Comer fora de casa ainda sai mais caro; veja comparações e saiba como economizar

O Diário do Nordeste fez uma simulação de quanto custa comer em casa e fora de casa

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: A inflação da alimentação fora do lar subiu 4,93% em 12 meses na Capital, enquanto o custo da alimentação no domicílio disparou 11,78%
Foto: Arquivo

A estratégia de levar comida de casa para o trabalho é uma velha aliada da classe trabalhadora para economizar e alcançar algum alívio no orçamento. Nos últimos meses, no entanto, o custo da alimentação, mesmo no domicílio, subiu em ritmo alarmante.

Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) - que mede a inflação das famílias com rendimentos entre 1 e 5 salários mínimos, a maioria da população - indica um salto de 11,78% nos preços da alimentação no domicílio nos últimos 12 meses.

Em contrapartida, a alimentação fora do lar ficou 4,93% mais cara no mesmo período.

Com altas agressivas e sem perspectiva de estabilização de preços no curto prazo, ainda vale a pena cozinhar em casa e levar para o trabalho?

O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, esclarece que, mesmo com as altas no preço, ainda é mais barato comprar os alimentos no supermercado e prepará-los em casa do que comer fora.

Isso porque, embora a variação de preços esteja maior para a alimentação no domicílio, o valor propriamente dito ainda é mais baixo.

"Existe uma diferença entre inflação e custo de vida. A inflação é a variação generalizada dos preços. O custo de viver é o valor, o preço, e não o quanto aumentou. Embora o custo de viver esteja extremamente elevado, ainda é mais econômico que comprar comida fora", explica.

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Ele acrescenta que, enquanto em casa os custos para comer se resumem ao valor dos alimentos, os restaurantes precisam incluir no preço final os gastos com aluguel, energia, água, impostos, funcionários, infraestrutura, entre outros.

"O que tem se elevado muito é a matéria-prima, então não impacta 100% (o preço final), porque os outros custos estão sem mantendo de certa forma estáveis", pontua Aguiar sobre porque a alimentação fora do lar sobe em ritmo mais lento.

O supervisor técnico ainda indica que, em geral, as refeições preparadas em casa possuem qualidade melhor, quantidade maior, além de custarem menos.

Veja simulações

A pedido da reportagem, a nutricionista Érika Paula Farias montou um cardápio com cinco opções de almoço diferentes, com quantidades baseadas no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que indica que a refeição deve representar entre 600 a 800 calorias, dos quais 60% devem ser de carboidratos, 15% de proteínas e 25% de gordura.

A partir dessa sugestão, a especialista também calculou, com base no preço médio dos alimentos em março indicado por pesquisa do Departamento Municipal de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon Fortaleza), o valor de cada almoço.

Com quantidades que variam de 330 a 565 gramas, o levantamento prevê que refeições preparadas em casa custam de R$ 7,69 a R$ 11,73. Considerando 20 dias trabalhados por mês, o custo para um trabalhador da Capital fazer o próprio almoço gira em torno de R$ 177,32.

Por outro lado, os estabelecimentos do tipo self-service em Fortaleza estão cobrando de R$ 57 a R$ 90 por quilo, segundo estimativa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel).

Considerando a mesma quantidade do cardápio montado por Farias, os custos para comer fora todos os 20 dias varia de R$ 523,26 a R$ 826,20.

Praticidade

Ainda assim, há quem prefira a comodidade de comer fora. É o caso da enfermeira Maria Luzangela Medeiros Vasconcelos Melo, que há alguns anos percebeu que, para ela 'valia mais a pena' comprar quentinha no trabalho.

Entre os motivos da escolha, estão o aumento expressivo do preço da cesta básica, a economia de tempo e a praticidade de comer o alimento ainda quente.

"Acho o preço convidativo. Aboli a ingestão de carboidrato, então em uma quentinha de verdura e uma opção de proteína gasto R$ 10. Somando os 20 dias de trabalho, no fim do mês dá R$ 200 sem preocupação de ter que ir no supermercado, cozinhar e ainda comer um alimento resfriado", argumenta.

Ela ainda ressalta que, para preparar a refeição em casa, ainda gastaria com gasolina e energia, já que utiliza panela elétrica. "Creio que vale a pena, já que também ajudo o trabalhador informal", acrescenta.

Tempestade quase perfeita

O economista e professor de economia da Universidade de Fortaleza, Allisson Martins, afirma que o Brasil está inserido em uma tempestade quase perfeita, aglutinando diferentes fatores que pressionam a inflação.

Ele lembra que, entre os subgrupos da alimentação no domicílio, os tubérculos, raízes e legumes foi o que mais puxou a inflação na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), com destaque para o tomate e a cenoura, por exemplo.

No caso desses dois, as questões climáticas têm impactado bastante. Já a alta do açúcar está relacionada aos baixos estoques mundiais. Com a alta do dólar, os produtores internos têm preferido exportar, gerando escassez no mercado nacional. Além disso, a própria questão do combustível tem impactado, já que se produz etanol com açúcar"
Allisson Martins
Economista e professor de economia da Universidade de Fortaleza

Outro destaque pelo aumento de preço nos últimos meses está o óleo de soja, puxado principalmente pela alta das commodities no mercado global.

"São muitas variáveis que estão explicando essa inflação, em razão da complexidade no cenário internacional, da inflação global, das commodities, da pandemia não resolvida, da instabilidade e queda na oferta de certos produtos que a guerra trouxe", pontua.

Já sobre a menor inflação da alimentação fora do lar, Martins esclarece que o aumento de custos ao longo da cadeia não está sendo repassado integralmente para a ponta.

Isso porque o setor ainda tenta se estabilizar após os efeitos da pandemia e temem queda nas vendas e redução do fluxo de clientes.

"A explicação fundamental é que o repasse não está sendo feito em sua plenitude, apenas parcialmente em razão da retomada. Isso faz os empresários ficarem menos suscetíveis ao repasse total, comprometendo a margem de lucro", indica.

Sobre a estabilização dos preços, ele aponta que a situação só deve começar a melhorar no segundo semestre do ano, já que, mesmo que os atores que estão puxam os valores para cima saiam de cena, a cadeia demora um certo tempo para se reorganizar.

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