50% dos hotéis no CE devem retomar atividades até o fim de julho
De acordo com entidade do setor, com 60 empreendimentos associados, apenas 3% estão de portas abertas. Cronograma de reabertura depende do avanço do plano de retomada econômica do Estado
Os dados sobre o coronavírus no Ceará e no Brasil ainda são preocupantes, mas entes da cadeia do turismo já se antecipam para o momento em que os números permitirem a retomada da atividade. Dos hotéis que fazem parte da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado (Abih-CE), por exemplo, 50% já devem reabrir as portas até o fim julho, enquanto a outra metade deve retomar no mês seguinte, agosto. Atualmente, de acordo com o presidente da Associação, Régis Medeiros, de 3% a 5% dos 60 grandes hotéis filiados à entidade estão de portas abertas.
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Perguntado sobre como o setor está se preparando para garantir um retorno seguro das atividades, Régis pontua que os empreendimentos seguem protocolo da ABIH Nacional e estão aderindo a um selo do Ministério do Turismo, que exige uma série de cuidados para evitar a propagação do vírus Covid-19.
De acordo com ele, o setor aguarda prontamente a divulgação do protocolo de retomada especialmente para o turismo no Ceará pelo Governo do Estado. Conforme o Plano de Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais, atividades ligadas ao turismo e eventos estão previstas apenas para a quarta etapa com 100% do trabalho presencial.
De acordo com o titular da Secretaria do Turismo do Estado do Ceará (Setur), Arialdo Pinho, até o dia 30 deste mês deve ser divulgado um protocolo voltado para o setor. Ele explica que o Estado está se preparando para retomar a atividade de forma um pouco mais latente no turismo, mas pontua que algo nesse sentido só deve ser observado entre novembro e dezembro, dado o panorama atual.
Para que se destaque ante outras localidades neste cenário, Arialdo Pinho revela que o Estado está buscando um selo internacional que certifique aos viajantes estrangeiros que o Ceará estará seguro e preparado para receber as pessoas.
"Nós estamos nos preparando para esse momento, mas acredito que só retomaremos com força mesmo em novembro ou dezembro. Não adianta fazer nada para agora", afirma o secretário, apesar das expectativas positivas.
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Estratégias
Diante do momento difícil, com esperança, Régis Medeiros ressalta a confiança no turismo doméstico para a retomada após a pandemia. "A gente confia muito no turismo regional, pessoas que viriam de carro aqui do próprio Nordeste", diz.
Conforme o presidente da Abih-CE, também está sendo discutida com alguns operadores de viagens a possibilidade de apostarem no fretamento de voos para dar "esse start a partir da disponibilidade". Os 60 hotéis associados à Abih-CE respondem por cerca de 16 mil leitos, de acordo com Régis Medeiros.
A presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo (AMHT-CE) - entidade que representa as pousadas e empreendimentos menores, Vera Lúcia da Silva, explica também que alguns hotéis não fecharam e lembra que os empreendimentos já vêm seguindo protocolos de entidades como Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e também se espelham nos protocolos adotados pelos hotéis na Europa.
Observando o pouco movimento de procura que se revela, Vera acredita que a retomada do setor deve ocorrer de forma um pouco mais notória em setembro. "A gente percebe que existe uma procura levemente maior para o mês de setembro. Nós saímos de uma ocupação de 0,3% em setembro para 1,4%. São números muito baixos, mas já sinalizam um horizonte", diz.
Assim como os grandes hotéis, Vera Lúcia explica que as pousadas aguardam os protocolos específicos a serem divulgados pelo Governo do Estado, mas que, já adotam medidas de segurança nos empreendimentos abertos.
"Temos os tapetes sanitizantes, álcool gel e, agora, os funcionários tomam três banhos: um na entrada, outro no almoço e um na saída. Quando eles trocam a roupa, é colocado um produto hospitalar. Nós também mudamos os horários de funcionários para que eles fujam um pouco das aglomerações no transporte público", diz Vera. Além disso, a partir de agora, será comum o modelo de café da manhã à la carte, substituindo as extensas mesas que permitiam ao hóspede o self-service. A troca de hóspedes também passa a ocorrer com o intervalo de 6h entre a saída de um e a chegada de outro.
Dificuldades
Assim como negócios de outros setores e cadeias, as pousadas estão sofrendo com a dificuldade para tomar crédito e se manterem nesse período difícil, conforme destaca a presidente da AMHT-CE.
"É algo que a gente está precisando muito: que os bancos venham ao encontro de toda essa cadeia produtiva e muito significativa para a economia do Ceará. Estamos com muita dificuldade de conseguir crédito. Sem isso, muitos não vão conseguir reabrir quando for o momento", diz Vera Lúcia. A AMHT-CE responde por 35 estabelecimentos no Estado. Cada um deles gera pelo menos 10 empregos diretor.
'Recuperação só em 2021'
Relatório da Rede Brasileira de Observatórios de Turismo (RBOT), sistematizado pelo Observatório de Turismo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), revelou que prepondera no setor a perspectiva de que baixas financeiras provocadas no contexto da pandemia da Covid-19 sejam recuperadas somente no ano que vem. A avaliação foi manifestada por 51% das 4.921 pessoas consultadas pela sondagem.
Os participantes abrangeram profissionais atuantes de diversas áreas ligadas ao turismo, como hospedagem, alimentação, agências, operadoras de turismo e produtoras de eventos, além de representantes de prefeituras e associações. Ao todo, 15 estados foram contemplados pelo levantamento, o primeiro feito pela RBOT, e que deverá ter os números atualizados.
O estudo, intitulado Sondagem empresarial dos impactos da Covid-19 no setor de turismo do Brasil, também mostra que 12% imaginam que a melhora deve demorar para chegar, vindo apenas depois de 2021. Ainda menos otimista, uma parcela de 3% afirma que o prejuízo é irreversível, ou seja, que não irá conseguir se restabelecer, independentemente do prazo estimado. No total, quase um quinto, 19%, se mantém mais confiante e espera uma virada já para o segundo semestre deste ano.
Após analisar as respostas encaminhadas, os pesquisadores concluíram que o maior impacto se deu em abril. Naquele mês, a queda no faturamento dos empresários variou entre 75% e 100%, de modo geral, índice atingido devido ao fechamento de negócios ou à implementação de medidas de quarentena, que levou à suspensão das atividades.
Sem dinheiro em caixa, o que levou empresários a recorrer a empréstimos, muitos deles não viram outra saída, senão encolher o quadro de funcionários. De cada dez empresas ouvidas na pesquisa, quatro demitiram empregados para reduzir gastos, característica que teve maior proporção entre os setores de hospedagem e alimentação.
No final de maio, a Organização Mundial do Turismo (OMT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), informou que o setor pode perder cerca de 120 milhões de empregos com a manutenção de restrições a viagens internacionais.