Pessoas imunizadas com vacina da varíola há 50 anos ainda têm imunidade; tire principais dúvidas

Infectologistas explicam detalhes sobre o vírus, imunização e riscos para a saúde com a confirmação de casos no mundo e suspeita no Ceará

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Corpo com a doença varíola
Legenda: Imunizante, mesmo aplicado há muito tempo, confere proteção contra a doença nova
Foto: Shutterstok

A suspeita de um caso de varíola dos macacos em um paciente de Fortaleza, divulgada nesta segunda-feira (30), também aproxima as dúvidas sobre a transmissão, sintomas, letalidade e imunização contra a doença. Quem tomou a vacina contra a varíola humana, há cerca de 50 anos, por exemplo, tem proteção contra a nova forma. 

Em meio às dúvidas como essa sobre a doença, que ganha maior notoriedade com a notificação no Ceará, o Diário do Nordeste buscou infectologistas para tirar as principais dúvidas sobre a varíola dos macacos.

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O caso cearense foi notificado ao lado de outro paciente em Santa Catarina, conforme o monitoramento do Ministério da Saúde. No Ceará, o paciente está em isolamento enquanto aguarda resultado do exame.

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que não foi identificado nenhum deslocamento para países com casos confirmados da doença e nem contato com casos confirmados pelo paciente. A principal suspeita diagnóstica é varicela (catapora)

O que é a varíola dos macacos?

O vírus Monkeypox, que causa a varíola dos macacos, é um “parente” da varíola humana e considerado uma zoonose - infecção comum em animais, mas que consegue afetar humanos -, como explica Lauro Vieira Perdigão Neto, infectologista do Hospital São José.  

“A novidade é o aparecimento de surtos fora da área de circulação do vírus da varíola dos macacos na África. Agora estamos nos deparando com uma centena de casos fora do usual, na Europa, América do Norte, Oceania e agora casos na América do Sul”, contextualiza.

Apesar do nome, o vírus costuma ocorrer em roedores, mas a primeira detecção foi registrada em macacos de laboratório e por isso o nome da doença.

“A transmissão desses casos ainda está em análise não se sabe exatamente em que momento o vírus saiu e nem o formato da transmissão que ocasionou o surto'', explica sobre os casos atuais.

Quem recebeu a vacina contra a varíola humana também está protegido contra a varíola dos macacos? 

Sim, o imunizante aplicado há cerca de 50 anos também confere uma barreira contra a doença que começa a se alastrar no mundo. Isso pode ser chamado de proteção cruzada, como define Lauro.

“As evidências apontam que a imunidade gerada pela vacina da varíola em humanos trás um benefício contra a varíola dos macacos - uma proteção cruzada. Os trabalhos mostram que 85% dos vacinados estão protegidos mesmo tendo passado tanto tempo”, detalha.

Quem já teve a varíola humana também está protegido contra a nova doença?

A imunidade de quem teve a doença também gera resposta contra a nova doença, como explicam os especialistas. “Existe uma proteção prolongada gerada pela imunidade tanto da vacina quanto da doença”, destaca Lauro.

Mas essa é uma situação menos comum do que a de pessoas imunizadas há anos e que ainda possuem proteção, como pondera Mônica. “A população viva que teve a varíola humana é relativamente pequena, porque a doença está extinta desde a década de 1980”

Isso porque com as campanhas de vacinação contra a varíola, a doença perdeu presença na população. “Então, as pessoas estão mais protegidas por terem se vacinado do que por ter tido a doença”, conclui.

A varíola dos macacos mata? Quais são os riscos dessa doença?

Sim, a doença pode ocasionar mortes, mas esse é um risco muito menor em comparação com a forma anterior que levou à uma campanha nacional.

“Tem riscos de complicações, porque formam aquelas bolhas, que não devem ser furadas. Os pacientes devem deixar as bolhinhas secarem para não ter infecção secundária”, detalha a médica infectologista Mônica Façanha.

A especialista, também professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, explica que as bolhas surgem no rosto e se disseminam pelo corpo.

É muito importante a gente pensar que essa variante de varíola é muito mais leve do que foi a varíola humana, que tinha uma letalidade muito alta. Os casos agora são muito mais leves, então, não é motivo de pânico ou de grande preocupação
Mônica Façanha
Infectologista

O que pode mudar caso a notificação da varíola dos macacos seja confirmada no Ceará?

Diante de um caso confirmado da doença, os protocolos de prevenção e de isolamento devem ser aplicados, como explica Lauro.

“O paciente deve ficar isolado no período de transmissão, até que todas as lesões virem crostas, e acompanhar os casos suspeitos pelo período de incubação que pode ir até 3 semanas depois da exposição”, contextualiza.

Apesar disso, o especialista frisa que não há motivo para pânico com relação à propagação da doença.

Como é transmitida a varíola dos macacos?

A transmissão da varíola dos macacos entre humanos acontece por meio do contato próximo.

“É uma doença de transmissão respiratória, tem outras formas, como pelo contato. A doença é de controle difícil por conta disso e a gente espera que não seja tão complicada quanto as outras”, detalha Mônica Façanha.

Os cuidados de prevenção são semelhantes aos conhecidos durante a pandemia, como relaciona a especialista, na proteção contra a transmissão respiratória, higienização das mãos e cuidado com a transmissão por contato”
 
“A tendência é que esse tipo de doença realmente chegue, porque as pessoas começam a transmitir antes de ter sintomas, a gente só espera que seja menos grave e impactante”, conclui.

Como é feito o diagnóstico da varíola dos macacos?

Os casos suspeitos só podem ser confirmados por meio de uma análise em laboratório.

“A suspeita começa com avaliação clínica - são analisadas lesões, histórico compatível - o material deve ser coletado para, em laboratório, seja confirmada a presença do vírus nas lesões”, detalha Lauro Vieira.

Entre os sintomas da varíola dos macacos, febre, dor no corpo e aparecimento de lesões  são casos que merecem atenção, conforme o especialista.

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