Ensinos técnico e profissionalizante são caminhos para inclusão econômica de jovens de baixa renda

No 2º episódio desta reportagem especial, especialistas apontam necessidade de ampliar a capacitação para o ingresso no mercado do futuro

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Jovem no computador
Legenda: Graças à política pública de formação profissionalizante, a mercadóloga Rokssanem Freire, de 26 anos, conseguiu recolocação na área da tecnologia
Foto: Kid Jr / SVM

Investir na educação básica e na inclusão digital é primordial para dar condições aos jovens mais pobres de disputarem por empregos de qualidade e bem remunerados, conforme discutido no 1º episódio. Entretanto, é necessário ir além e ampliar a capacitação para prepará-los para o mundo atual do emprego.

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A pesquisadora do Centro de Análise de Dados e Avaliação de Políticas Públicas (Capp) do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Natália França, reflete que o conjunto de práticas a serem adotadas precisam focar no ensino técnico e profissional, mas também priorizar a inovação. 

No entanto, pondera, em um contexto marcado por amplas desigualdades, são indispensáveis recortes por gênero e por raça para propiciar maior equidade.

“Do contrário, as diferenças na exclusão digital irão reforçar cada vez mais as disparidades sociais com as quais vivemos”, frisa.

“Com o dinamismo dos tempos atuais, precisamos de soluções novas, de cérebros pensantes, de pessoas atuantes, para que se engajem cada vez mais nas profissões do futuro. Nesse contexto, além de garantir o acesso à tecnologia, devem ser fornecidas ferramentas para que a juventude seja curiosa, tenha pensamento crítico”, diz. 

O doutor em Educação e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Gregório Grisa, acrescenta que as políticas públicas para formação técnica podem ser combinadas com as de transferência de renda para evitar a evasão escolar, além das refeições no próprio colégio.

Um exemplo delas seria uma poupança ou um benefício para estudantes do ensino médio, propostas já discutidas no Congresso. 

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“Sem alimentação, é muito difícil que o jovem permaneça na escola. No fim do curso, temos que tentar um processo de interação mais intenso com o setor produtivo. Ou seja, se o jovem tem a previsão de empregabilidade, a gente já tem um aceno bem melhor para ele concluir”, exemplifica. 

O especialista em Educação ressalta a necessidade de avaliações contínuas e sistemáticas para definir e executar ações bem planejadas, considerando, também, questões socioemocionais e habilidades tecnológicas. 

“A gente está falando em economia digital, mas o que sabemos sobre o que os alunos sabem sobre isso? Sabemos muito pouco. Não temos uma avaliação dos estudantes em relação a isso. Precisamos pensar”, sublinha.
  

A busca por um espaço na economia digital 

Personagem
Foto: Kid Jr

Em 2021, a mercadóloga Rokssanem Freire, de 26 anos, procurava saídas para migrar para a área de tecnologia. Ela avistou essa oportunidade em eventos e cursos do Juventude Digital (JD),

Ao longo de 2022, a jovem continuou se capacitando, realizando o último curso em agosto. Três meses depois, conseguiu emprego como web designer.

“O programa ajudou-me a alcançar o objetivo de sair do marketing e ir para a tecnologia. Foi uma forma de acesso para a transição, mas quero continuar estudando e fazendo as trilhas do próprio JD para conquistar o meu sonho maior”, planeja uma carreira no setor. 

“Esse é um tipo de política pública que faz muita falta para a população vulnerável. Temos comunidades, pessoas e família que precisam de qualidade de vida”, completa.  

Juventude Digital é um exemplo de política pública que transforma realidades

Implementado em 2021, o Juventude Digital é um modelo de conjunto de ações com foco na inclusão digital e na geração de emprego e renda. Além das capacitações, é feita a ponte com o setor privado e o público para uma busca ativa para a colocação dos alunos no mercado de trabalho. 

Segundo a coordenadora Ianna Brandão, até outubro deste ano, 14, 3 mil pessoas foram formadas desde a criação. O serviço é voltado para alunos de baixa renda, entre 15 e 29 anos, prioritariamente oriundos da rede pública de ensino. 

“A razão do projeto existir é termos um cenário crítico em relação ao desemprego na juventude. Do outro lado, há um mercado superaquecido de tecnologia, sobrando vagas, e jovens precisando de oportunidades. Então, estamos conseguindo criar esses caminhos”, explica Ianna. 

Ela aponta serem realizadas feiras para aproximar os estudantes dos empregadores, além de visitas às empresas. Também há projetos de bolsas para estágios nas pastas da prefeitura, como o "Programa Futuros Rede Cuca", em parceria com a Controladoria e Ouvidoria Geral do Município (CGM). 

A iniciativa beneficiou, por exemplo, o Kawhan Santos, citado no  1º episódio desta reportagem. A seleção ocorreu por edital específico, com a abertura de 20 vagas. 

Personagem digitando
Legenda: Em breve, Kawhan será o primeiro da família a ter um diploma de ensino superior. Uma conquista que os familiares não tiveram em razão das faltas de oportunidades
Foto: Kid Jr / SVM

Destas, 15 foram preenchidas por jovens do JD. Após o processo seletivo, dois deles foram contratados prestadora de serviço da CGM, um terceiro foi para o Instituto Juventude Inovação. 

A partir dos resultados, foi implementada uma 2ª etapa com mais 50 vagas para o público do "Bolsa Jovem", da Secretaria da Juventude, com duração de 12 meses.

O programa, direcionado exclusivamente para aqueles jovens oriundos do Juventude Digital, promete ampliar a ação de transferência de renda, para que os contemplados associem seus projetos de vida com soluções a serem desenvolvidas na CGM. 
  

Não há, contudo, um estudo sobre a empregabilidade dos assistidos pela política pública permanente. Segundo Ianna, essa mensuração deverá ocorrer a partir de 2023. 

Conheça as profissionais emergentes e como está a demanda no mercado de trabalho
Infogram

Como participar do Juventude Digital 

Segundo a coordenadora Ianna Brandão, em 2023, a meta é formar 2,5 mil alunos por mês. Para participar, basta acessar o site do Juventude Digital (JD), realizar o cadastro e escolher a capacitação desejada.

O projeto oferece cursos online gratuitos na área de tecnologia. Os estudantes que não têm acesso à internet e/ou equipamentos podem utilizá-los na Casa de Cultura Digital e nos espaços reservados para o projeto na rede dos Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca). 

Alunos do 9º ano da rede pública municipal também podem fazer as aulas no contraturno. Neste ano, quase 7 mil foram contemplados, totalizando 100 escolas. 

Os educandos aprendem lógica, programação e matemática para desenvolver um jogo básico, ampliando o contato com a tecnologia e abrangendo o desenvolvimento cognitivo e socioemocional. 

Os outros dois eixos são o “D Mercado”, com cursos de programação e design, e  “JD Games,” específico na área de jogos digitais.

O Juventude Digital é coordenado pela Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova) e conta com a parceria das secretarias municipais da Juventude e da Educação.   

 

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