Do aço ao couro e até roupa para esquiar: veja os principais produtos que o Ceará exporta para os Estados Unidos
País norte-americano é destino de quase metade de tudo o que comercializado entre o território cearense e o exterior

O Ceará exportou, em 2024, cerca de US$ 1,5 bilhão (aproximadamente R$ 8,2 bilhões na cotação atual). Desse total, a maior parte — 44% no total — das mercadorias cearenses teve como destino os Estados Unidos, que recebe principalmente produtos da indústria siderúrgica e calçadista, mas também de outros segmentos incomuns no dia a dia dos cidadãos. Na quarta-feira (2), o presidente Donald Trump anunciou uma taxação de 10% em produtos brasileiros vendidos para os EUA.
O país norte-americano recebeu, em 2024, o equivalente a US$ 659 milhões (R$ 3,7 bilhões na cotação atual). Os dados são da plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Do volume exportado pelo Ceará, o destaque fica pelas exportações de produtos siderúrgicos. Assim como nos anos anteriores, eles são os principais materiais que chegam aos demais países, em especial aos Estados Unidos, principal destino de itens como aço e minério de ferro cearenses.
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Logo na sequência aparecem os produtos da indústria de pescados. Vale lembrar que o Ceará comercializa animais marinhos com o exterior, mas deixando de fora a União Europeia em virtude de um embargo em vigor desde 2018. Os Estados Unidos são o principal destino dessas mercadorias.
Completam a lista dos dez produtos mais exportados do Estado para o território estadunidense produtos culturais do Ceará, como couro animal, frutas processadas em formato de suco e castanha-de-caju.
Dentre os produtos mais curiosos de exportações estão roupas de esqui, esporte praticado na neve — ou seja, fora do Ceará e mais próximo de regiões frias, como o próprio país norte-americano. Em 2024, o Ceará comercializou vestimentas da modalidade com o país norte-americano, assim como casacos de algodão de uso feminino.
Estados Unidos taxam o Brasil em 10%, e Ceará pode ser um dos afetados
Pela segunda vez em 2025, o presidente do país norte-americano, Donald Trump, anunciou que os produtos brasileiros importados pelo país vão ser taxados. De forma geral, as mercadorias nacionais vão pagar mais 10% em impostos para entrarem no território estadunidense. A medida já vale desde esta quinta-feira (3).
Essa nova taxação ocorre menos de dois após o próprio Trump anunciar que o aço e o alumínio importado pelos Estados Unidos de outros países seriam tributados em 25%. Os materiais são os principais responsáveis pelas exportações do Ceará, produzidos em sua maioria na região do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
Somente em 2024, o aço foi fundamental para as exportações cearenses. Dos dez produtos do Estado mais comercializados com o país norte-americano, os que incluem produtos como aço, ferro e ferro fundido corresponderam a 74,1% em valores, de acordo com o Comex Stat.

Essa situação acontece em um contexto de redução de exportações do Ceará. Em 2024, as vendas para o exterior de ferro fundido, ferro e aço tiveram queda de quase 50% na comparação com o ano anterior.
Antes, os produtos eram responsáveis por mais da metade de tudo o que era exportado pelo Estado. Apesar de ainda manterem a liderança, a queda na participação fez com que os itens correspondessem a menos de 40% das exportações cearenses.
Conforme o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), com as sucessivas quedas no volume exportados — 2024 foi o pior ano da série histórica da entidade, que usa o recorte desde 2018 — o saldo da balança comercial cearense no ano passado foi negativo: de - US$ 1,514 bilhão, com as importações sendo mais do que o dobro das exportações no Estado.
Nesta quinta-feira, o Instituto Aço Brasil, entidade de classe que representa as indústrias brasileiras produtoras de aço, respondeu os questionamentos feitos pela reportagem na quarta-feira (2) sobre a nova taxação dos Estados Unidos em cima dos produtos nacionais.
Por meio de nota, o Instituto declara que, como o imposto de 25% entrou em vigor em março, "a prioridade do setor continuará sendo a defesa da via diplomática negocial para reestabelecer o acordo de cotas de exportação de aço firmado em 2018".
"Tal acordo previa a isenção de tarifas de importação ao aço brasileiro, considerando as cotas de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados (placas) e 687 mil toneladas de laminados por ano (…) para atenuar os efeitos da chamada Seção 232, instituída em maio de 2018 pelo presidente Donald Trump em seu primeiro mandato, que estabeleceu alíquota de importação de 25% para o aço, independentemente de origem", esclarece.

A entidade diz que o presidente dos Estados Unidos derrubou o acordo entre os dois países e que vigorava há quase sete anos. Segundo o Instituto, a indústria norte-americana tem muito interesse em manter a comercialização com o Brasil do produto siderúrgico nacional.
"As usinas norte-americanas demandaram quase 6 milhões de toneladas de placas de aço em 2024, das quais 3,4 milhões vieram do Brasil. O não reestabelecimento do acordo será prejudicial a ambos os países, razão pela qual o Aço Brasil mantém sua confiança na continuidade do diálogo entre os dois governos", especifica a entidade.