Agro cearense preocupado: chove muito aqui, falta chuva ali
As precipitações são intensas no Litoral, na Ibiapaba, na Chapada do Apodi e em parte do Sertão Central. Mas no Cariri, Inhamuns e Centro-Sul a pluviometria decepciona. No Apodi, a natureza faz a festa.

Nesta temporada de chuvas, mantém-se no Ceará o cenário de intensas e volumosas precipitações em algumas regiões do estado, enquanto em outras o panorama é de estio. Ouvidos por esta coluna, agricultores com fazendas de produção na Chapada do Apodi, no Litoral Leste e Oeste, em parte do Sertão Central, na Serra de Baturité e na Chapada da Ibiapaba revelaram que, neste mês de março, as chuvas estão acima da média histórica.
Mas preocupa a situação na Região do Cariri, no Sul do Ceará: há uma prolongada estiagem que amplia a expectativa de que, neste ano, o rio Salgado – um dos grandes afluentes do rio Jaguaribe, que é barrado pelo açude Castanhão em Jaguaribara – não venha a registrar grandes enchentes, como nos anos recentes. É esta, aliás, a razão pela qual o maior reservatório cearense registre uma recarga raquítica: o Castanhão acumula somente 27% de sua capacidade total, que é de 6,5 bilhões de metros cúbicos.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, disse que “as chuvas deste 2025 têm sido muito boas, porém espacialmente mal distribuídas, e uma prova disto é o que se passa no Cariri, no Centro Sul e em boa parte do Sertão Central, onde a pluviometria está abaixo da média”.
Deve ser lembrado que grandes produtores de soja, vindos de Mato Grosso e do Piauí, adquiriram terras na Chapada do Araripe, no Cariri, onde a agricultura é de sequeiro, isto é, ela depende totalmente da água das chuvas. Essa chapada, um dos relevos da geografia cearense, localiza-se a 900 metros de altura em relação ao nível do mar e, tradicionalmente, registra muito boa pluviometria.
“Neste ano, até agora, infelizmente, as grandes chuvas têm-se desviado para outras regiões do Ceará”, comentou o presidente da Faec, que uma vez por mês faz visita aos produtores rurais do Cariri, percorrendo suas fazendas e ouvindo suas opiniões sobre temas ligados às suas atividades.
Ontem, o agroindustrial Raimundo Delfino Filho, que cultiva soja e milho em sua Fazenda Nova Agro, na Chapada do Apodi, não escondia sua alegria com a informação de que a pluviometria já alcançara lá a marca dos 500 milímetros de chuva.
A mesma alegria tinha o agropecuarista José Antunes Mota, em cuja fazenda, em Ibaretama, no Sertão Central, choveu, até sábado, o equivalente a 480 milímetros. “É muita água”, disse ele, sorrindo de orelha a orelha.
Na região jaguaribana, a pluviometria também é ótima, segundo informou Cristiano Maia – maior produtor de camarão do país, que tem fazendas de agricultura e pecuária em alguns municípios naquela área do Ceará.
“Todos os açudes das minhas fazendas encheram e sangraram, porque tem chovido lá com boa intensidade”, disse ele.
Cristiano acrescentou outro comentário, agora abordando a atividade da carcinicultura nos municípios do Jaguaribe:
“As chuvas têm recarregado o lençol freático, parte do qual guarda água salobra, que é usada exatamente para a criação de camarão. É por esta razão que os pequenos carcinicultores, que antes eram agricultores, festejam as boas chuvas que garantirão um ano de bons resultados para eles”, comentou Cristiano Maia.
O Ceará, vale lembrar, é o maior produtor de camarão do Brasil, respondendo por 54% de toda a produção nacional. Em segundo lugar vem o Rio Grande do Norte, com 40%.
A propósito: na Fazenda Nova Agro, a cultura do algodão tem exibido um detalhe importante, do ponto de vista do meio ambiente: as aves -- principalmente garças e rolinhas -- e as abelhas estão fazendo a festa. As garças podem ser vista em todos os lugares da fazenda, inclusive pousadas sobre os gigantes pivôs centrais que irrigam as áreas cultivadas, enquanto as rolas fazem ninhos dentro dos capuchos do algodoal, ao mesmo tempo em que as abelhas fazem a polinização na flor do algodoeiro.
Essa festa da natureza não seria possível se os insumos utilizados pela Nova Agro no combate as doenças do algodoeiro fossem prejudiciais à flora e fauna.