O que vale mais a pena: comprar imóvel ou alugar e investir?
Veja o passo a passo para tomar a melhor decisão
Um dos maiores dilemas ao iniciar a vida adulta acontece após a decisão de sair da casa de infância. A busca por um novo imóvel para moradia, geralmente, vem acompanhada de um velho embate: comprar ou alugar?
Enquanto muitos crescem com aquele conhecido sonho da casa própria, a chegada das responsabilidades financeiras tende a frustrar as expectativas desenhadas ao longo dos anos. A opção do aluguel, então, surge como uma alternativa preferível para outra parte dos adultos.
Porém, existe uma escolha certa? O aluguel passa a ser apenas um “plano B”, algo temporário, para quem ainda não possui condições de financiar? A compra de um imóvel é sempre o objetivo a ser alcançado para uma moradia?
O Diário do Nordeste conversou com o vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-CE), Apolo Scherer Filho, com o corretor de imóveis Paulo Angelim e com o professor de Finanças da Universidade de Fortaleza (Unifor), Rodrigo Stefe, para ajudar a entender qual das opções vale mais a pena.
Vantagens e desvantagens
Compra de imóvel
Como qualquer bem adquirido, a aquisição de um imóvel implica a formação de um patrimônio, o que significa que ele tem a chance de se tornar valorizado. O professor Rodrigo Stefe destaca que há, também, a proteção contra a inflação, além de que o proprietário pode gerar uma renda passiva caso decida colocar o imóvel para alugar.
Veja também
Entretanto, o docente ressalta que a liquidez é baixa no momento de aquisição do bem, ou seja, ele não pode ser convertido em dinheiro sem que haja uma perda significativa de seu valor. A compra também implica em “muito dinheiro preso sem possibilidade de uso imediato”, como bem explica Stefe.
Também é importante ter em mente que o endividamento e o pagamento de juros podem perdurar por um longo período, a depender do valor do imóvel e de como se deu o financiamento.
Comprar é uma decisão patrimonial e de longo prazo, com um custo inicial elevado, um fluxo de caixa que exige atenção, como impostos e manutenção, um potencial de valorização e segurança e uma formação de patrimônio
Alugar um imóvel
Ao contrário da compra, o aluguel permite maior liquidez e flexibilidade de mudança, além de não possuir prazo mínimo ou máximo para um contrato de locação.
Conforme Apolo Scherer Filho, há a chance de, caso o imóvel não esteja agradando, mudar-se em pouco tempo. Ele afirma que “essa geração que está vindo [geração Z] tem optado muito pela locação”.
Apesar de ser um benefício, a incerteza de permanência também pode ser uma desvantagem, já que o inquilino não é dono do imóvel e não detém esse patrimônio. Além disso, possíveis aumentos periódicos de aluguéis também podem surgir como impasses.
Segundo Apolo, esses contrastes, entretanto, não impedem que a opção de aluguel compense para o inquilino: “o que não vai valer a pena em uma locação é se tiver cláusulas que tragam prejuízo — ou para o locador, ou para o locatário — em relação a um contrato que foi malfeito”.
Gastos e investimentos
Custo de aquisição, reformas e possíveis manutenções são os principais gastos que precisam ser levados em consideração para quem pensa em comprar um imóvel.
É importante, também, lembrar que altas taxas de juros, inadequações no sistema de abatimento de dívidas, valorização ou desvalorização da propriedade e localização do imóvel podem ser fatores determinantes para variar o custo de compra.
Os gastos com o aluguel, por outro lado, podem vir junto a taxas adicionais de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), de condomínio e do depósito caução - necessário como garantia ao proprietário do imóvel, cobrindo eventuais atrasos de pagamento ou danos.
Apesar do Código Tributário Nacional estabelecer que o IPTU é um imposto de responsabilidade do proprietário, o vice-presidente do Creci explica que, por meio da Lei de Locação, “as partes podem, de comum acordo, fixar que determinado ponto fique de responsabilidade do inquilino, não do proprietário. É o mesmo tipo de raciocínio para a taxa condominial”.
É importante analisar o contrato ou solicitar a um profissional que avalie se as cláusulas não são abusivas com reajustes acima da inflação
Reserva financeira
O professor reforça que um planejamento orçamentário é fundamental para quem pensa em comprar um imóvel. O custo de aquisição não pode comprometer mais que 30% da renda líquida do comprador, além de ser importante “ter uma reserva de emergência de 6 meses a 1 ano para cobrir as despesas”.
É preciso observar o que melhor se encaixa na realidade de cada um. Analisar os gastos com impostos e despesas mensais, realizar diferentes simulações financeiras e avaliar as diferenças entre taxas de juros e as tabelas de amortização de financiamento, como Sac ou Price, são fortes recomendações.
O que evitar?
Por ser um momento de grandes decisões, é importante atentar-se para não cometer erros que levem a gastos maiores do que o necessário. Confira a seguir:
Compra de imóvel
- Estar ciente dos impostos de aquisição;
- Considerar valores de manutenção do imóvel;
- Atenção a altas prestações inadequadas à renda;
- Realizar uma vistoria completa do imóvel;
- Ter uma reserva de emergência;
Aluguel de imóvel
- Realizar pesquisas de preços médios na região em que se deseja alugar;
- Observar as cláusulas contratuais e de reajustes;
- Considerar a localização, a segurança e a infraestrutura do imóvel;
- Ter uma reserva financeira;
Qual vale mais a pena?
A resposta irá depender do perfil financeiro e do momento de vida de cada pessoa. Para Rodrigo, o aluguel é uma boa opção para quem está no início da vida profissional. Entretanto, se já há maior estabilidade financeira, pode ser interessante pensar em adquirir o próprio imóvel.
“Não existe uma condição ideal. Tudo dependerá dos objetivos pessoais, capacidade financeira e estratégias de longo prazo que transforme moradia em uma decisão sustentável e inteligente”, explica.
Ele ainda enfatiza que não há uma única maneira a seguir ao realizar um financiamento ou aluguel, mas reforça que é necessário cuidado com “decisões apressadas, análise equivocada” e custos adicionais.
Paulo Angelim, corretor de venda de imóveis, aconselha que o momento seja visto de perto por um profissional da área.
Esse é o primeiro cuidado que essa pessoa precisa ter: não fazer esse processo sozinho, principalmente aqueles que são 'marinheiras' de primeira viagem. São muitas decisões a serem tomadas, talvez a maior aquisição que uma família vá fazer na vida, e é preciso ter uma orientação
*Estagiária sob supervisão do jornalista Hugo Nascimento.