essas eram as principais categorias que atuavam no Brasil e foi atraído um público de mais de 20 mil pessoas.
Porém, essa não é uma realidade das instalações atuais. Para receber provas do circuito nacional, como a Stock Car, Fórmula 4 (F4) e Porsche Cup, conforme o presidente da FCA, é necessário investimento para revitalizar a pista e modernizar as estruturas.
"Estamos trabalhando e temos projetos para viabilizar isso junto ao governo, mostrando que esse investimento se paga, pois a expectativa é que anualmente seja injetado na economia cearense em torno de R$ 40 milhões com o automobilismo, trazendo uma receita extra para o estado", revela Soares.
Sobre o leilão
No início deste mês de fevereiro, o Diário do Nordeste noticiou que a Companhia de Participação e Gestão de Ativos do Ceará (CearaPar), vinculada à Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz-CE) desistiu de leiloar o Autódromo Internacional Virgílio Távora. A confirmação se deu pouco mais de um mês e meio após um leilão sem participantes.
Segundo a CearPar, o Governo do Estado vai definir "a melhor estratégia de rentabilização" da área. Projetos de desenvolvimento urbanístico da região e imóveis alinhados à política pública de habitação estão entre as possibilidades para o ativo.
“Nosso objetivo é encontrar a melhor forma de gerar valor para este e outros imóveis do Estado, sempre observando as demandas do mercado e o interesse público”, ressaltou Luiza Martins, presidente da CearaPar, ao Diário do Nordeste.
A companhia disse ainda que "a CearaPar segue comprometida com a busca por soluções inovadoras que impulsionem investimentos e contribuam para o desenvolvimento sustentável do Ceará".
No dia 23 de dezembro do ano passado, foi realizado o leilão do autódromo, mas não houve participantes. O lance inicial era de R$ 61,2 milhões. Apenas uma dupla havia demonstrado interesse em dar lances no certame, mas desistiu após ser informada que seria a única a participar.
O autódromo possui área de aproximadamente 260 mil metros quadrados, o equivalente a 23 campos de futebol. O equipamento é considerado não operacional pelo governo estadual.
Usuários rebatem ociosidade do local
Felippe França se intitula fã e entusiasta de esportes automotores. Assim, sempre que tem algum evento comparece ao Autódromo de Eusébio. "Faço isso desde 2005, quando me mudei de São Paulo para Fortaleza".
Ele comenta que gosta de dias de "Track day" ou "dia de pista", onde pessoas comuns vão com seus carros do dia a dia e podem usufruir da pista. "Sempre participo. O local traz ótimas lembranças, sempre vamos em amigos e com a família e passamos todo o dia".
Porém, França destaca que o equipamento está "abandonado pelos órgãos responsáveis". "Tem um equipamento tão bom e que poderia ser melhor utilizado, não só com corridas, mas usando exemplo de São Paulo (Interlagos), poderia fazer eventos e shows", reforça.
Questionado sobre o que os usuários fariam caso o espaço fosse fechado e vendido, o "piloto de final de semana" revela que não existe outro espaço como esse na cidade, nem no estado.
"A falta dele iria estimular geral a andar na rua, igual alguns delinquentes já fazem. Além disso, o que mais me preocupa é a cadeia de pessoas que dependem do autódromo, por exemplos oficinas, mecânicos, ajudantes, que podem perder suas ocupações".
Reconhecido no meio
Lucas Brito, o Bocão Locutor, afirma que só no ano passado participou de 31 eventos no autódromo de Eusébio. Atuando em cinco estados do Nordeste como locutor, ele faz parte da Confederação Brasileira de Automobilismo. Bocão cita como eventos realizados no local os campeonatos cearenses de Automobilismo, de Arrancada, além dos Track Day e eventos de rachas.
"O autódromo sempre existiu, sempre funcionou. Nunca ficou ocioso. Com ele conseguimos tirar os jovens dos pegas das ruas e levar para um ambiente seguro. Todo mês tem pelo menos dois eventos. Todos têm ação solidária, além de serem renda para muitas famílias que moram na região e trabalham nesses eventos", comenta.
Track Day leva 2 mil pessoas para o local
Lincoln Danielci, 40 anos, autônomo, organiza como hobby, desde 2023, os eventos de Track Day. Para este ano ele prevê a Copa Funny Ceará, com 4 etapas e 2 corridas. Amante de velocidade, desde 2014 ele realiza eventos ligados ao movimento.
"A ideia de Track Day começou para carros, para que não tivessem mais rachas nas ruas. O evento foi evoluindo a cada edição, com adesão de pilotos e de público. Deu tão certo que comecei a fazer de motocicletas também e este tem atraído ainda mais participantes", conta.
Nas edições com carros, segundo Lincoln, participam uma média de 35 pilotos, já nas de motos a média chegar a atingir 50 condutores. Em ambos dos eventos, ele estima um público rotativo de próximo de 2 mil pessoas.
"Estou indo para a 8ª edição de carros e no meio dessa jornada tive a ideia de fazer também para motos com o mesmo intuito de tirar o pessoal das ruas. Deste já estou indo para 5ª edição", diz.
O organizador dos eventos amadores ainda reforça que nas suas organizações há ambulância com médico, brigada de incêndio e todos os pilotos e públicos são segurados. Além disso, também são oferecidos shows de "Drift" (técnicas de deslizamento e derrapagem) e marcas de montadoras e acessórios patrocinam as ações nos intervalos das corridas.
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