Entenda por que casas de bets e jogos como o 'tigrinho' atraem influencers no Brasil

Prisão de Deolane Bezerra acendeu alerta sobre responsabilidade por aquilo que postam, defendem e vendem nas suas redes sociais

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Jogo do Tigrinho
Legenda: Brasileiros são influenciados por pessoas públicas para jogos e apostas online
Foto: Shutterstock

O envolvimento e uso de influencers e pessoas públicas como "garotos propaganda" de sistemas de apostas online, as conhecidas popularmente como 'bets', chama a atenção não só daqueles que acreditam na promessa de ganhar dinheiro fácil, como também das autoridades policiais e da justiça. O caso da advogada e influenciadora Deolane Bezerra, coloca foco nessa discussão.

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Presa por suspeita de participação em um esquema voltado à prática de jogos ilegais e lavagem de dinheiro, envolvendo a empresa Esportes da Sorte, voltou para a mídia nesta quarta-feira (18), quando ela teve o seu segundo pedido de habeas corpus negado pelo Superior Tribunal de Justiça. 

Mas você já pensou quais os motivos que levam essas empresas a cooptar pessoas públicas para promover as suas atividades? Você conhece alguém que foi influenciado por alguma personalidade e está se endividando com essas práticas, que nada mais são do que jogos de azar maquiados?

Pois o psicólogo financeiro, Celso Sant'Ana, explica que o que está sendo procurado nestes casos, ao pagar uma personalidade para divulgar os jogos, é o poder de alcance e o tipo de público engajado naquele influenciador.

"Você têm pessoas com acesso a audiências já engajadas, muitas vezes, até por outras questões. Então, eles são procurados principalmente no que diz respeito as redes sociais, porque a publicidade feita para esse público específico e engajado vale muito mais do que se a empresa pagasse uma publicidade patrocinada, por exemplo, no Instagram. Com os influencers as empresas de apostas e jogos ganham em alcance”.

Uso da credibilidade e da confiança

O psicólogo também diz que em muitas dessas publicidades o influenciador, pessoa admirada pelo seu público, aparece em vídeos onde se mostram jogando e ganhando. Isso seria usado para mexer com o emocional dos seguidores, usando as questões de credibilidade e confiança. 

"O usuário acredita que se aquela pessoa pela qual ele nutre admiração ou afeto, está dizendo que está jogando e está ganhando, aquilo é uma verdade. Ele tem essa ilusão de que 'eu posso também conseguir'. Ou seja, esse produto é de confiança, uma vez que ele está sendo promovido por uma pessoa que eu já tenho um afeto envolvido".

Deolane Bezzera mansão e carro luxuoso
Legenda: Exposição de mansões e carros luxuosos por influenciadores, como Deolane Bezerra, unidos com publicidade de jogos e apostas podem induzir público
Foto: Reprodução/Instagram

Além de promover, vale lembrar que muitas vezes os influenciadores acabam recebendo porcentagens calculadas em cima do dinheiro que os seguidores cooptados colocam nas plataformas de apostas online. Isso se dá por meio de links exclusivos que cada personalidade tem e disponibiliza através dos seus perfis nas redes sociais.

"Ou seja, são valores altíssimos, muitas vezes, conseguidos de pessoas que caem nessa falácia de que é possível ganhar dinheiro de forma fácil e isso pega ainda mais para aquela pessoa que está vulnerável, desesperada, precisando de dinheiro, e vendo que outra pessoa que ela acredita está conseguindo ganhar", reforça. 

Sant'Ana lembra ainda que esse é um mercado multimilionário, com condições de pagar muito bem esses influenciadores e que acabam tendo um valor de retorno desse investimento muito maior.

Que responsabilidade os influencers têm quando há irregularidades?

Ao emprestar o nome ou a sua marca a terceiros, neste caso para empresas de apostas online, o influenciador ou artista pode ser responsabilizado caso haja alguma irregularidade apontada.

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Segundo o advogado Leonardo Borges, membro da Comissão de Estudos em Direito Penal da OAB-CE, a responsabilização do influencer pode se dar de acordo com a comprovação do nível de conhecimento que ele tinha daquele negócio. Assim, se tiver conhecimento da irregularidade, pode haver responsabilidade nas esferas cível e penal.  

Na esfera cível, o caso é tratado como de responsabilidade extra contratual. Já em uma situação que o especialista considera "mais remota", também pode se pensar em uma responsabilidade criminal, em um eventual estelionato. Porém, neste caso, seria preciso comprovar que aquela pessoa responsável por fazer a propaganda tinha conhecimento de irregularidades como uma empresa de fachada, por exemplo. Com isso, teria induzido ao erro as vítimas, visando a obtenção de alguma vantagem ilícita.

"Essa é uma situação não muito usual. É bem mais difícil acontecer, mas não se afasta como um todo. O fato é que a responsabilidade civil é mais fácil de se visualizar e configurar".

O advogado ainda lembra que os influenciadores têm responsabilidade pelas empresas que vinculam suas marcas. "É o que se chama, no campo da responsabilidade cível, de 'culpa in eligendo' (expressão em latim usada para configurar culpa por ter escolhido), nessa caso de associar a sua figura as empresas de apostas e jogos online".

Como toda a repercussão do caso Deolane, Borges diz já haver um movimento de influenciadores de se desvencilhar de contratos não muito claros, com jogos de apostas, já com receio desse tipo de responsabilização.

“Com a prisão recente de uma influenciadora, pude analisar que outros influenciadores importantes estão tirando o nome e até estão dizendo publicamente que se arrependem de vincular suas imagens as bets”, comenta.

Cuidado com os exemplos da internet 

O psicólogo financeiro Celso Sant'Ana destaca que por termos uma educação financeira baixíssima no país, as pessoas em maior vulnerabilidade econômica e social são as que mais estão sendo impactas por esses jogos de azar online.

Jogo de apostas online
Legenda: Facilidade de jogos de apostas online têm endividado e viciado brasileiros
Foto: Shutterstock

“Já foram evidenciados casos de pessoas que recebem Bolsa Família, ou seja, pessoas de baixa renda que já recebem uma ajuda, uma assistência do governo, e acabam sendo mais vulneráveis, justamente por essa perspectiva de você poder pegar o seu telefone e em alguns minutos já ganhar dinheiro”.

O especialista ainda reforça que todas essas plataformas se utilizam do emocional das pessoas e por isso, saber se relacionar bem como dinheiro é fundamental.

“E ainda estamos vendo um aumento da ludopatia, que é esse vício pelo jogo. Ou seja, em um determinado ponto o dinheiro deixa de ser o motivador e vem a necessidade de jogar. E agora, como o cassino passou para dentro do telefone, isso está crescendo muito. O cenário não está muito promissor para a saúde mental dos brasileiros nessa perspectiva de saúde financeira”, reforça.

 

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