Ceará tem potencial para quadruplicar área irrigada, diz secretário

Estado tem capacidade para chegar a 300 mil hectares irrigados, segundo Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do agronegócio do Ceará. Fruticultura deve ser uma das atividades mais beneficiadas com Transposição

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: Atualmente, o Estado tem 70 mil hectares de área irrigada
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

As águas do Rio São Francisco chegam ao Ceará trazendo mais do que a garantia do abastecimento para o consumo humano em período de estiagem. O agronegócio local também comemora e será efetivamente beneficiado, abrindo possibilidade de expansão da produção. Segundo o secretário executivo do agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado (Sedet), Sílvio Carlos Ribeiro, o Ceará possui potencial para quadruplicar a área irrigada, totalizando 300 mil hectares.

 

Atualmente, segundo Ribeiro, são apenas 70 mil hectares utilizados. Com mais recursos hídricos disponíveis, o crescimento da produção é natural. "É um momento histórico e importante para a economia. Até hoje, tínhamos a necessidade de ter segurança hídrica para diversos setores da economia. Desde 2012, quando começamos a enfrentar essa seca sem precedentes, o agronegócio vem com essa preocupação. Essa nova disponibilidade de água permite fazer um investimento, desenvolver a área irrigada, sabendo que será possível produzir por dois, cinco, dez anos. É um conforto maior", afirma.

Exportação

Além da área irrigada propriamente dita, o Ceará tem diferenciais que também devem atrair mais investidores daqui para frente, entre os quais condições logísticas favoráveis à exportação e certificações de áreas livres de pragas, além do atual comportamento do câmbio e a abertura de mercados internacionais para a produção brasileira.

Tendo isso em vista, a fruticultura deve ser uma das atividades mais beneficiadas com a Transposição. Por ter valor agregado mais alto que os grãos, por exemplo, e boa aceitação no mercado externo, as frutas passam a ser o foco dos negócios. Com produtos de maior valor, a participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) cearense pode crescer em ritmo ainda maior que a área irrigada.

"Se nós só dobrarmos a área irrigada atual, para 140 mil hectares, apenas com fruticultura, o PIB agropecuário será bem maior do que se mantivéssemos as safras já existentes", ressalta Ribeiro.

Com a disponibilidade de recursos hídricos, novas colheitas poderão passar a ser cultivadas em solo cearense, hoje muito concentradas apenas no melão e melancia, além de garantir a produção de culturas permanentes, como a banana e a laranja.

"Tendo essa segurança hídrica, podemos diversificar as frutas no Estado. E mesmo quando se tiver pouca chuva, não teremos de deixar de plantar, como antes. Outros mercados estão se abrindo, como a China para o melão. Se começarmos a exportar para lá, teremos de ter mais área", aponta Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

Ele ainda ressalta que as culturas com maior valor agregado e possibilidade de dar retornos mais consistentes serão as principais beneficiadas devido ao alto custo para a utilização das águas do Rio São Francisco. "Vários setores serão beneficiados, inclusive a pecuária com alimento para o gado. A fruticultura, sem dúvidas, será muito beneficiada", aponta Barcelos.

Pecuária

O secretário executivo do Agronegócio do Estado ainda cita a produção de camarão e de tilápia como atividades a serem impulsionadas pela nova condição hídrica do Ceará; a primeira já em plena expansão, e a segunda, prejudicada pela baixa na capacidade dos reservatórios do Estado.

"Somado a isso, ainda temos o programa Malha D'Água, que ofertará água em adutoras a nove municípios na região de Banabuiú, deixando reservatórios importantes livres para a agropecuária. No caso daqueles que utilizaram as águas da Transposição, por ser uma água cara, ainda estamos desenvolvendo um trabalho, em parceria com o banco Mundial, para trazer mais eficiência no uso dos recursos hídricos dentro das propriedades", revela Ribeiro.

O presidente da Câmara Setorial do Agronegócio da Agência de Desenvolvimentos do Estado do Ceará (Adece), José Amilcar Silveira, também lembra dos benefícios da Transposição para a produção de leite, que, apesar das condições, vem se desenvolvendo com velocidade.

"No caso da agricultura, a produção no Baixo Jaguaribe, que poderá ser beneficiada com o projeto, irá triplicar. Podemos chegar a 30 mil hectares de frutas naquela região, o que representaria 30 mil novos empregos diretos", diz.

Utilização humana

Silveira ainda afirma estar satisfeito caso as águas do São Francisco sejam direcionadas totalmente para a utilização humana em Fortaleza, uma vez que os demais reservatórios passariam a ficar disponíveis integralmente para irrigação. "Já é um ganho fantástico. E seria melhor para a gente. O consumidor tem como pagar por essa água mais cara", avalia.

O diretor institucional da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos, também aponta que a preocupação de a água ficar restrita ao consumo humano é limitada, tendo em vista que, de qualquer forma, serão mais recursos hídricos disponíveis.

"Temos conversado com o Governo e nossa intenção é aumentar a outorga concedida ao trecho norte, que atende ao Ceará. O reservatório de Sobradinho está quase totalmente cheio, elevando o nível do São Francisco. Acho que conseguimos mais água".

Setor agropecuário cearense comemora chegada das águas da Transposição do Rio São Francisco. Expectativa é que atividade tenha grandes avanços em produção, diversidade de culturas, exportação e empregos

 

 

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