Cearense decide comemorar aniversário com pessoas em situação de rua
“Aprendi o significado de empatia”, conta Adriano da Silva. A festa de 37 anos foi compartilhada com pessoas que moram próximo ao viaduto do bairro Aerolândia
A última sexta-feira (10), data em que o auxiliar de serviços bibliotecários Adriano da Silva completa 37 anos, não teve bolo ou festa. É que todos os preparativos foram guardados para a manhã deste sábado (11). Adriano resolveu comemorar mais um ano de vida com as pessoas em situação de rua que residem sob o viaduto do bairro Aerolândia, em Fortaleza. Cerca de 11 famílias vivem no local, que está nas proximidades da BR-116.
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A escolha do local para a festa veio por acaso em uma das idas de Adriano ao Centro de Fortaleza. “Fui resolver uns problemas e me deparei com aquelas famílias ali, naquele viaduto. Me aproximei, vi que eles estavam em umas casinhas. Senti que precisava fazer alguma coisa”, conta.
O primeiro contato com os moradores aconteceu no último domingo (5). Foi nessa aproximação que percebeu quem eram as pessoas ali. “Vi que eram umas 30 pessoas, em umas 11 famílias. Conversei com eles e disse que ia voltar”, recorda.
Ali, a ideia do almoço já se começava a se desenhar. Mas na conversa com os moradores percebeu outra necessidade. “A primeira coisa que uma das pessoas que mora lá me perguntou é se eu tinha café. Então, resolvi que, além do almoço, faria também um café da manhã no dia seguinte ao meu aniversário”, explica.
E, na manhã deste sábado, Adriano e mais cinco amigos montaram mesa com tapioca, bolo, pão e café com leite. “Essa foi a primeira parte. Todo mundo foi bem receptivo, eles adoraram”, comemora.
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A comissão solidária reunida pelo auxiliar conta com 15 pessoas. Uma parte contribuiu para o lanche organizado na manhã e a outra para o almoço. A higiene foi priorizada. “Todos estão usando máscaras, luvas e álcool em gel para proteção. Não podemos ‘vacilar’ nessa pandemia. Estamos aqui também atentos a isso”, revela.
Retorno
Não é a primeira vez que Adriano participa de ações solidárias. Ainda no começo da pandemia de Covid-19, o auxiliar reuniu os amigos para uma campanha de doação. Com a ajuda, a causa “Amigos do Dri” conseguiu arrecadar mais de R$ 1.500, valor repartido para instituições e projetos sociais.
“No começo, pedimos para que cada um contribuísse com R$ 2,50. Rendeu muito, ajudamos muitos projetos. Onde eu trabalho existem crianças que pastoreiam os carros. Reuni mas alguns amigos, peguei parte desse dinheiro, e consegui montar 70 cestas básicas”, relembra.
Uma das contribuintes para a campanha é a auxiliar administrativo Rita de Cássia, 34. Amiga do auxiliar há mais de 10 anos, ela admite não ter ficado surpresa com a escolha da festa. “Achei absolutamente natural, ele é assim. Sempre foi assim. Cheio de projetos, cheio de vida. A gente como amigo só torce e vai junto”, brinca.
Tanto Adriano como Rita trabalham na Universidade de Fortaleza. Por lá, o auxiliar ganhou fama por causa dos projetos solidários. “Todos sabem do carinho de Adriano pelo próximo, todo mundo conhece ele por isso”, completa Rita, também influenciada pelo olhar empático do colega.
“A gente que trabalha, já sofre tanto. Imagina só quem não está podendo trabalhar. Isso é uma forma da gente agradecer pelo nosso e ajudar o próximo. Eu me sinto mais humana porque ser amigo não é só compartilhar festa, ser amigo também é doar um pouquinho de si”, reflete a auxiliar.
Para Adriano, a solidariedade é uma forma de retribuir as conquistas da vida para o outro. “É questão de empatia. Eu já fui bem pobre, precisei trabalhar quando era criança para ajudar a minha mãe. Mas Deus já fez muita coisa na minha vida. E eu quero ajudar ainda mais”, pondera o auxiliar.
As ações, informa, não devem parar por aí. O grupo de amigos já se prepara para outras campanhas e se movimenta para o próximo passo. “Eu vou continuar ajudando eles, fazer uma ação dessas pelo menos uma vez por mês. Tudo vai depender de como vai ser essa situação da pandemia. Mas nada é pra mim. O que chega até mim, é para os outros”, completa.