Projeto-piloto pretende ampliar em 10 vezes a produção de trigo no CE
Considerada um sucesso, primeira colheita foi de 26 toneladas em cinco hectares na Chapada do Apodi, alcançando produtividade superior à média da região Sul. Empresa pretende ampliar área de plantio a 500 hectares em 2021
Com a conclusão da colheita da primeira safra de trigo plantada no Ceará nesta semana, a expectativa é que a área plantada na região do Apodi, em Limoeiro do Norte, passe dos atuais cinco hectares para 500 já no próximo ano, segundo Alexandre Sales, diretor da Santa Lúcia Alimentos, indústria de moagem e panificação.
A iniciativa é resultado de uma parceria entre a empresa e a Agrícola Famosa com tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O plantio, ainda em fase experimental, resultou na colheita de 26 toneladas (t) de trigo, o que representa uma produtividade de 5,3 t por hectare. A experiência é um marco para o agronegócio cearense, já que parecia improvável que o cereal prosperasse em solo cearense.
"Agora, estamos fazendo um novo dimensionamento para passar de cinco hectares para 100 hectares (até o fim do ano). Se for plantado ainda neste ano poderá ser colhido até dezembro", explica Alexandre Sales. O empresário aponta ainda que a produtividade obtida no Ceará se mostrou superior à da região Sul, que gira em torno de 2,4 toneladas por hectare, e pouco abaixo da obtida na região Centro-Oeste, de cerca de 5,5 toneladas por hectare.
No entanto, enquanto nas principais regiões produtoras do Brasil e da Argentina o ciclo entre plantação e colheita ocorre entre 140 e 180 dias, no Ceará, o ciclo foi de apenas 75 dias, o que permitiria a colheita de três safras por ano. "Temos um potencial de crescimento muito grande, porque se trata de um trigo de excelente qualidade, tropicalizado, desenvolvido pela Embrapa", aponta o diretor.
Se tudo correr conforme planejado, Sales diz que a ideia é chegar, no médio prazo, a uma produção de 30 mil toneladas por ano, o que seria suficiente para atender à demanda da Santa Lúcia, indústria de moagem e panificação.
"Isso daria uma área plantada de cinco mil a seis mil hectares", projeta. "Temos como melhorar e muito essa produtividade, com um maior acompanhamento e ajustes na cultura. Podemos sim dizer que foi um sucesso, não só pela produtividade, mas também pelo prazo de duração da planta até a colheita".
Fase de testes
No segundo semestre do ano passado, técnicos da Embrapa Trigo realizaram os primeiros experimentos de cultivo de trigo na Chapada da Ibiapaba e na Chapada do Apodi para analisar a viabilidade de produção do cereal no Estado, considerando as condições de solo e clima.
Em outubro, durante os testes de viabilidade, a Santa Lúcia Alimentos chegou a produzir cerca de três toneladas por hectare. Nesta ocasião, porém, não foi realizada a colheita. "Fizemos dois pequenos experimentos no ano passado para ver a viabilidade da planta", diz Sales.
Em 2019, foram realizados ainda ensaios exploratórios nos municípios de Limoeiro do Norte (baixa altitude - cerca de 150 m) e na região de Tianguá (maior altitude - cerca de 700 m) para avaliação da adaptação das cultivares BRS 254, BRS 264 e BR 18, segundo a Embrapa.
Os experimentos foram conduzidos em regime irrigado. A Embrapa também pretende realizar mais testes na região do Cariri, região sul do Estado. E, além dos ensaios sob regime de irrigação, também serão conduzidos ensaios de sequeiro, no final da época das águas para avaliar o potencial de viabilidade da cultura nessas condições.