Número de cearenses que aplicam na Bolsa cresce 150% em 12 meses

Em meio à queda da taxa de juros, investidores buscam no mercado de ações rendimentos mais altos. Aquecimento atrai escritórios de grandes corretoras nacionais ao Ceará, que desponta na região

Escrito por Bruno Cabral , bruno.Cabral@svm.Com.Br
Legenda: Demanda por investimentos em ações deve continuar crescendo devido à queda da rentabilidade da renda fixa

O número de cearenses que investem em ações e fundos imobiliários (renda variável) avançou 150% nos últimos 12 meses, passando de 9.915 pessoas cadastradas, em setembro de 2018, para 24.823, em setembro deste ano, segundo dados da B3. O crescimento foi acima da média nacional - no mesmo período, a quantidade de brasileiros na Bolsa avançou 91%, chegando ao patamar de 1,416 milhão.

No fim de setembro, os investidores do Ceará detinham cerca de R$ 2,21 bilhões em ativos, valor 38% superior ao registrado no mesmo mês do ano passado.

Apesar do expressivo crescimento do número de investidores, o volume aplicado pelos cearenses corresponde a apenas 0,78% do total dos investimentos em renda variável no Brasil, participação levemente menor do que a observada há um ano, quando era de 0,87%. O que aponta para o aumento do interesse dos pequenos investidores pessoas físicas.

Segundo o economista Ricardo Eleutério, vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE), o aumento do número de investidores em renda variável observado em todo o País já era esperado e ainda deve continuar pelos próximos anos, diante da queda da taxa básica de juros (Selic). A contínua diminuição da taxa reduziu a rentabilidade das aplicações mais populares entre os brasileiros, como a caderneta de poupança e os fundos de renda fixa.

Juro baixo

"Houve uma queda muito grande na taxa básica de juros. E como o brasileiro, que tem um perfil mais conservador, normalmente está na renda fixa, sobretudo na poupança, houve uma busca natural por um pouco mais de risco em troca de maiores retornos", diz Eleutério, que também é professor de mercado de capitais. "Então, a maior explicação para esse movimento é a queda da taxa de juros nos últimos anos. Desde outubro de 2016, a Selic declinou de 14,25% ao ano (a.A.) para os atuais 5% a.A.", aponta.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), de 30 de outubro, a taxa foi reduzida em mais 0,5 ponto percentual (p.P.), chegando a 5% ao ano (a.A.), o menor patamar para a Selic da história do País. E a expectativa dos analistas consultados pelo BC é que a taxa encerre 2019 ainda menor, a 4,5 a.A.

Com isso, Eleutério avalia que, a depender do comportamento da inflação, as aplicações com rendimento atrelado à Selic podem apresentar rendimento real negativo.

"Temos visto muitos investidores migrando tanto para as ações, como para os fundos de ações, que têm uma carteira diversificada administradas por gestores", diz Eleutério. "Em um cenário com indicadores mais estáveis, a demanda por ações deve continuar crescendo, principalmente com essa possibilidade de termos juros reais negativos, caso a inflação aumente".

Mercado cearense

Diante do crescimento da demanda por produtos financeiros com maior potencial de retorno, grandes empresas nacionais vêm buscando ampliar a participação no Nordeste pelo Ceará. Em janeiro, a XP Investimentos, uma das maiores corretoras do País, ingressou em Fortaleza por meio da assessoria de investimentos Monte Bravo. E, em outubro, o BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, anunciou um contrato de exclusividade com o escritório de agentes autônomos Vert Investimentos para distribuição de seus produtos no Ceará.

De acordo com Pier Mattei, sócio-fundador da Monte Bravo, os fundos imobiliários (por meio dos quais o investidor adquire cotas de imóveis e recebe periodicamente o valor do aluguel) vêm impulsionando o mercado de renda variável. "É uma nova realidade de investimento, e o fundo imobiliário tem ajudado muito nesse crescimento. É uma tendência que veio para ficar", aponta.

Centralização

Segundo o sócio-sênior da Vert, Thiago Fujiwara, a escolha do Ceará para instalação do escritório se deu tanto pelo grau de desenvolvimento do mercado local como pela possibilidade de centralizar aqui futuras operações em outros estados das regiões Norte e Nordeste. "O Ceará começou a se tornar um hub de negócios, e a malha aérea nos permite colocar a nossa matriz no Estado e partir para a abertura de outros escritórios", diz Fujiwara. "Além da questão logística, no Ceará ainda existe uma concentração de grandes investidores, tanto pessoa física como corporações".

A meta da Vert, que começou a operar no Estado com cerca de 200 clientes, é fechar o ano de 2020 com R$ 1 bilhão em ativos sob gestão da assessoria. O foco do escritório são investidores qualificados, como pessoas físicas com investimentos acima de R$ 5 milhões e empresas com mais de R$ 500 milhões de faturamento anual. No entanto, os serviços também estão abertos para pequenos investidores.

"A gente consegue entregar para o cliente menor os mesmos produtos, com os mesmos preços, que entregamos para os grandes clientes", diz Fujiwara.

A equipe conta com 14 agentes autônomos, todos especialistas em investimentos. "Antigamente, os grandes escritórios nacionais se concentravam mais em Recife, onde havia profissionais com maior bagagem, mas hoje os profissionais no Ceará estão até mais qualificados", aponta.

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