Com energia mais cara, geração própria mais que dobra em áreas rurais do Ceará

Dados apontam alta no número de sistemas, da potência instalada e dos municípios no Estado onde há geração distribuída no campo

Com as consecutivas elevações no preço cobrado pela energia no Brasil, mais e mais produtores agrícolas ou moradores de áreas rurais estão buscando sistemas próprios de geração para conter prejuízos e reduzir gastos.

Segundo dados do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), o número estações de geração distribuída (energia solar) nas áreas rurais do Ceará tiveram uma alta de 116% entre agosto de 2020 e agosto de 2021. 

A evolução representa um salto de 300 unidades de geração entre o período agosto de 2019 e 2020 para 648 entre agosto de 2020 e agosto de 2021.

Sobre o mesmo intervalo analisado, o Sindienergia ainda indicou que o número de municípios que registravam geração distribuída em áreas rurais passou de 107 em 2020 para 143 em 2021.

Os dados representam uma alta de 46% do potencial instalado no período analisado, com um destaque para um avanço considerável na região do Vale do Jaguaribe. 

Ainda sobre o aumento do número de unidades de geração distribuída na zona rural no Ceará, dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) indicam que houve um aumento de mais de 102% entre dezembro de 2020 e setembro deste ano. 

De acordo com o levantamento da Absolar, as áreas rurais no Estado contavam com 544 sistemas no fim de 2020 e passaram a ter 1.101 em setembro de 2021. 

O dado representa, também, uma alta de 71,59% na potência instalada, que passou de 8,8 megawatts (mW) para 15,1 mW no mesmo período. 

Encarecimento da energia 

Para o diretor de geração distribuída do Sindienergia-CE, Hanter Pessoa, essa evolução na implementação da geração própria de energia solar no campo cearense se explica pelas recentes altas no preço cobrado pelo sistema nacional de energia. 

Como o País vive uma crise hídrica neste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) instituiu valores maiores de cobrança da bandeira vermelha, além de taxas mais elevadas. 

"O principal ponto desse aumento é o preço da nossa energia que não existe perspectiva de baixa nos próximos anos e o produtor começou a perceber a energia própria como uma solução. Às vezes, o produtor conhece alguém que usa e troca informações e decide entrar também nesse mercado" 
Hanter Pessoa
Diretor de geração distribuída do Sindienergia-CE

Financiamento e demanda 

O diretor do Sindienergia também afirmou que os números de linhas de crédito voltadas para incentivar a produção própria de energia também favorece o segmento, mesmo durante uma alta de preços e demanda. 

"As possibilidades de linha de crédito que se ajustam ao pagamento de energia vem aumentando muito. É uma triangulação de fatores que vêm aumentando essa procura, e praticamente todo banco ou fintech já está atendendo os produtores rurais, e as possibilidades de captação de recursos aumentaram muito, então o produtor tem visto mais possibilidades e tem aderido", explicou. 

Contudo, com o aumento da procura e com a crise de abastecimento no mercado global, Hanter destacou que o preço dos sistemas de geração própria de energia tem adotado uma dinâmica diferente dos anos anteriores ao ficar mais caros mesmo com o barateamento da tecnologia. 

"A tecnologia está sempre barateando, mas nos últimos anos tivemos um movimento para cima dos preços. Estamos em um momento em que o mercado está com muitas variáveis e os preços da energia solar aumentaram com as questões do dólar e do mercado na China, e como as pessoas estão procurando mais, os valores estão ficando maiores", disse.
 
"Está começando a faltar equipamento, e já tem empresa vendendo apenas para consumidores e deixando de vender para outros negócios porque está começando a faltar mercadoria, e isso é outro fator que pode gerar aumentos de preço", completou.

Nova regulamentação

Hanter Pessoa ainda destacou a importância dos produtores rurais que ainda estiverem considerando entrar no mercado de geração própria de energia possam buscar opções "o quanto antes". 

Segundo ele, como as perspectivas de futuro são de novos aumentos de preço e como o Congresso Nacional vem discutindo novas diretrizes para o setor que podem encarecer a geração própria, o consumidor precisa estar atento para aproveitar as condições atuais. 

O diretor do Sindienergia afirmou que um projeto em análise no Senado deverá instituir a cobrança pelo uso dos fios para quem gera a própria energia, como uma taxa pela transmissão do que foi produzido.

Atualmente, essa cobrança não existe, já que a diretriz era incentivar a geração distribuída. 

Contudo, se os produtores decidirem investir agora, antes da aprovação do projeto no Senado, eles terão o direito de aproveitar essas condições especiais de incentivo até 2045, como forma de adaptação. 

"Quem precisa fazer, a gente recomenda que faça agora, porque o preço não deve ficar nesse patamar de agora. Ele deve aumentar. É importante mencionar que o cliente precisa enxergar a oportunidade que a geração de energia é nesse momento e se ele entrar agora, ele não paga uso do fio e fica até 2045 no modelo antigo, que foi para incentivo", explicou Pessoa.