Pesquisa triplica a produtividade da plantação de cajueiro-anão no CE

Após experimentos com irrigação, a Embrapa conseguiu triplicar a quantidade de cajueiros por hectare. Além de aumentar a produtividade de castanha, a pesquisa apontou para o melhor aproveitamento do caju de mesa

Escrito por Bruno Cabral , bruno.cabral@svm.com.br
Legenda: Com baixo consumo de água, a expectativa é que produtores de outras culturas tenham no caju uma alternativa em período de estiagem
Foto: Ricardo Moura / Embrapa

Após dois anos de testes no Ceará, pesquisadores da Embrapa em parceria com produtores conseguiram triplicar a produtividade de caju por hectare no Estado em relação à produtividade média registrada em 2019. O experimento com cultivo irrigado de cajueiro-anão "superadensado" foi realizado no município de Russas. Em três anos, quando termina esta fase de estudos, os pesquisadores esperam chegar a uma produtividade anual de, pelo menos, três toneladas de castanha e 27 toneladas de caju por hectare.

Enquanto na produção tradicional cultiva-se 204 plantas por hectare, os pesquisadores testaram três tipos diferentes de espaçamento, chegando ao cultivo de 833 plantas por hectare na condição de maior adensamento. O experimento chegou a uma produtividade de 1,6 tonelada anual de castanha por hectare. Em 2019, a produtividade média do cajueiro anão-precoce no Ceará, foi de 528 quilos de castanha por hectare.

A pesquisa vem sendo conduzida pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE), pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará (Sedet) e pela Fazenda Frutacor, localizada no distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas, distante 160 quilômetros de Fortaleza. Segundo Gustavo Saavedra, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroindústria Tropical, o novo sistema de manejo proporciona o aumento da produtividade utilizando cajueiros com a mesma genética dos que já eram cultivados no Estado.

"Hoje, nós já temos uma excelente genética e com esse novo sistema você consegue utilizar todo o potencial da planta", diz Saavedra. "Nesse sistema, você precisa estar em um perímetro irrigado e tem de mudar todo o manejo da planta. Mas a expectativa é de triplicar a produção de castanha, saindo dos atuais 1 mil quilos anuais por hectare, para 3 mil quilos anuais por hectare. E você ainda consegue um aproveitamento de 90% dos frutos. No manejo tradicional, há uma perda de cerca de 50% dos frutos".

Fase experimental

As pesquisas foram feitas em uma área de aproximadamente 20 hectares, sendo cinco da Embrapa e o restante da Fazenda Frutacor. Como há necessidade de irrigação, Saavedra diz que o novo sistema não deverá ser utilizado em larga escala, mas que há um enorme potencial de áreas a serem exploradas. Como o cajueiro irrigado tem baixo consumo de água, a expectativa é que produtores de outras culturas vejam no caju uma alternativa para períodos de seca.

"A maior parte dos produtores vai continuar a trabalhar no regime de sequeiro (cultivo em terreno com pouca chuva), mas produtores que trabalham com culturas que demandam muita água, como a banana, por exemplo, poderão migrar para o caju, que tem um baixo consumo - cerca de um quinto do que é utilizado pela banana", diz Saavedra. "Aqueles que não conseguem irrigar toda a sua área de banana, podem irrigar essa mesma área cultivando caju".

De acordo com o empresário João Teixeira, diretor da Fazenda Frutacor, o cultivo de caju consome cerca de 30% a menos de água do que o de banana, servindo como uma cultura complementar a ela. "Ainda estamos em uma fase de testes, focando no caju adensado, e o resultado está satisfatório. Conseguimos cultivar cerca de 840 plantas por hectare, com a possibilidade de colher manualmente e aproveitar, além da castanha, o caju. Agora, vamos esperar pelo menos uns três anos para ter uma ideia de como a planta adulta vai se conduzir", diz.

Castanha exportação

Líder nacional na exportação de castanha de caju, o Ceará o Ceará foi responsável por 81,58% das exportações brasileiras do produto no ano passado. Já no acumulado de janeiro a agosto deste ano, o Estado exportou 91,13% do total vendido pelo Brasil, segundo dados do Ministério da Economia. "Não é um aumento expressivo, mas é sustentável. Entretanto, é importante destacar o crescimento do consumo de castanha no próprio mercado doméstico, que hoje consome quase 50% da produção nacional. Há 20 anos, por exemplo, mais de 90% era exportado", diz Vitor Hugo de Oliveira, presidente do Instituto Caju Brasil.

Terceiro principal item da pauta de exportação do Ceará, a castanha de caju apresentou, de janeiro a agosto, um crescimento 20,2%, em volume exportado, na comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, o Estado exportou 10,1 mil toneladas, ante 8,4 mil toneladas registradas em 2019.

Apesar do avanço do volume, o valor das vendas caiu 3,8%, passando de US$ 64,4 milhões, em 2019, para US$ 61,9 milhões neste ano. Esse movimento se deu em decorrência da desvalorização do real ante o dólar, que permitiu que os compradores externos pagassem um menor valor por tonelada.

Apenas em agosto, o Estado exportou US$ 7,2 milhões, referente a 1,3 mil tonelada, o que corresponde a uma queda no valor em dólares de 11,1% e alta de 8,3% no volume em toneladas. "Estamos em um cenário totalmente diferente de tudo o que já vivemos antes. A 'queda' também fica evidenciada porque os Estados Unidos, que são o nosso principal parceiro na exportações, apresentou uma queda geral das importações em dólar, incluindo a castanha", diz Ana Karina Frota, superintendente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

De janeiro a agosto, o Ceará enviou 3,3 mil toneladas de castanha de caju para os Estados Unidos, alta de 6,5% em relação ao mesmo período de 2019 (3,1 mil toneladas). No entanto, o valor exportado, no mesmo período, caiu 8,5%, passando de US$ 24,6 milhões em 2019 para US$ 3,3 milhões nos primeiros oito meses deste ano. Em 2019, os Estados Unidos foram os principais compradores da castanha cearense, com 5,4 mil toneladas. Em seguida aparecem o Canadá (1,8 mil t), Holanda (1,1 mil t), Itália ( 1,06 mil t) e Alemanha (1,00 mil t).

Desde 1997, quando tem início a série histórica do Ministério da Economia, 2009 foi o ano recorde no valor das exportações de castanha tanto pelo Ceará como pelo Brasil, com a venda de US$ 187 milhões e US$ 231,6 milhões, respectivamente. E o ano de 2007 foi registrado o maior volume já enviado pelo Brasil ao exterior, com 51,5 mil toneladas, sendo 40,8 mil toneladas a partir do Ceará.

Brasil

Em 2019, o Brasil produziu 139.383 toneladas de caju. De acordo com o IBGE, mais de 90% dessa produção está localizada nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. A produtividade brasileira, considerando a área colhida em 2019, foi de 327 kg de castanha por hectare, o que é considerado muito baixo para o potencial da espécie.

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