Cearenses ficaram até 28h em média sem energia ao longo de 2024; veja cidades mais afetadas
Dado foi contabilizado a partir do DEC, que é um indicador de duração equivalente de interrupção de energia

Os moradores do Ceará chegaram a ficar mais de 28 horas sem fornecimento de energia ao longo de 2024. A região de Icapuí registrou o tempo mais longo sem fornecimento de energia, uma média de 28,2 horas.
O dado foi contabilizado a partir do DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), indicador calculado e divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que considera todo o ano de 2024. Quanto maior o DEC, mais tempo os consumidores ficaram sem energia.
Também estão entre as regiões com maiores interrupções no fornecimento de energia as regiões de Beberibe, Baixo Acaraú, Aracati e Amontada.
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O indicador considera os conjuntos de unidades consumidoras, sendo que cada conjunto pode atender apenas um bairro ou mais de um município. O conjunto de Icapuí, por exemplo, atende as cidades de Icapuí e Aracati.
Em nota, a Enel informou que "está cumprindo os seus limites regulatórios estipulados pela Aneel e registrou avanços em seus indicadores de qualidade". De acordo com a distribuidora, a quantidade de vezes que os clientes do Ceará ficaram sem energia em 2024 foi, em média, menor do que nos anos anteriores.
"No entanto, o desempenho por conjunto elétrico é bastante impactado por razões técnicas e por particularidades de cada região, possuindo limites regulatórios específicos definidos pela Aneel para cada um deles", diz a nota da companhia.
A Enel também ressalta que, "considerando os desafios impostos pelo período das chuvas, fazendo um comparativo entre novembro de 2023 a fevereiro de 2024 e novembro de 2024 a fevereiro de 2025, mesmo com um incremento de cerca de 13% das ocorrências, a duração das interrupções teve uma melhora de 33%".
"Já o TMA (Tempo Médio de Atendimento) teve uma redução de 27%. Vale reforçar ainda que, neste período, a Enel Ceará ficou entre as 10 distribuidoras com o melhor DEC do país. A melhoria é resultado do reforço do plano operacional da companhia e do aumento da contratação de colaboradores próprios para atuação em campo", diz a Enel.
De acordo com a distribuidora, os conjuntos Aracati, Acaraú, Aquiraz, Beberibe, Icapuí e Trairi foram afetados frequentemente por furto de cabos no ano passado. "Somente no ano passado, cerca de 320 quilômetros de cabos de energia foram furtados no Ceará, com o registro de 1.050 ocorrência na rede elétrica e afetando mais de meio milhão de unidades consumidoras".
Em janeiro, a Enel divulgou um plano de investimentos datado até 2027. Ao todo serão investidos R$ 7,4 bilhões, um aumento de 54% em relação ao plano anterior, que totalizava R$ 4,8 bilhões de investimentos previstos para o período de 2024 a 2026.
LIMITE NA DURAÇÃO DAS INTERRUPÇÕES
A Aneel também estabelece um limite de duração das interrupções no fornecimento. No conjunto de Icapuí, o teto era de 12 horas, mas o DEC foi 28,2 horas.
O conjunto de Beberibe, que abrange os municípios de Beberibe, Cascavel, Horizonte, Pacajus e Pindoretama, também poderia ter no máximo 12 horas na interrupção do fornecimento de energia. Na prática, o apurado pela Aneel foi uma interrupção média de mais de 28 horas.
Já o conjunto de Baixo Acaraú, que atende cerca de 16 mil moradores de Acaraú, deveria ter no máximo 13 horas de interrupção média. O registrado ao longo de 2024 foi uma interrupção de 27,5 horas.
ENEL CEARÁ ENTRE AS DEZ PIORES CONCESSIONÁRIAS
Os conjuntos com menor duração de cortes de energia estão em Fortaleza. Na Aldeota, bairro da região nobre da Capital, a duração média da interrupção foi de 1,7 horas.
Também estão os conjuntos que passaram menos tempo sem energia os que atendem moradores do Centro (3,2 horas), Varjota (3,2 horas), Presidente Kennedy (3,3 horas) e São João do Tauape (3,7 horas).
A disparidade entre as regiões pode ser reflexo de uma diferença nos equipamentos utilizados e nas equipes disponíveis para atendimento, explica Raphael Amaral, professor do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O especialista aponta que regiões mais populosas, como as capitais, tendem a receber mais infraestrutura. As características das regiões também podem influenciar na maior duração das interrupções.
“Trairi, Aracati, Icapuí são locais de ventos muito fortes. Então a própria questão do clima, chuva forte, raios pode fazer um maior número de ocorrências. E se acontece uma ocorrência, as equipes são menores e as distâncias para percorrer são maiores”, aponta.
Considerando a frequência e a duração das quedas de energia, a Enel Ceará ficou entre as dez piores concessionárias de Energia do Brasil. Entre as 31 concessionárias de grande porte avaliadas, a Enel Ceará ficou na 24ª posição.
Ao longo de 2024, os consumidores do Ceará ficaram sem energia por cerca de 9,68 horas — ligeiramente abaixo do limite estipulado de 9,85 horas.
Houve uma média de 4,19 interrupções de energia por unidade consumidora. O número é abaixo do limite estabelecimento pela Aneel, de 6,46 horas.
QUEBRA DOS LIMITES GERA COMPENSAÇÃO FINANCEIRA
Boa parte dos conjuntos de unidades consumidoras da Enel Ceará ultrapassou o limite de duração de interrupção, que varia de 7 a 13 horas. Dos 115 conjuntos, 47 ultrapassam o DEC estabelecido pela Aneel.
A violação dos limites definidos pela Aneel gera compensação financeira às unidades consumidoras. O pagamento deve ser feito pelas distribuidoras por meio de desconto na energia elétrica com até dois meses após a violação.
Os limites são considerados no cálculo de compensação aos consumidores. Luiz Eduardo Moraes, membro do Conselho de Consumidores da Enel Ceará, aponta que o sistema de regulação é eficaz em penalizar as concessionárias. Ele avalia que os indicadores pressionam as empresas a aumentar os investimentos.
“Tem que fazer manutenções periódicas. Se você não fizer, a coisa começa a degringolar, começa a acontecer problemas com maior frequência. A Enel passou um período com um patamar de investimento bem menor do que o anunciado ano passado”, comenta.
Luiz Eduardo Moraes reitera a necessidade de tornar o sistema de transmissão mais eficiente nas regiões litorâneas, que têm maior registro de incidentes.