Ceará tem descoberta promissora de reservas de petróleo em alto-mar, aponta pesquisa

Segundo pesquisa preliminar, pode haver o equivalente a cerca de 30 bilhões de barris de petróleo entre a costa do Amapá e o Rio Grande do Norte

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
plataforma de extração de pré-sal
Legenda: Os campos de óleo devem se localizar em alto mar, a 300 quilômetros da costa e a 4 mil metros de profundidade.
Foto: Steferson Faria

O alto-mar do Ceará é uma das áreas onde se encontram novas reservas de petróleo descobertas e estudadas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Segundo o professor e líder da pesquisa, Allan Kardec Duailibe, o potencial de produção chega a cerca de 30 bilhões de barris na margem equatorial brasileira, do litoral do Amapá ao do Rio Grande do Norte.

Segundo o pesquisador, a indicação dessa possível reserva é algo totalmente novo e, se confirmada, a exploração pode transformar socioeconomicamente toda a região com o aumento significativo com os royalties da produção devida aos estados e municípios e também com o investimento do setor privado.

"Toda a região é suspeita. Realizamos pesquisa sísmica, com navios com sondas, para verificar através do som as camadas abaixo da água. Como há milhares de anos éramos um só continente e na costa da África houve descobertas de reservas em diversos países, como em Gana, Costa do Marfim, Guiana e Suriname, a hipótese é que a costa inteira do Brasil tenha petróleo", explica Duailibe, que também é ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Ele detalha que os campos de óleo devem se localizar em alto mar, a 300 quilômetros da costa e a quatro mil metros de profundidade. As condições, no entanto, apontam para uma extração ainda mais fácil que dos campos localizados no Rio de Janeiro, por exemplo. Isso porque não haveria a camada de 2 km de sal acima das reservas.

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"Em águas rasas, toda a região já foi explorada pela ANP. E agora temos essa grande suspeita de campos imensos em águas profundas. Pegamos 10% de alguns campos no Amapá, Pará e Maranhão e chegamos a conclusão que pode haver de 20 a 30 bilhões de barris. Todo o pré-sal no Brasil soma 40 bilhões de barris", ressalta o pesquisador.

Impacto econômico

Sobre os impactos socioeconômicos que poderiam vir com a exploração dos campos, Duailibe lembra o exemplo do Rio de Janeiro, que tem sido sustentado pela indústria de petróleo desde a década de 1970. "Cidades como Macaé e Niterói ganham muitos royalties. Em 2019, só o estado do Rio, ganhou R$ 3 bilhões em royalties. Mas esse é um recurso que só entra depois que começa a produção", afirma.

Ele pontua que antes mesmo dos royalties, a economia local ganha com investimentos públicos em ciência e tecnologia, além dos recursos privados das empresas do setor, que geram dezenas de empregos, desde os básicos até os mais especializados. "Em geral, a indústria petroquímica intensifica o mercado de duas formas: a primeira é financeiramente, porque são sempre grupos milionários, e a segunda é tecnologicamente, tendo em vista que precisa de muita mão de obra", detalha.

Outros ganhos em decorrência da atividade seria o aumento da arrecadação de impostos e o incremento da indústria de portos.

O consultor na área de petróleo e gás, Bruno Iughetti, ressalta que, apesar de ser um estudo preliminar, sem dados finais ainda, a possibilidade é muito promissora. "Seria excelente no caso do Ceará, porque, com isso, nós teríamos um retorno significativo em termos de receitas através dos royalties, e isso evidentemente moveria a situação social e econômica do Estado", avalia.

Ele detalha que a primeira fase necessária para se chegar à exploração, de fato, é a de prospecção, que está em andamento no momento. Confirmadas as reservas e determinados os volumes previstos, os campos seguem para autorização da ANP e, em seguida, para o leilão das áreas, quando são concedidas à exploração pela iniciativa privada.

"Sem eximir a Petrobras desse processo também. A iniciativa privada vai se interessar muito, uma vez que já existem empresas de grande porte explorando nas Guianas com muito sucesso. Estaríamos com uma área vizinha à área de produção já confirmada"
Bruno Iughetti
Consultor na área de petróleo e gás
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Processo precisa de velocidade

Legenda: Plataforma de exploração do pré-sal da Petrobras
Foto: Arquivo

O secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, Maia Júnior, lembra que o Estado há 40 anos luta para ter uma refinaria, sonho que deve se concretizar após a assinatura de memorando com a Noxis Energy para a instalação de uma planta no Pecém. Apesar de ver o potencial da pesquisa, o titular da Sedet alerta que o processo precisa de velocidade, tendo em vista a ascensão das energias limpas.

"A Petrobras tem essas hipóteses todas mapeadas e, mesmo os engenheiros apontando o potencial do Ceará, nunca investiram aqui. Tem um ponto hoje que é a questão ambiental do mundo que vai gerar a desaceleração do consumo dessas reservas, que ainda vai acontecer daqui a 20 ou 30 anos. Então, é preciso correr muito", argumenta.

Maia Júnior acrescenta que as energias que devem ganhar mercado em cima do desuso do petróleo, como o hidrogênio verde, já estão chegando ao Ceará também. O Executivo cearense assinou, em fevereiro, protocolo de intenção com a australiana Energix para construção de uma planta do combustível no Pecém, com investimento de R$ 5,4 bilhões.

Uma segunda planta também está em negociação e o memorando pode ser assinado até o fim do mês. Conforme o secretário, pelo menos dez grupos iniciaram conversas interessados em realizar investimentos em hidrogênio verde no Estado.

Debate ambiental

O professor Duailibe revela que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem demonstrado resistência a autorizar a exploração da área. Ele argumenta, no entanto, que não há riscos de impactos e que a UFMA está disponibilizando pesquisadores das mais diversas especialidades para debater com o órgão.

O consultor Bruno Iughetti reforça que o processo que eventualmente será utilizado para a extração do óleo já é conhecido e utilizado no Brasil e que não há risco de danos na operação.

"Não há nenhum risco ambiental numa exploração como essa, porque será exploração offshore, ou seja, no mar, com toda tecnologia já experimentada pela Petrobras e demais empresas exploradoras, como em Campos, em Santos, onde não se determina nenhum tipo de ação com dano ao meio ambiente. Não vejo problema nenhum com relação aos órgãos do meio ambiente que possa inibir essa possibilidade de pesquisa e exploração", garante.

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