Entidades de comércio e serviços reagem à demolição do Edifício São Pedro: 'decisão sensata'
Instituições são unânimes em reconhecer que, apesar da importância histórica, prédio já apresentava sinais de precariedade
Nesta terça-feira (5) começaram as obras no Edifício São Pedro, na avenida Beira-Mar, na Praia de Iracema. A situação trouxe reações de diversos segmentos produtivos do Ceará. Há a unanimidade a favor de que o destino da edificação, que já apresentava extensos danos, fosse mesmo a demolição.
Dentre os posicionamentos, estão o da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel); da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis — Ceará (Abih-CE); do Sindicato Estadual de Guias de Turismo Ceará (Sindegtur-CE); e da entidade Visite Ceará, focada na promoção do turismo no Estado. Todas as manifestações estão alinhados com o discurso do prefeito da capital cearense, José Sarto.
Para o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, a ação que deve dar fim ao Edifício São Pedro é coordenada em um momento de maior atenção à Praia de Iracema.
Além da revitalização da região, nas obras da Prefeitura, há ainda as reformas que acontecem nas proximidades tanto na Ponte dos Ingleses como na estrutura do futuro Campus Iracema da Universidade Federal do Ceará (UFC), visando atrair novos empreendimentos comerciais.
"Aquela região vai crescer significativamente em função disso, ou seja, você já tem o Centro Dragão do Mar, tem todo aquele espaço que já é desenvolvido pelo turismo, e agora com a chegada do campus Iracema, lá da UFC, esse novo espaço pode ser um espaço complementar", diz.
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Ricardo Coimbra alerta que é preciso saber qual será o destino do terreno, uma vez que ainda não uma definição oficial, nem por parte da Prefeitura, que vai demolir o Edifício, nem pelo proprietário do prédio sobre quais os próximos passos.
Precisaria saber o que vai ser feito: praça, prédio, centro cultural. À medida que você tem um dimensionamento do que possa surgir naquele espaço que hoje é um espaço de degradação, você potencializa a melhoria da utilização do espaço e, como consequência, uma melhoria econômica, visto que deve ter sido feito o estudo de que não o custo, e talvez arquitetonicamente fosse inviável fazer a restauração do espaço.
Segmentos produtivos coordenados
A presidente do Visite Ceará, Ivana Rangel, chama a decisão da Prefeitura de "a mais sensata", apontando que a permanência da edificação no local seria um "grande empecilho" para o avanço das obras de requalificação da Avenida Beira-Mar, que deve priorizar o desenvolvimento da economia local e do turismo.
"A decisão de demolir o edifício garante a segurança do local e contribui para a valorização dos investimentos públicos realizados na região, que possui um valor histórico, econômico e cultural inestimável para a cidade", pondera.
Por meio de nota assinada pelo presidente Alberto Augusto de Lima Neto, o Sindegtur-CE critica o impasse entre os Poderes Públicos sobre o tombamento do edifício, um dos fatores contribuintes ao risco iminente de desabamento. Há laudos que atestam há alguns anos que o prédio é irrecuperável do ponto de vista estrutural.
"A ação do prefeito é respaldada e justificada para evitar o risco de desmoronamento e perda de vidas, seguindo as regras urbanísticas do município de Fortaleza. O presidente também é a favor da preservação e conservação de patrimônio material, imaterial e natural. Contudo, a restauração fica inviável, como neste caso. Não podemos ignorar os riscos que este edifício São Pedro causaria e vinha em circunstâncias de Segurança Pública, com até a morte de pessoas que ali transitam e moram", pontua a entidade.
Já o presidente da Abih-CE, Régis Medeiros, acredita que a demolição do São Pedro, além de "necessária para garantir a segurança da população e revitalizar a Praia de Iracema", pode trazer novas opções de uso para o espaço, sobretudo espaços públicos, como "parque, área de lazer ou em centro cultural".
Taiene Righetto, presidente da Abrasel no Ceará, defende que a medida, "firme e necessária", servirá para ampliar as ações do setor de bares e restaurantes na região no contexto das reformas na Praia de Iracema.
"A revitalização do espaço contribuirá não apenas para a segurança, mas também para a atração de visitantes e o fortalecimento do setor de bares e restaurantes na região, incentivando a população a prestigiar os estabelecimentos locais, que, sem dúvida, serão beneficiados", completa.
O Diário do Nordeste entrou em contato com a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) para entender como a demolição pode impactar o setor de comércio e serviços nos arredores do edifício, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
Entenda o assunto
O anúncio de José Sarto, na segunda-feira (4), que revelou a demolição "imediata" do São Pedro, está diretamente ligado com a requalificação da Praia de Iracema. Segundo o prefeito, o avanço das obras está "em ritmo acelerado", e a intervenção ocorre para evitar ainda mais problemas.
"Vamos iniciar os serviços de pavimentação ali, justamente no entorno do edifício São Pedro. Um serviço que vai fortalecer ainda mais o turismo, estimular o empreendedorismo, proporcionar lazer para moradores da região e de toda a Cidade. E não há qualquer cabimento em fazer uma requalificação como essa para atrair mais pessoas para aquela área e manter uma edificação que coloque em risco a vida dos trabalhadores e dos visitantes", classificou o prefeito.
A expectativa é de que as obras do Edifício São Pedro, nos moldes atuais, seja concluída em até 90 dias, ou seja, até o início de junho. O valor total da intervenção será de R$ 1,7 milhão, em processo que deverá ser custeado pelos proprietários do prédio, de acordo com o secretário de Infraestrutura de Fortaleza, Samuel Dias.
O edifício está em tratativas de tombamento há pelo menos 18 anos, e não houve acordo para que o prédio se tornasse patrimônio histórico nem do município, nem do Estado e nem do País. A edificação foi inaugurada em 1951, e à época, era um dos principais hotéis da cidade, sendo chamado por vezes de "Copacabana Palace Cearense", em alusão ao empreendimento do Rio de Janeiro.