Número de cearenses investindo em ações cresce 49% em um ano; entenda
De acordo com dados da B3 (Bolsa, Brasil, Balcão) de novembro do ano passado, 102,7 mil investidores no Estado estão na renda variável
A renda fixa voltou a se mostrar atraente após as sucessivas altas da taxa básica de juros e em meio a altíssima volatilidade no mercado de ações, mas engana-se quem pensou que esses fatores derrubariam o interesse pela renda variável. No Brasil, de acordo com dados da B3 (Bolsa, Brasil, Balcão), o número de pessoas físicas realizando esse tipo de investimento cresceu 19% no quarto trimestre de 2022 contra igual período de 2021.
E os números mostram que a sede por risco em busca de rentabilidade e diversificação parece um pouco mais intenso no Ceará: em um ano, entre novembro de 2021 e novembro do ano passado, o número de pessoas no Estado adentrando no universo da renda variável saltou 49,2%, passando de 68,8 mil para 102,7 mil, conforme os recortes mais recentes da instituição por CPF e por Estado.
Apesar de estarmos tratando de bases de comparação diferentes quando falamos de Ceará e Brasil, o economista e coordenador dos cursos de Ciências Econômicas e de Finanças da Universidade de Fortaleza (Unifor), Allisson Martins, tem uma leitura que ajuda a entender os números da B3: para ele, os cearenses e os brasileiros continuam em um momento de descoberta dos diversos produtos que a renda variável oferece.
“As pessoas estão descobrindo as possibilidades de investimentos e estão mais interessadas em ter novos produtos na carteira, adentrando nesse mercado. Elas vão em busca não só das ações, que são o carro-chefe, mas estão cada vez mais atraídas pelos ETFs, BDRs, com a chance de investir no exterior, os fundos imobiliários, então acho que tem muito dessa vontade de aplicar recursos em novas alternativas”, avalia Martins.
Ele lembra que o ritmo de crescimento já foi mais intenso em meados da pandemia, quando vários produtos alcançaram patamares incrivelmente baixos e permitiram até aos mais receosos dar uma chance à renda variável - enquanto aguçou ainda mais o apetite dos experientes desse mercado.
Em linha com esse raciocínio, o diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoa Física da B3, Felipe Paiva, lembra que o número de pessoas físicas chegando à bolsa vem crescendo paulatinamente desde 2018, com investidores cada vez mais jovens e com valores baixos, com destaque para a diversificação de produtos.
Para ele, esse avanço está relacionado à disseminação da educação financeira e às evoluções digitais. "Com a alta dos juros, que ganhou força a partir do meio de 2021, os produtos de renda fixa ganharam novos aportes e também novos investidores. As pessoas perceberam que é possível diversificar a partir dos produtos oferecidos pela B3, seja em renda fixa ou variável, para compor uma carteira que equilibre os riscos e a rentabilidade", diz.
Setor agro em destaque
O interesse por novos produtos é corroborado pela B3, que ao divulgar os resultados do quarto trimestre de 2022 destacou o furor dos investidores por produtos relacionados ao agronegócio. Como exemplos, há o LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e o Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais), que tiveram salto em número de investidores e em volume de recursos aportado.
“A diversificação tem se mostrado um importante vetor de crescimento para do mercado de capitais brasileiro. Uma visão setorial dos dados de investimentos de pessoas físicas na B3 mostrou que os produtos ligados ao agronegócio tiveram um salto em termos de número de investidores e volume aplicado em 2022. Os números cresceram 95% e 79%, respectivamente, atingindo 1,6 milhão de investidores e R$ 411 bilhões em recursos distribuídos em LCA, CRA e Fiagro”, diz o comunicado da B3.
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Paiva justifica que o setor agro é um dos mais importantes para a economia brasileira e lembra que ele foi responsável por 25% do PIB em 2022.
"O investidor vem percebendo que é possível participar, não apenas desse como de outros setores produtivos, por meio de uma série de produtos de renda fixa e variável", explica Paiva, destacando que 19,5% de tudo o que está investido na B3 está em produtos ligados ao agro "mas há outros 18,4% em produtos imobiliários e outros tantos setores".
Valor em estoque
Quando falamos do valor em estoque - ou o valor aportado na renda variável, eram R$ 7,2 bilhões referentes aos cearenses em novembro de 2022, contra R$ 8,5 bilhões em novembro de 2021, uma queda de 15%.
Allisson Martins explica que o valor de estoque é influenciado pela performance dos ativos. “Esse valor em estoque é resultado de três variáveis: aportes, saques e performance dos ativos. De maneira bem simples, se uma pessoa vai lá e investe R$ 100 e aquele ativo cai 10%, então cai para R$ 90”, pontua.
Além disso, o economista lembra que obviamente não deixou de haver certa migração de recursos para a renda fixa, na esteira da Selic de 13,75% ao ano. Enquanto isso, a bolsa brasileira amarga queda de cerca de 7% só em 2023.
Homens e mulheres cearenses na renda variável
Apesar de em 2021 elas terem batido a importante marca de R$ 1 bilhão na renda variável, as mulheres cearenses ainda têm espaço para conquistar mais expressividade no mercado em número de CPFs. De acordo com os dados da B3, em novembro de 2022, elas eram apenas 22,4 mil contra 80,3 mil homens investindo.
Além disso, ao acompanhar os números mês a mês nos últimos dois anos, é possível ver que elas vão conquistando espaço de forma um pouco mais lenta. Allisson Martins detalha que as mulheres são mais cautelosas e talvez essa aversão um pouco maior ao risco ajude a explicar, mas ele frisa que, em volume de recursos, elas estão ganhando destaque. “Os homens vem apresentando um volume maior de invstidores, mas em termos de recursos elas estão crescendo”.
“O mundo das finanças ainda é muito masculino, mas eu observo que hoje há duas forças motrizes empurrando as mulheres para esse meio: as influenciadoras de investimentos, o que tem um efeito sobre esse cenário, e a outra é que, dentro da universidade, eu observo um número cada vez maior de mulheres em cursos de finanças e economia”, diz Martins. Hoje, ele detalha que a proporção nas salas de aula é cerca de 30%, 40% de mulheres para 60% a 70% de homens, mostrando que ainda há um caminho a percorrer até que esses percentuais fiquem mais próximos da paridade.