O que é dinheiro e o que dá para comprar com ele? Veja o que dizem as crianças

Desde muito pequenas, crianças já entendem e manuseiam dinheiro

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: Com o dinheiro do cofrinho, Heitor (4) pretende comprar balas e chocolates.
Foto: Fabiane de Paula

"Dinheiro dá pra comprar muitas coisas: brinquedos, comidas, lanches, objetos, roupas, colares, celulares, capa de celulares, livros, sapatos". Apesar da pouca idade, José Franco Morais (6) já entende que o dinheiro, independente do seu formato, é o que possibilita a compra de tudo que é posto à venda.

Como é natural, o alvo principal de desejo de José são os brinquedos. E, apesar de não ser exigido essa maturidade com tão pouca idade, ele já entende que os objetos que são apontados pelos pais como caros acabam sendo inacessíveis.

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Um desses episódios aconteceu quando alguns familiares deram valores que somavam R$ 300 a ele como presente de aniversário. A opção inicial de José era uma manopla que custava exatamente esse valor. Orientado pela mãe, o pequeno acabou comprando três bonecos.

"Eu comprei o boneco do Shazam, o boneco do Asa Noturna e do Wolverine. Quando é mais caro, eu vejo outro brinquedo", conta. Apesar da troca, ele ainda avalia os brinquedos caros como mais legais que os baratos. Isso "porque  o que é mais chique é mais legal".

Legenda: Para José (6), os brinquedos caros são mais legais, "porque o que é mais chique é mais legal".
Foto: Kid Júnior

Essa racionalização do que é possível comprar, no entanto, deve fica pra trás na vida adulta, segundo os planos de José. "Vou querer ser milionário, pra comprar coisas, o carro mais caro do mundo, ir pro Japão ver o vulcão", relata.

No dia a dia, além da experiência com o cofrinho, José ainda não possui um contato mais próximo com dinheiro. Na escola, na hora do recreio, ele conta que a irmã, Luiza Franco Morais (9), é quem compra algo que ele precise.

Legenda: Os irmãos Luiza (9) e José (6) são incentivados pelos pais a não gastarem todo o dinheiro que ganham
Foto: Kid Junior

Sendo três anos mais velha e tendo matemática como a matéria preferida, Luiza distribui o dinheiro que ganha para outras finalidades. Ela conta que costuma usar o dinheiro que junta para comprar presentes para familiares e amigas, por exemplo, e revela que até já teve dificuldades diante de altos preços.

"Eu sempre vejo a questão do preço pra ver o tanto que eu tenho e posso gastar. Às vezes acho muito caro (os produtos). Já tive que rodar uma loja inteira, porque eu tinha achado muito caro. Era uma escova de cabelo que eu queria comprar pro meu pai, só que era mais de R$ 30 e eu imaginava que era menos. Eu procurei o que ele precisava, mas não achei outra escova"
Luiza Franco Morais
9 anos

Legenda: Luiza (9) prefere guardar o dinheiro que ganha para situações que precisar futuramente
Foto: Kid Júnior

Ainda sobre preços, apesar de não ter o costume de acompanhar os pais em idas ao supermercado, ela relata ter percebido que as coisas ficaram mais caras. "Por exemplo, tem tipo uma lojinha aqui perto de casa que o litro de leite tava R$ 5 e hoje tá R$ 10".

Educação financeira na infância

A diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef Ceará), Darla Lopes, pode e deve ser introduzida às crianças mesmo enquanto ainda são bebês através, primeiramente, do exemplo. Quando ela começar a ler e a escrever, essa orientação pode começar a ser mais ativa.

"A partir dos 4 anos, a criança começa a pedir aos pais muitas coisas. Até então, essa educação dos responsáveis tem um papel mais passivo. Já quando ela questiona, você responde e ensina de forma mais ativa, explicando que muitos dos nossos desejos são alcançados através do dinheiro e que é um recurso limitado", afirma.

Os pais e responsáveis, no entanto, precisam fazer essa introdução de forma lúdica e com uma linguagem que as crianças consigam entender, até para não gerar um senso de responsabilidade e cobrança maior do que a criança consegue lidar.

Dessa forma, brincadeiras de caixa, mini mercado e o cofrinho, por exemplo, são formas eficientes e responsáveis de ensinar na prática a gestão de recursos financeiros.

"Eu costumo dizer que o supermercado é um laboratório para a educação financeira das crianças. A participação delas pode começar ao fazer a lista de compras, se ela for alfabetizada, que já começa a entender de planejamento sem que precise falar em planejamento. No próprio local, é interessante mostrar as diferenças de preço, tudo de forma leve e divertida"
Darla Lopes
Diretora do Ibef Ceará

Outra estratégia que Lopes ensina são reuniões periódicas para definir os objetivos da família. Ela detalha que a cada três meses ou anualmente é importante definir um objetivo da família, podendo ser uma viagem, a compra de uma bicicleta, a troca do carro, a mudança de casa, etc.

Durante a conversa, os adultos combinam o que cada membro da família deve fazer para ajudar a alcançar esse "sonho". "Através do sonho você motiva as pessoas, sejam crianças ou adultos, para seguirem o planejamento definido. Quando você coloca um orçamento sem trazer o elemento da motivação, ele acaba esquecido ou abandonado", ressalta Lopes.

Legenda: Marcus Bruno (5) prefere os brinquedos que ele acha que são baratos
Foto: Thiago Gadelha

Cofrinhos e 'semanada'

Os exemplos mais clássicos de realizar algum tipo de introdução financeira são os cofrinhos e, para crianças maiores, as mesadas. A diretora do Ibef Ceará pontua que continuam sendo estratégias válidas, mas orienta algumas adaptações para a mesada.

Ela argumenta que uma criança de 9 a 11 anos, por exemplo, ainda não tem maturidade suficiente para gerir o dinheiro que recebe durante 30 dias. Dessa forma, é interessante que os valores sejam repassados a elas semanalmente.

Já aquelas com 12 anos ou mais já conseguir ter essa visão durante o mês inteiro e podem também já ir se habituando a manusear contas digitais e cartões de débito.

"É interessante que ela tenha um cartão de débito com valor fixo. Os pais às vezes ficam preocupados se ela errar, mas o erro é importante para a aprendizagem. É melhor que esse erro aconteça na infância a adolescência para que ela consiga aprender com essa vivência e cresça um adulto que saiba tomar as decisões de forma mais consciente", destaca.

O pequeno Heitor de Paula Souza Benício (4) já tem o próprio cofrinho que, como ele mesmo fala, já está "pesado". No dia a dia, ele já ajuda os pais a pagar as compras no check-out das lojas.

"Quando eu vou pro supermercado com a mamãe e o papai, eu pago as compras com o cartão. Tem que colocar na maquininha, ela apita e a gente pega as compras e coloca na sacola", conta.

Legenda: Com o dinheiro do cofrinho, Heitor (4) pretende comprar balas e chocolates.
Foto: Fabiane de Paula

Para ele, a Tia Carla tem mais dinheiro que a mamãe, "porque ela compra as coisas que eu quiser. Eu peço, ela compra", enquanto a mãe "só compra comida".

Perguntado se compra algo na escola, Heitor lembrou que "sou muito pequeno, não compro tudo sozinho, não".

Legenda: Heitor (4) acredita que a tia tem mais dinheiro que a mãe por ela "comprar as coisas que eu quiser".
Foto: Fabiane de Paula

Quem também ainda é muito pequeno para fazer compras sozinho mas já entende como esse processo funciona é Marcus Bruno Alves Pessoa Filho (5). Um de seus interesses atuais é o álbum de figurinhas da Copa do Mundo e ele já entende que as figurinhas são compradas "na banca" e que "precisa de dinheiro" pra levá-las pra casa.

Dono de um cofre, ele já faz planos para o que vai comprar com as moedas que juntar. "Aqui no meu cofre eu tenho várias moedas. Quero comprar o brinquedo da Patrulha Canina", revela. Questionado se o brinquedo vai ser caro ou barato ele responde: "um pouquinho caro, mas tem baratinho também".

Legenda: Marcus Bruno está enchendo o cofrinho para comprar um brinquedo da Patrulha Canina, seu desenho preferido.
Foto: Thiago Gadelha

"Sabia que R$ 500 é mais caro, mais caro de todos? R$ 500 é muito caro", questiona Marcus. "E R$ 5, é caro ou barato", pergunta a mãe. "R$ 5 reais é baratinho", responde ele.

O pequeno também diz que prefere brinquedos baratos e que não gosta de comprar muitas coisas. "Se não vai ficar sem dinheiro. Se ficar sem dinheiro, vai comprar nada", conclui.

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