Nova rota entre Ceará e China deve beneficiar Shopee e AliExpress aumentar em 20% as importações

Pecém passa a contar com ligação com diversos portos asiáticos, reduzindo o tempo de ligação entre o continente e o Estado

Escrito por
Luciano Rodrigues luciano.rodrigues@svm.com.br
(Atualizado às 14:54, em 14 de Abril de 2025)
Foto que contém o navio MSC Qingdao atracado no Porto do Pecém
Legenda: Navio MSC Qingdao atracado no Porto do Pecém. A rota é a primeira que vem da Ásia para o Brasil e para primeiro no Ceará, aumentando a eficiência logística
Foto: Cipp/Divulgação

A inauguração de uma nova rota para transportes de cargas entre a Ásia (principalmente a China) e o Porto do Pecém, na Região Metropolitana de Fortaleza, deve trazer ganhos logísticos para plataformas de e-commerce, como Shopee e AliExpress.

Conforme análise de especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, a tendência é de que, com um tempo menor de deslocamento realizado praticamente de forma direta, já que o porto cearense será a primeira parada dos navios no Brasil, as plataformas digitais tenham custos reduzidos com as operações de importações de mercadorias, além de um aumento de 20% no volume do que chega do exterior.

O anúncio, ocorrido nesta quarta-feira (8), explica como será a nova rota. Chamada de Serviço Santana, o trajeto é operado pela MSC em parceria com a APM Terminals. De acordo com a divulgação, o ineditismo fica por conta da ligação direta entre a China e o Ceará.

A rota percorre, no continente asiático, o porto de Mundra (Índia) e passa por Singapura até chegar à China. De lá, segue por Yantian, Ningbo, Xangai — maior porto do mundo — e Qingdao.

Ainda na Ásia, faz uma última parada em Busan (Coreia do Sul) antes de retornar à América pelo Oceano Pacífico, onde chega ao Pecém, mas antes faz escalas em Cristobal (Panamá) e Caucedo (República Dominicana). Segundo material divulgado, a ideia é reduzir a conexão entre o continente e o Ceará praticamente pela metade.

"A nova rota marítima entre a China e Fortaleza reduz significativamente o tempo de transporte de mercadorias e favorece essa logística. (…) O tempo de deslocamento, que atualmente é de cerca de 60 dias, passará para apenas 30 dias, tornando o Ceará ainda mais competitivo no cenário do comércio exterior", frisa Max Quintino, presidente do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).

Veja também

Para o advogado especialista em logística e direito marítimo Larry Carvalho, a estimativa é de que os custos de operação dos agentes portuários com a nova rota pode cair cerca de 20%, com benefícios principalmente para o Estado.

"Considerando a redução de 50% no tempo de transporte e os ganhos de eficiência nas operações portuárias do Pecém, estimo uma redução nos custos logísticos na ordem de 20%, dependendo de fatores como o volume de carga, a negociação com armadores e a estabilidade da demanda. Esse percentual pode ser ainda maior para cargas sensíveis ao tempo, onde a agilidade é um diferencial competitivo", pontua.

Negócios da China atravessam o Pacífico rumo ao Ceará

A grande novidade da rota é para as importações, ou seja, para as mercadorias que chegam ao Estado vindas da China. Atualmente, os produtos que vêm do continente asiático por via marítima para o território cearense saem dos portos chineses ou de outro país da região e desembarcam em Santos (SP).

A partir de lá, sobem para o Ceará por meio da navegação de cabotagem. O trajeto permanece em vigor. Com o Serviço Santana, em vez de as mercadorias percorrerem os oceanos Índico e Atlântico, contornando o Cabo da Boa Esperança, ao sul da África, para chegar ao Ceará, vão cruzar o Pacífico, passar pelo Canal do Panamá e desembarcar no Pecém. 

O especialista em comércio exterior e CEO da JM Negócios Internacionais, Augusto Fernandes, celebra a nova rota, e acredita que ela pode trazer ganhos significativos para a logística cearense.

A expectativa é que o transporte de cargas aumente consideravelmente, e o aumento de fluxo de carga pode ser que chegue a 20% de importação. É uma mudança que representa um ganho relevante em eficiência para os importadores. 
Augusto Fernandes
Especialista em comércio exterior e CEO da JM Negócios Internacionais

Legenda: Lojas de importados trabalham com variedades que vão da papelaria à decoração, passando por utensílios domésticos, maquiagens e cosméticos, entre outras categorias
Foto: Fabiane de Paula

No sentido das exportações, segue inalterado. As embarcações saem do Pecém, passam ainda, no Brasil, pelos portos de Suape (PE), Salvador (BA) e Santos, até iniciar novamente a rota em Mundra.

Essa nova rota traz uma estimativa de um crescimento de 10% na movimentação de cargas no Pecém, uma vez que a rota deve contar com, no mínimo, 1,2 mil contêineres chegando semanalmente no porto.

"O mercado asiático tem uma população de mais de 2 bilhões de pessoas, representando uma oportunidade para conectarmos os produtos nordestinos com a Ásia, e vice-versa. Desde granito, mármore, castanha de caju, cera de carnaúba, frutas, calçados e têxteis, até milhares de produtos de e-commerce. Além disso, as indústrias do Ceará e toda a sua área de influência poderão importar maquinário e insumos desse mercado asiático", diz o diretor comercial do Cipp, André Magalhães.

Quanto tempo vai levar entre a China e o Ceará?

Os cerca de 30 dias anunciados entre os portos chineses e o Pecém referem-se ao tempo de navegação entre Qingdao, a última parada na China, e o território cearense. A previsão real, contudo, é de que, em média, esse trajeto leve 37 dias.

Considerando os demais portos do país asiático, sobretudo Xangai, a ligação deve levar, em média, 39 dias. Em relação a Mundra, o deslocamento pode levar aproximadamente 56 dias, enquanto o menor trajeto será de Caucedo, na República Dominicana, para o Pecém, de somente 6 dias.

Empresas de e-commerce asiáticas serão beneficiadas

Para Augusto Fernandes, na prática, deve haver sim um aumento das importações, mas isso não deve trazer impactos nos custos das mercadorias para o consumidor final, o que incluiria redução nos preços em produtos comprados nas plataformas de e-commerce. As maiores beneficiadas devem ser as próprias empresas.

“A redução no custo não é tão expressiva, mas o impacto no tempo de transporte é. Normalmente, o tempo médio de envio dos principais portos da China para o Porto do Pecém gira entre 60 e 65 dias. Com a nova rota, esse prazo cai para cerca de 30 dias. Isso permite que as empresas ajustem seus processos, reduzindo a necessidade de grandes estoques e otimizando a logística”, defende.

Em um contexto de uma economia globalizada, porém ameaçada pela guerra comercial promovida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a chegada de produtos asiáticos com a nova rota marítima deve beneficiar as empresas que vendem mercadorias para brasileiros.

O direcionamento das importações que virão no novo trajeto entre a Ásia e o Ceará é de cargas gerais, como explica Augusto Fernandes, incluindo produtos bastante consumidos e até mesmo manufaturados no Estado, como eletrodomésticos e tecidos.

Foto que contém mapa mostrando o Serviço Santana, ligação marítima que vai ligar o Porto do Pecém, no Ceará, até portos asiáticos
Legenda: Percurso feito pela nova rota marítima entre os portos asiáticos e o Pecém, na Grande Fortaleza. Importações terão tempo reduzido de chegada ao Estado, uma vez que saem da Coreia do Sul, atravessam o Canal do Panamá para chegar ao Ceará
Foto: Cipp/Divulgação

"A demanda nessas plataformas é muito alta. Essas importações costumavam chegar pelo Porto de Santos, que já possui o tempo de trânsito de 30 dias. Agora, o Porto do Pecém consegue atender no mesmo prazo. O Porto de Suape, nosso vizinho, já operava com essa vantagem, o que levava muitos importadores do Ceará a utilizarem aquela estrutura. Com essa nova rota chegando ao Pecém, ganhamos competitividade e ampliamos o volume de cargas que o porto já movimenta", avalia.

Essa rota com a Ásia deve beneficiar também as exportações, como argumenta Larry Carvalho. Com a maior conectividade com os portos asiáticos, a tendência é que o Ceará se consolide como um hub portuário do Brasil, pela proximidade com o Canal do Panamá, por onde passam as principais rotas marítimas oriundas dos países orientais.

Isso melhora a competitividade das exportações cearenses, como frutas e calçados, que demandam rapidez para preservar qualidade e atender mercados exigentes. Além disso, atrai investimentos ao Estado, pois empresas passam a enxergar o Pecém como uma porta de entrada e saída mais eficiente para o comércio com a Ásia. O impacto positivo se estende à geração de empregos e ao fortalecimento da economia local, consolidando o Ceará como um elo estratégico no comércio global.
Larry Carvalho
Advogado especialista em logística e direito marítimo

A reportagem entrou em contato com o Grupo Alibaba, conglomerado dono de empresas de e-commerce como a AliExpress, e com a Shopee para entender os ganhos das empresas com a nova rota marítima. Quando houver retorno dos questionamentos, este material será atualizado.

 

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados