Vacina cearense contra a Covid: após 2 anos, o que falta para a Uece finalizar o imunizante

Proteção “da casa” é fundamental diante de uma doença com provável circulação permanente no Ceará

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
vacina da uece contra a covid
Legenda: Vacina da Uece contra a Covid está em desenvolvimento desde o início da pandemia
Foto: José Leomar

Desde 2020, o mundo tem uma preocupação em comum: o coronavírus. Já naquele ano, pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) iniciaram a busca por uma vacina “da casa”, mas o imunizante segue sem previsão de chegar aos braços dos cearenses.

A vacina 2H120 Defense, contra a Covid-19, já passou por testes pré-clínicos, em hamsters e camundongos, e teve resultados promissores, segundo os pesquisadores. Os testes foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Diário do Nordeste conversou com o reitor da Uece, o professor Hildebrando Soares, para saber: o que falta para a vacina cearense contra a Covid ser finalizada?

O reitor explica que há duas fases determinantes para que uma vacina desenvolvida chegue ao mercado: a pré-clínica, que envolve os estudos laboratoriais e testes iniciais; e a clínica, que tem o intuito de testar o imunizante em seres humanos.

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“Fizemos dois testes pré-clínicos robustos, apoiados com recursos da Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do Governo do Estado), e agora precisamos de parceria para dar um passo à frente”, aponta.

1.250
pessoas devem receber a vacina durante as três fases de teste exigidas, segundo estimativa dos pesquisadores da Uece.

Para iniciar os testes em humanos, um lote experimental da vacina precisa ser produzido e submetido à autorização da Anvisa. A Uece precisa, então, conseguir uma empresa parceira para produção industrial das doses. 

Só após estabelecer essa parceria e obter investimento por parte dessa empresa é que a Universidade pode se preparar, financeira e estruturalmente, para fabricar o IFA - Ingrediente Farmacêutico Ativo, base de qualquer imunizante.

Vacina esbarra em falta de investimento

vacinação covid
Foto: Thiago Gadelha

Em 2022, a Uece chegou a firmar um termo de cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para que esta “ajudasse no desenvolvimento do IFA”, como relembra Hildebrando. A parceira, porém, ainda não se consolidou, e o diálogo deve ser retomado em 2023.

Como alternativa, a Universidade buscou empresas privadas que tivessem interesse em investir na vacina cearense. “Mas o período eleitoral nos atrapalhou muito, houve um sentimento de instabilidade, a lógica de investimento e as prioridades recuaram”, frisa o reitor.

Todo investimento em pesquisa é de risco. É claro que as pesquisas indicam que os resultados da vacina são muito positivos, mas tem ainda uma fase clínica de aplicação a ser feita. E as empresas são muito conservadoras, querem muitas garantias, essa é a dificuldade da negociação. 
Hildebrando Soares
Reitor da Uece

O reitor reforça, ainda, que “a Uece não pode abrir mão daquilo que tem como ativo”, uma vez que o imunizante “é uma possibilidade grande de gerar dividendos à Universidade”, além de contribuir para proteção da população local contra o coronavírus. 

Neste ano, pesquisadores da 2H120 Defense devem se reunir com representantes de uma empresa farmacêutica paulista para tentar viabilizar parceria e investimento.

Qual o papel do Governo do Estado

A provável pergunta que surge ao leitor é: por que esse recurso financeiro não vem do Estado? O reitor da Uece destaca que, além de estrutura, a fase clínica de testes exige montantes altos.

Além disso, Hildebrando destaca que o Governo do Estado garantiu duas ações estruturantes: o apoio à ciência e a preservação da equipe de pesquisadores.

Projeto da vacina contra Covid-19 tem sido desenvolvido pelo pesquisador, inventor e doutorando em biotecnologia na Uece
Legenda: O pesquisador Ney de Carvalho (no meio) conta com a parceria de outros profissionais para desenvolver o imunizante contra a Covid-19, como o professor Maurício van Tilburg e a professora Izabel Guedes
Foto: Arquivo pessoal

Tivemos um investimento de pouco mais de R$ 1 milhão por meio da Funcap, o que mantém a equipe, garante insumos de experimentação e equipamentos, parte comprada até no mercado internacional.
Hildebrando Soares
Reitor da Uece

Ele afirma que “se o Estado não tivesse ‘entrado’, não teríamos condições de ter chegado até aqui” no desenvolvimento da vacina, já que o material e a “mão de obra” são muito dispendiosos.

O Governo do Estado também viabilizou o termo de cooperação entre Uece e Fiocruz, documento que ainda está válido e será retomado em 2023. “Queremos, neste novo ano, estabelecer as parcerias para entregarmos a vacina pronta e segura.”

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