30% dos aposentados voltam à ativa
Nem sempre o fim da atividade laboral é vista como o fim da carreira profissional e muitos continuam trabalhando
Qual o trabalhador que nunca sonhou em se aposentar depois de décadas de contribuição com a economia do País, produzindo e gerando riqueza? Nada mais justo do que ao ficar idoso poder viver da renda aplicada durante anos de trabalho e aproveitar o tempo livre para descansar e se dedicar ao lazer, certo? Nem tanto. Para muitos, a aposentadoria não significa o fim da carreira profissional. Em torno de 30% dos aposentados acabam voltando ao mercado de trabalho, seja por vontade ou por necessidade financeira.
>Aumento da renda familiar é atrativo
>MP incentiva a desaposentação
>Emprego traz mais alegria e fortalece autoestima
É o que atestam algumas entidades que representam a categoria, como a União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil - núcleo CE (Unapeb-CE) e a Federação Nacional das Associações dos Ferroviários Aposentados e Pensionistas (Fenafap).
De acordo com Mônica Maria da Silva, presidente da Unapeb-CE, com base na experiência da entidade, no universo de egressos à atividade laboral, depois da aposentadoria, a grande maioria possui o valor do benefício equivalente a mais de dois salários mínimos.
"Quem ganha mais de dois salários geralmente sente a necessidade de continuar trabalhando para manter o padrão de vida". "Com os benefícios mais achatados a cada ano, eles acabam tendo necessidade de complementar a renda, principalmente quem se aposentou por tempo de serviço ou por idade. Ainda mais com a alta da inflação", observa.
Segundo ela, outro motivo que os faz voltarem à ativa é "o desejo de continuar produzindo e se sentindo útil". "Se a pessoa está com saúde e tem disposição física e mental, trabalhar depois da aposentadoria pode ser um bônus porque quando se para de trabalhar, normalmente a pessoa fica estagnada. O ruim é quando o idoso é forçado a trabalhar, mesmo sem ter condições", argumenta Mônica da Silva.
Dificuldades financeiras
Etevaldo Pereira dos Santos, presidente da Fenafap, afirma que para ferroviários aposentados e pensionistas da extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal) a desvalorização do valor do benefício com o passar dos anos e as dificuldades financeiras são os principais motivos da retorno a labuta. "Em todo o Brasil a classe ferroviária reúne em torno de 96 mil aposentados e pensionistas, sendo que mais da metade deles são representados pela Fenafap, por meio de associações filiadas a nossa federação do Maranhão ao Rio Grande do Sul. E independente da Região do País, inclusive no Ceará, um terço deles acabaram retornando à atividade laboral devido a situação financeira", afirma.
Segundo Etevaldo dos Santos, "muitos aposentados hoje são o sustentáculo de suas famílias, ajudando filhos e netos, além de manter a própria casa. E como o aposento é cada vez mais insuficiente e ele não quer ver sua família passando fome, acaba se reintegrando a empresas ou montando o próprio negócio. Normalmente, quem tem nível superior volta a trabalhar em empresas, prestando consultoria", complementa. Entre os que retomam o trabalho dentro da formalidade, o presidente da Fenafap, diz que a grande "revolta" é ter de continuar contribuindo com a Previdência Social. "A pessoa volta a trabalhar porque o benefício vai perdendo o valor e ainda é forçado a contribuir com a Previdência, mesmo sabendo que não terá mais direito a nenhum benefício adicional, nem tem perspectiva de melhoria no atendimento. Mas a parcela sai todos os meses do salário", reclama.
Entre os antigos servidores da RFFSA no Ceará, Etevaldo estima que existe atualmente um contingente de pouco mais de duas mil pessoas, sendo que um terço sobrevive em diferentes profissões. "O quadro era de mais de quatro mil ferroviários, mas a maioria já faleceu. Dos pouco mais dois mil existentes hoje no Estado, temos colegas trabalhando em empresas privadas, em prefeituras no interior, como taxistas e até vendendo picolé", lista.