Ceará produz 6 em cada 10 castanhas do Brasil; veja lista das principais cidades produtoras

Estado voltou a ficar acima das 100 mil toneladas colhidas após 15 anos

Escrito por
Luciano Rodrigues luciano.rodrigues@svm.com.br
Castanha de caju no Ceará
Legenda: Castanha de caju foi o produto agrícola que teve a maior alta de produção, conforme dados de 2024 do IBGE
Foto: Divulgação

O Ceará disparou na produção de castanha-de-caju no interior do Estado. Em 2024, o Estado teve uma safra de 102 mil toneladas, 61,1% maior do que em 2023. Os dados estão presentes na estimativa feita pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de dezembro do ano passado.

O LSPA consolida as estimativas "com base nas informações coletadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em todo o País", conforme informações repassadas pela instituição. Essa projeção é feita mensalmente e traz variações no volume das safras colhidas ao longo do ano. Na penúltima estimativa divulgada, referente a novembro de 2024, o Ceará devia ter produzido no ano passado pouco mais de 90 mil toneladas do fruto.

Em relação ao LSPA de janeiro de 2024, a mudança é ainda maior. A safra de castanha de caju no Ceará deveria ter sido quase 30% menor, com 73 mil toneladas colhidas. 

Os dados do levantamento são uma espécie de 'prévia estimada' da Produção Agrícola Municipal (PAM), divulgada pelo IBGE ao longo do ano. De modo geral, o LSPA traz resultados praticamente sem variações na comparação com a PAM.

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"A safra 2024 não foi uma safra considerada normal, pois houve redução em diversos municípios, porém foi uma safra maior que aquela obtida em 2023. (…) Na segunda quinzena do mês de novembro, ocorreram chuvas em diversos municípios, elevando a esperança de uma boa safra. Nos anos de 2023 e 2024, as quadras chuvosas foram curtas, porém no ano de 2023 foi mais curta nos municípios em que se concentram os cajueiros.", analisa o IBGE.

Apesar da alta, o Instituto ressalta que, em geral, "a dificuldade em conseguir mão-de-obra para a colheita da castanha tem sido grande". O órgão relata ainda que, em setembro, os técnicos declararam em parecer que "ainda havia muitas castanhas no chão esperando serem colhidas".

Veja a lista das cidades que mais produzem castanha de caju no Ceará:

  • Castanha-de-caju (cajueiro anão precoce sequeiro): Beberibe, Bela Cruz, Alto Santo, Cascavel e Aracati;
  • Castanha-de-caju (cajueiro anão precoce irrigado): Bela Cruz e Maranguape;
  • Castanha-de-caju (cajueiro comum): Bela Cruz, Ocara, Beberibe, Cruz e Barreira.

O LSPA não traz os dados por município da produção agrícola, informações que serão divulgadas na PAM. No último levantamento divulgado, referente a 2023, o Ceará tinha 7 das 10 cidades que mais produziam castanha de caju no Brasil. A líder estadual foi Beberibe, a segunda maior do País (atrás somente de Serra do Mel, no Rio Grande do Norte). A produção municipal foi de pouco mais de 9,6 mil toneladas.

Ceará volta a ficar acima das 100 mil toneladas colhidas após 15 anos

Segundo os próprios dados do LSPA, a safra de castanha de caju voltou a superar a marca das 100 mil toneladas no Ceará. A última vez que isso aconteceu foi em 2009, quando o levantamento de dezembro daquele ano registrou uma colheita de 104.421 toneladas.

A castanha de caju compõe o grupo que o IBGE chama de 'frutas secas', que conta com os tipos de castanha colhida no Estado: frutos do cajueiro anão precoce (irrigados e sequeiros) e do cajueiro comum. 

A principal produção é feita na castanha de caju sequeiro. O cajueiro utilizado é o anão precoce, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e que desde 2008 vem substituindo as antigas árvores. Parte da safra de 2024 do fruto veio do plantio feito em 2022.

Em 2024, "as chuvas de novembro e dezembro favoreceram a produção", conforme destacado pelo IBGE. O instituto alega ainda que, no ano passado, "em razão da melhoria de tratos culturais adotados (gradagem e aração e poda) o rendimento considerado para uma safra normal se elevou um pouco, (…) e chegou a 550 kg/ha".

Ceará é o maior produtor de castanha de caju do Brasil
Legenda: Ceará é o maior produtor de castanha de caju do Brasil
Foto: Wandemberg Belém/Agência Diário

Em Maranguape, os técnicos do IBGE que faziam o LSPA ainda observaram produção de castanha de caju anão em perímetro irrigado, "mas o rendimento ainda é baixo, pois a produção está se iniciando".

O maior destaque das castanhas ficou nas floradas do cajueiro comum. Ele ocupa espaços cada vez menores nas plantações, mas os remanescentes estão rendendo acima da média. Embora essas plantas ainda representem a maior parte dos cajueiros, o número de hectares da árvore comum caiu pela metade nos últimos 17 anos pela longevidade — a maioria foi plantada na década de 1970.

Os técnicos do IBGE analisaram que o cajueiro comum foi mais beneficiado do que o anão. Nas principais cidades produtoras, as chuvas no fim do ano tiveram relação com essa diferença, e a produtividade da planta não clonada (caso do cajueiro anão) mais do que dobrou em 2024.

"Produtores explicaram que o cajueiro anão precoce flora mais cedo, a quadra chuvosa foi curta, com poucas chuvas em maio e a primeira floração do anão precoce foi bastante afetada. O cajueiro gigante, florando mais tarde, foi beneficiado pelas chuvas de novembro. Além disso, observe-se que o rendimento obtido em 2023 foi muito baixo (117 kg/ha), enquanto neste ano, em média ficou com 240 kg/ha", destaca o instituto.

O que explica a alta na produção de castanha no Ceará?

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, explica que a produção do alimento no Estado cresceu mesmo com uma queda das exportações, e isso deve principalmente a hábitos de alimentação saudável praticados no mercado interno.

"Fiquei meio preocupado porque as exportações de castanha de caju caíram muito. Na verdade, houve uma procura do mercado interno muito maior, porque essa história de comida saudável, e as amêndoas fazem muito isso", reflete.

Outro ponto destacado pelo gestor é de que, após o desenvolvimento do cajueiro anão precoce, que está em vias de se tornar a principal espécie do território cearense, a produtividade foi potencializada. Além disso, embora tenha acontecido um ganho na produtividade média das plantas comuns, sem mudanças genéticas, a expectativa é de que as árvores desenvolvidas pela Embrapa sejam mais produtivas.

A grande maioria do nosso cajueiro aqui é o cajueiro de sequeiro. A gente luta todo dia para o cajueiro gigante ser substituído para a nova tecnologia porque aumenta a produtividade. Irrigados são pouquíssimos casos que tem, pode conseguir uma produtividade maior, mas em área de sequeiro a gente tem abundância.
Amílcar Silveira
Presidente da Faec

Cajueiro anão precoce
Legenda: Cajueiro anão precoce, tecnologia desenvolvida pela Embrapa que potencializa a produção de caju e castanha no Ceará
Foto: Ricardo Moura/Embrapa

Assim como os técnicos do IBGE, o professor da Pós-Graduação em Economia Rural da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco José Tabosa, analisa que as chuvas foram essenciais para as safras adquirirem resultados expressivos no Estado.

"Esse aumento da produção em 2024 se deu por alguns fatores, sendo o primeiro deles foi o bom inverno que se teve. É um setor agrícola que necessita de água, tanto que foi a primeira vez depois de 2009 que superou as 100 mil toneladas de castanha produzidas, 2009 também foi um excelente inverno", diz.

Para o segmento em 2025, o professor da UFC acredita que os bons resultados obtidos no ano passado já trazem otimismo sobre a safra. Além disso, questões econômicos externas também podem ajudar o cenário.

"O setor está aquecido pela boa produtividade de 2024, já é um ponto positivo. Outro ponto positivo é a permanência da taxa de câmbio desvalorizada, e vamos aguardar o inverno para ver essa resposta, mas creio que existe uma grande possibilidade dessa produção se manter nesse nível e até superar", projeta Francisco José Tabosa.

 

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