Ceará cria 5,7 mil empregos em julho; maior geração do Nordeste
Primeiro saldo positivo no mercado de trabalho formal cearense após quatro meses contribui para reverter as baixas provocadas pelo coronavírus. No acumulado do ano, porém, Estado ainda amarga a perda de 37,4 mil vagas
Após quatro meses de perdas em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o mercado de trabalho formal cearense voltou a registrar criação de novas vagas de emprego em julho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem (21) pelo Ministério da Economia, mostram que, catapultado pela indústria e pela construção civil, o saldo no sétimo mês do ano ficou positivo em 5.727 vagas, maior geração de empregos entre os estados do Nordeste.
O número é resultado de 25,7 mil admissões no período contra 19,9 mil demissões. O saldo registrado em julho começa a reverter a expressiva queda observada quando é considerado o resultado acumulado no ano. De janeiro a julho, o Ceará ainda apresenta perda de 37,4 mil vagas de emprego, saldo que decorre de 179,1 mil admissões e 216,6 mil desligamentos. O Caged traz ainda dados da preservação de empregos por meio do Benefício Emergencial (BEm): no Ceará, foram 729,6 mil de abril a julho.
O titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet) do Governo do Estado, Maia Júnior, destaca que o Ceará conseguiu ultrapassar o saldo de estados sólidos como Bahia e Pernambuco e que as atividades no Estado têm boa capacidade de recuperação. "Esse número de empregos gerados em julho representa uma recuperação bastante vigorosa dos empregos perdidos nos meses anteriores. É um fato realmente muito positivo", pontua.
Durante transmissão nas redes sociais na noite de ontem (21), o governador Camilo Santana comemorou o resultado positivo do Ceará. "Isso nos anima e mostra que estamos construindo o caminho da retomada da economia e do emprego no estado do Ceará".
Setores
A construção civil e a indústria foram os principais setores responsáveis pela recuperação do mercado de trabalho formal do Ceará em julho deste ano. A construção registrou saldo líquido de 2.642 vagas e a indústria registrou 2.103 vagas a mais. Também criaram novos postos formais no mês o comércio (871) e a agropecuária (580).
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, pontua que o resultado positivo na construção civil reflete a retomada das obras e está ligado à baixa da taxa básica de juros, a Selic, o que incentivou os bancos a reduzirem os juros do financiamento imobiliário e aqueceu o mercado. "Em 2021, esses números tendem a melhorar porque as empresas vão começar a lançar novos empreendimentos", diz.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), André Montenegro, pontua que a injeção de recursos na economia por meio de benefícios sociais como o auxílio emergencial contribuiu para que os resultados positivos na indústria. "A demanda que estava reprimida voltou com muita força, tanto que os índices da indústria estão sendo comparados aos do período pré-pandemia", diz.
O presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), Marcos Soares ressalta que a indústria também impulsionou a retomada do emprego no Brasil. "O saldo de vagas registrado pelo Caged em julho reforça a importância do apoio à produção industrial", diz.
Ele destaca ainda que o Ceará é um dos estados mais digitais do País "e com potencial para avançar também na formação de um ambiente cada vez mais inovador com mão de obra bem qualificada que permaneça no estado contribuindo com as empresas locais".
Serviços
Já o setor de serviços - que junto do comércio representa mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado - perdeu mais vagas formais em julho. De acordo com os dados do Caged, foram 469 postos a menos. O setor de serviços foi o que mais sofreu com a paralisação das atividades por causa da pandemia do coronavírus. Atividades do segmento, como a realização de eventos, seguem suspensas.
"Toda uma cadeia que fomos fortalecendo ao longo dos anos, com a construção de empreendimentos como o Centro de Eventos, rede privilegiada de gastronomia e a franca atividade cultural foi fortemente afetada, mas acreditamos que isso paulatinamente vai se recuperando. Acredito que em setembro o governador vai promover avanços na retomada das atividades", aponta Maia Júnior.
Governo estende programa de redução de jornada
Considerado o programa mais efetivo elaborado durante a pandemia em termos de gastos e em manutenção de empregos pelo Governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou ontem (21) que a suspensão de contratos de trabalho e corte de jornada e salário, regulamentados pela MP 936, vai ser prorrogada por mais dois meses.
"(Foi possível) preservar 16 milhões de empregos gastando R$ 20 bilhões e pouco. O programa tem tanto sucesso que vamos estender por mais dois meses justamente para continuar preservando esses empregos enquanto a economia faz essa volta em V", disse o ministro.
O programa que visa evitar demissões em massa durante a pandemia da Covid-19 foi criado em 1º de abril. Quando surgiu, a ideia era que a suspensão de contrato fosse válida por até dois meses.
Até esta quarta-feira (19), mais de 16,3 milhões de acordos de redução de jornada e suspensão temporária de contratos foram assinados. Segundo os técnicos, não será preciso aumentar o orçamento do programa para a prorrogação.
Guedes ainda comemorou o primeiro resultado positivo no mercado de trabalho formal desde a chegada da pandemia no País. Depois de quatro meses no vermelho, houve a abertura líquida de 131.010 empregos com carteira assinada em julho, segundo o Caged. "A criação de vagas de empregos em julho é notícia extraordinária e mostra que retomamos ritmo de criação de empregos. O resultado confirma a nossa hipótese de trabalho de que Brasil iria cair menos do que era previsto pelo mercado. As revisões das projeções estão confirmando que PIB brasileiro deve cair cerca de 4% neste ano", afirmou.
O ministro destacou que o governo vai anunciar mais medidas na próxima terça-feira (25). Segundo ele, serão lançados os programas da carteira de trabalho Verde e Amarela, voltada ao mercado de trabalho, e do chamado Renda Brasil (expansão do Bolsa Família).