Inflação no Brasil deve encerrar o ano maior do que em 159 países
Considerando projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) preços de produtos e serviços no País são maiores do que em 83% das nações
Os preços de produtos e serviços no Brasil devem encerrar o ano de 2021 maiores do que em 159 países - ou 83% das nações. É o que revela um estudo divulgado nesta terça-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A previsão do FMI é que a inflação no Brasil chegue ao fim de 2021 a 7,9% - dado um pouco abaixo da projeção de 8,6% feita em outubro pelo Banco Central no Boletim Focus.
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Se for considerada a projeção do Boletim Focus para a inflação no Brasil em 2021, os preços no País são mais altos que 86% das nações.
Em outubro de 2020, a previsão do FMI era de inflação a 2,9% em 2021. O Boletim Focus de igual período trazia uma projeção de 3%.
De janeiro a setembro, a inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acumula alta de 6,9%. Em 12 meses, o índice já subiu 10,2%. Em Fortaleza, a inflação no ano acumula alta de 7,8%.
Em abril de 2021, a proporção de países que tinham uma previsão de inflação anual menor que a do Brasil era de 70%. Considerando a projeção de inflação para 2021 feita em outubro do ano passado, o Brasil tinha um percentual menor que 57% das nações.
Desvalorização cambial
Um dos motivos para explicar os números brasileiros muito acima da média dos outros países, segundo André Braz, coordenador do IPC do FGV/Ibre, é a pressão inflacionária gerada pela desvalorização do real frente ao dólar, que vem elevando o custo de produtos e serviços no mercado interno.
O principal reflexo pode ser apontado como o encarecimento dos combustíveis mais usados no Brasil (gasolina e diesel), que tem sofrido reajustes constantes da Petrobras por conta das variações do preço do barril de petróleo no mercado internacional.
Além disso, Braz destacou que o Brasil está passando por um problema de oferta energética por conta da crise hídrica. Com os níveis dos reservatórios em baixa, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aplicou taxações adicionais ao consumo no País a partir de bandeiras tarifárias.
Combinados, energia e combustíveis, segundo o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, combinaram para 50% da inflação brasileira.
"Eu acredito que a principal diferença está na desvalorização da nossa moeda. Alguns países pagam mais por alguns alimentos e por combustível, mas nosso país tem uma moeda muito desvalorizada, então parte disso pode ser explicado pelo câmbio. No próximo ano, vamos continuar com os desafios da inflação, mas um grande vilão tem sido a energia elétrica. Cerca de 50% da inflação acumulada em 12 meses é energia e combustíveis, por conta das bandeiras e da alta do petróleo", explicou.
Previsões para 2022
Contudo, Braz projetou que a pressão inflacionária pode ser reduzida no próximo ano a partir da melhora dos índices dos reservatórios e pelas medidas de aumento dos juros pelo Banco Central.
Caso o Brasil registre bons níveis de chuva no próximo ano, a Aneel deverá reduzir o nível das bandeiras tarifárias, enquanto a elevação da taxa básica de juros (Selic) poderá ajudar na redução de demanda no consumo.
Apesar das perspectivas positivas, o economista do FGV/Ibre afirmou que o Governo Federal poderia atuar de forma diferente para tentar controlar melhor a inflação, passando a explorar mais a política monetária aliada à política fiscal.
"Para o ano que vem, como a bandeira é transitória e a perspectiva é que a bandeira vermelha acabe em abril de 2022, então a partir de maio já poderíamos ter bandeiras menos onerosas e, se as chuvas forem boas, até a ausência de cobrança adicional. Nesse caso, por conta da energia, haveria uma desaceleração da inflação. E o que a gente tem feito para combater o preço dos produtos é aumentar os juros, então a pessoa tem um prêmio para postergar o consumo", disse Braz.
"Mas os desafios são muitos, porque a inflação não é de demanda, mas sim de custos, sustentada por aquecimento global em que se busca mais petróleo e mais energia. Não faltam desafios, e a política monetária tem suas limitações, mas precisaríamos contar com uma política monetária", completou.