Produção e exportação de frutas do Ceará devem dobrar em 5 anos
Avaliação da Adece se baseia no esforço do setor agro para a utilização dos perímetros irrigados e maior volume de chuvas. Agência também espera alavancar envio de cera de carnaúba e camarão para o exterior
Após um ano que deve se encerrar com resultados abaixo do esperado em volume geral de exportações cearenses por conta da pandemia, a projeção é que nos próximos anos o agronegócio ajude a alavancar o embarque de mercadorias ao exterior. De acordo com a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), a área dos perímetros irrigados para produção de frutas como melão, melancia e mamão, por exemplo, no Estado, deve dobrar. Com isso, em cinco anos, deve duplicar também a produção desses alimentos e, respectivamente, as exportações desses produtos pelo Ceará.
"Acho que nós estamos entrando em uma fase muito importante no agronegócio cearense, sobretudo na fruticultura. Nós procuramos o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) para melhor utilização dos perímetros irrigados. Queremos utilizar 14 mil hectares, que é a área disponível. A nossa perspectiva é de, nos próximos cinco anos, dobrar toda a fruticultura e as exportações do Ceará", detalha José Amílcar Silveira, presidente da Câmara Setorial do Agronegócio da Adece.
Além do melão, da melancia e do mamão no perímetro irrigado, ele destaca ainda a intenção de alavancar no Ceará outros tipos de produção ligada ao setor agro, como a cajucultura e a produção de cera de carnaúba. "A gente acredita muito na fruticultura. Queremos também alavancar a cera de carnaúba, a cajucultura, porque são produtos importantes. Precisamos revitalizar essas duas produções", explica Silveira.
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Documento elaborado pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet) com dados da plataforma ComexStat, do Ministério da Economia, mostra que as exportações cearenses de frutas vêm caindo desde 2015. Naquele ano, foram enviados ao exterior US$ 118,9 milhões em mercadorias. Em 2019, foram US$ 62 milhões e, em 2020, de janeiro a outubro, foram US$ 50,2 milhões. Amílcar Silveira explica que essa trajetória de queda é explicada pela severa estiagem que atingiu o Estado nos últimos cinco anos.
"Passamos por um período de seca e tivemos problemas nos perímetros irrigados. A gente exportava mais que o Rio Grande do Norte, mas eles nos passaram justamente por terem conseguido algum aquífero e nós não, então é importante que os perímetros irrigados voltem com força total para alcançarmos o Rio Grande do Norte. Por isso estamos nos reunindo com Sedet e com Dnocs para agilizar essa utilização".A ideia, defende, é focar nos perímetros irrigados Tabuleiro de Russas e Jaguaribe-Apodi.
"O Tabuleiro de Russas, de 10 mil hectares, só 2,5 mil estavam sendo utilizados porque havia mesmo uma dificuldade hídrica. Faltou água. Nossa expectativa é que, com o inverno do próximo ano, o Açude do Castanhão consiga ter uma recarga acima de 30%. Isso nos permitirá chamar o investidor", reforça.
Bananas
O diretor institucional da Associação das Empresas Produtoras Exportadoras de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, também vê com bons olhos o futuro para as exportações cearenses de frutas.
"Realmente o Ceará teve um bom ano de chuvas, estamos conseguindo aumentar a produção e o cenário de pandemia alavancou o consumo de alimentos saudáveis. O dólar alto também contribui", explica Barcelos. Ele acredita que o desenvolvimento consistente da produção de frutas se dará com a revogação de lei estadual que proíbe a pulverização aérea de químicos (Lei Estadual 16.820/2019), sobretudo em relação à produção de banana.
"A nossa expectativa depende muito da revogação dessa lei. O Ceará hoje exporta algo em torno de US$ 200 milhões em bananas e teria condições de exportar 10 vezes mais", pondera. "A gente pleiteia que haja uma regulamentação muito severa, que proteja quem está aplicando, proteja as populações próximas aos bananais e os mananciais, mas não a proibição", detalha Barcelos.
Pescados
O documento divulgado pela Sedet também mostra crescimento expressivo entre 2015 e 2020 nas exportações cearenses de peixes. Há cinco anos, o volume enviado ao exterior chegou a US$ 7,37 milhões de dólares. Em 2019, passou para US$ 28,7 milhões e, em 2020, de janeiro a outubro, está em US$ 17,5 milhões. Também apresentaram crescimento ao longo dos anos as exportações cearenses do item "conserva de atuns e outros". "O Governo do Ceará fez um trabalho para atração de empresas que beneficiam o peixe aqui", justifica, acrescentando que juntamente à Fiec, outro trabalho importante foi a viabilização da exportação de cabeça de lagosta.
Para ele, o camarão tem tudo para ser a bola da vez na pauta exportadora cearense do setor agro nos próximos anos. "Acho que o camarão possui grande potencial. O sertão está virando terra de camarão, acredito muito nisso. Já foi um produto muito importante nesse sentido, mas nós sofremos com a mancha branca. Agora, sem esse problema, ano que vem deve dar uma deslanchada", diz, explicando que a produção se concentra em Aracati, região Norte do Estado e que "está surgindo um novo núcleo produtor em Banabuiú.
Pauta exportadora
Conforme o levantamento da Sedet, o Ceará exportou, ao todo, US$ 1,58 bilhão de janeiro a outubro deste ano, queda de 18,1% na comparação com igual período de 2019 (US$ 1,93 bilhão). A gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiec, Ana Karina Frota, explica que, em 2020, a queda nas exportações deve ser maior que a esperada.
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"Nós tínhamos a expectativa de que as exportações chegariam a US$ 2 bilhões. Em 2019, exportamos pouco mais de US$ 2,3 bilhões, então se chegássemos a US$ 2 bilhões este ano, seria um resultado dentro do esperado. Mas como estamos observando recaídas da crise sanitária em outros países, é possível que as nossas exportações nem cheguem a esse patamar, ficando em US$ 1,9 bi", projeta.
Sobre as mudanças na pauta exportadora, destaca o início das exportações de produtos siderúrgicos em 2016. "Isso mudou completamente a nossa pauta. No passado, nosso principal produto exportava bastante entre a castanha-de-caju e o camarão", diz, acrescentando o destaque das exportações de pás eólicas.