Galerista Bia Perlingeiro deixa relevante contribuição em formação da história da arte

Importante no circuito artístico cearense, a galerista deixa também notável legado na promoção de cursos, palestras e grupos de estudos; participantes de suas ações referendam os ensinamentos de Bia

Escrito por Redação ,
Legenda: A influência artística de Bia Perlingeiro é exaltada por amigos

"Minha vida é testemunha de um cuidado árduo, diário, afetuoso e forte dos ensinamentos que minha mãe quis passar para os outros, mas muito a mim”. As palavras do filho Victor reverberam o pensamento de quem teve o privilégio de conviver com Bia Perlingeiro, sobretudo aprender. Sua dedicação às artes extrapola as salas de exposições da Multiarte, prestigiada galeria de Fortaleza pela qual era responsável ao lado do marido, Max Perlingeiro, e do único filho. Bia faleceu no sábado (4), no Rio de Janeiro. 

Para além das mostras de importantes nomes do cenário artístico nacional e da produção de catálogos realizadas, a galerista cearense criou espaços dedicados aos estudos da arte e processos criativos com grupos, palestras e cursos. 

Bia coordenava dez grupos de estudos, mediados por cinco professores, sobre os mais diversos temas relacionados à história da arte. O mais recente, por exemplo, tratava das conexões entre arte e moda. “Não tinha a proposta de ser um curso engessado, era algo mais flexível, voltado para qualquer pessoa com mais interesse em conhecer sobre arte”, explica Karla Assunção, secretária pessoal de Bia e da Galeria Multiarte.

Os participantes dos grupos tinham ainda a oportunidade de estar em contato com artistas reconhecidos, obras e exposições em outros museus e galerias por meio de um intercâmbio muito valorizado pela galerista. 

Semanalmente, Bia também promovia encontros com um grupo de artistas locais no intuito de partilhar experiências com Sérgio Helle, Cadeh Juaçaba, Cristina Vasconcelos, Marco Ribeiro e Sérgio Gurgel. “A Bia sempre foi muito generosa com os artistas daqui, sempre fez muita questão de ajudar. Não conheço uma pessoa em Fortaleza que tenha feito mais pela arte”, ressalta Sérgio Helle.

Legenda: Max e Bia Perlingeiro com Nicinha Dias na abertura da exposição itinerante “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção”
Foto: Divulgação

O esmero de Bia ecoa, da mesma forma, além-divisas do Ceará. João Cândido Portinari, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, ressalta a importância das ações realizadas pelo casal. O filho do pintor Portinari relembra, com satisfação, as oportunidades que teve de participar dos grupos da Multiarte.

“Bia congregava em torno de si profissionais não só das artes, mas também de outros setores, que ali se entregavam de corpo e alma à História da Arte, e suas ramificações, com a importante participação de seu filho Victor”

O filho único de Bia e Max segue os passos dos pais e já exerce importante papel na Galeria como coordenador de projetos. Para Victor Perlingeiro, o legado maior é a força sem igual da mãe. “Ela construiu tanto, ajudou tanto, foi tão importante em vida, mesmo assim suas emoções maiores eram comigo, com meu pai e quem ela amasse, e ela amou muito! Não tenho dúvidas do seu protagonismo com sua vida”.

Legenda: O casal Max e Bia Perlingeiro: três décadas de dedicação à arte
Foto: Galeria MT

Os ensinamentos que Bia Perlingeiro transmitiu tanto para o herdeiro quanto para tantas outras pessoas no cenário das artes de Fortaleza são referendados em relatos de participantes de suas ações a seguir:

“Minha vida é testemunha de um cuidado árduo, diário, afetuoso e forte dos ensinamentos que minha mãe quis passar para os outros, mas muito à mim. Ela construiu tanto, ajudou tanto, foi tão importante em vida, mesmo assim suas emoções maiores eram comigo, com meu pai e quem ela amasse, e ela amou muito! Líder na escola, nas amizades, faculdade, em vários grupos, na vida. Irmã mais velha e cuidadora, mulher independente, empresária de nervos de aço, mãe leoa e feroz pra proteger os seus. - Victor Perlingeiro, filho e coordenador de projetos da Multiarte

“Bia Perlingeiro traçou um caminho muito importante no cenário das artes visuais no país. Sua contribuição como mantenedora e facilitadora de diversos grupos heterogêneos de estudo e reflexão das artes plásticas trouxe muitos frutos. As exposições e publicações que coordenou, juntamente com o marido Max Perlingeiro, foram marcadas pela extrema qualidade. Levou as artes aos quatro cantos, influenciando uma geração de artistas e demais profissionais do segmento. Sua doçura e leveza marcaram.” - Ricardo Bacelar, Cônsul da Bélgica e pianista

"A Bia foi uma telha de vidro na minha vida. Nesse momento de dor imensa, encontro conforto na gratidão por ter convivido com ela. Como lidar com a ausência de tamanha presença? São muitos os ensinamentos que ela trouxe e carrego no coração.” - Bianca Cipolla, estilista e mediadora de grupo de estudos na Galeria Multiarte

“Era uma mulher visionária, delicada e cuidadosa com todos a sua volta! Nada passava despercebido do seu olhar, sempre atento e coberto de empatia e gentilezas. Bia formou uma rede de pessoas que pensam e fomentam a arte aqui no estado do Ceará, incentivando os estudos, as conexões e os artistas. Vai nos fazer muita, mas muita falta como amiga sempre fiel, e como articuladora de possibilidades na arte e na cultura.” - Adriana Helena S. Moreira, gestora do Espaço Cultural Unifor

“Neste ano, Bia Perlingeiro estava cheia de planos para fomentar o trabalho dos artistas cearenses. Sempre foi muito generosa com os artistas daqui, sempre fez muita questão de ajudar. Eu não conheço uma pessoa em Fortaleza que tenha feito mais pela arte. Era a vida dela, ela queria criar público para a arte na cidade. Bia era extremamente participativa, sempre estava a par do que acontecia nos projetos da Multiarte, fazia a programação, dava ideia e cobrava muito a gente.” - Sérgio Helle, artista plástico

“Bia foi uma fortaleza. Um verdadeiro exemplo de mulher admirável, de elegância, generosidade, inteligência, tão forte de força e de presença, de energia, de olhar profundo e encorajador, de abraço grande e gostoso, de um sorriso capaz de transformar um ambiente ou o dia. Sempre incentivadora de pessoas, realizadora, que realizou uma obra- prima nesta vida com tudo o que botou no mundo, construiu, criou, conectou e formou. Uma rede de alcance infinito, de pessoas, de entendimento.” - Anik Mourão, arquiteta 

“Só tive o prazer de conhecer a Bia Perlingeiro, recentemente, no início deste ano, pelas mãos e pelo carinho da artista Ana Cristina Mendes, quando me disse que queria levar a dança para a Galeria. Do pouco - mas intenso - convívio, fica em mim a lembrança da paixão pela arte; do cuidado minucioso com tudo o que fazia; do respeito e do profissionalismo com que se dedicava às coisas; mas, sobretudo de sua alegria e de sua vivacidade.” - Andrea Bardawil, diretora da Companhia da Arte Andanças

"Bia era daquelas pessoas lindas por dentro e por fora, queria o bem sem olhar a quem. Foi uma das primeiras pessoas a me abraçar de verdade quando assumi a gestão do Mauc e me disse que o que eu precisasse poderia contar com ela! E não foi promessa ou palavras ao vento. Ela estava ali, sempre junto, apoiando, incentivando, ajudando. Se colocou também como apoio no campo pessoal, oferecendo casa, companhia, cuidado e atenção no meu pós-operatório e no que eu precisasse." Graciele Siqueira, Diretora do Museu de Arte da UFC 

"Tive o privilégio de conhecer e conviver com a Bia, especialmente, na sua Galeria; lugar de Aprendizagens e Encontros sobre Arte, sempre amalgamados pela estética e por afetos.  Uma mulher especialíssima, à frente do seu tempo, que estará presente na nossa memória afetiva como alguém que agregava grupos de matizes e saberes variados, mobilizando-os ao pensar e ao fazer, de modo criativo. Corajosa, sensível e delicada, na mesma medida, primava pelo comprometimento com seu trabalho, com a vida, com seus amigos, cuidando de tudo e de todos, com muito carinho, solidariedade e delicadeza." Grace Trocolli, professora da Unifor 

"Com um sorriso aberto e lindo, seu olhar sempre brilhante de alegria, e um abraço carinhoso, era assim que a Bia recebia a todos nas exposições da Multiarte. Sua pessoa tinha um brilho de simpatia e carisma imediato. Sua competência iluminou e formou mentes e corações para amarem, familiarizarem-se e entenderem o valor do conhecimento da arte através dos grupos de estudos que formou. Bela, doce, competente, fina, exalava o perfume das orquídeas do seu belo jardim onde acolhia, com generosidade e sabores únicos, a todos." - Bete e Ricardo Bezerra

“Eu vivi 18 anos num mundo em que a Bia fazia parte. Ela me acolheu, me ensinou e me lapidou. Ela tinha uma espécie de superpoder de encontrar a força que existia dentro das pessoas e transformar as suas vidas. E com uma generosidade sem igual nos dava as suas lentes para que pudéssemos enxergar além. Amava e acreditava na arte com tanta potência que nos fazia amar e acreditar também”. - Karla Assunção, secretária particular da galerista 

“Leonilson, o Leó, sempre me abriu portas e me trouxe grandes amigos. Nos últimos meses, ele me aproximou de Bia devido à exposição “Leonilson, na coleção de Antônio Dias”. Ficamos parceira, fizemos um ótimo trabalho juntas. É essa a lembrança que quero guardar de você, a amizade e carinho que nos uniu foi muito importante para mim!" - Nicinha Dias, irmã de Leonilson e presidente do Projeto Leonilson 

“O Brasil perde uma pessoa determinada e engajada no trabalho cultural do nosso País. Junto ao Max, há trinta anos vem difundindo a necessidade da "Arte para que nossas vidas sejam a essência de nossa existência". Tivemos a alegria, felicidade de trabalhar com ela há mais de 15 anos, e hoje ela se foi. Mas deixou em nossas memórias: a vida, a felicidade e o profundo respeito pelas artes, os amigos, o marido, o filho e a família. Seu sorriso estará sempre brilhando no céu e no fundo dos nossos corações!!!!" - Jaildo, Stela e Matheus Marinho

“Ao longo de sua vida, Bia foi, passo a passo, construindo uma forma de proporcionar a todos uma experiência única de arte que dissesse ainda mais sobre a vida e os significados que ela poderia apresentar. Cada um tinha, ao sair dali materiais suficientes para repensar o viver ou analisar com mais cautela os gestos que deveriam ser impressos. Passando por ela, cada um deveria imaginar a marca que gostaria de imprimir nessa vida.” -  Ana Cristina Mendes, artista plástica


 

 

 

 

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