Espaço da Misericórdia no Halleluya oferece ‘divã espiritual’ para jovens e fiéis em crise
Na busca por direcionamento ou um momento de oração, inúmeros fiéis encontram no Espaço da Misericórdia o silêncio e a acolhida para aliviar suas dores
Um lugar especialmente preparado, que destoa dos demais espaços do Festival Halleluya, que chega à sua 27ª edição: em meio ao barulho vindo dos três palcos distribuídos pela arena — onde são esperadas mais de 1 milhão de pessoas em cinco dias —, o Espaço da Misericórdia é marcado pelo silêncio e pela contemplação, mas também por pessoas dispostas a oferecer um ombro amigo em momentos difíceis.
“A atuação do Espaço da Misericórdia é operacional e espiritual, mas, acima de tudo, é uma promoção da pessoa humana, um apoio para quem, muitas vezes, chega aqui sem um sentido ou um norte na vida”, afirma Vinicius Ribeiro, membro da Comunidade Católica Shalom há 20 anos e responsável pelo local. “Aqui, as pessoas podem encontrar descanso no silêncio que o espaço propõe. Um descanso para o corpo e para a alma”, completa.
Segundo a Comunidade Católica Shalom, organizadora do festival, o espaço está maior neste ano e recebeu uma nova estrutura, que reforça ainda mais sua importância. No centro dele, está exposto Jesus Eucarístico — que, na fé católica, representa a presença real do Filho de Deus no sacramento da Eucaristia —, e a adoração ocorre de forma contínua durante todos os dias do evento.
Entre os que contribuem e doam seu tempo nas cinco noites estão jovens entre 16 e 17 anos, idosos, casais e até crianças — todos envolvidos em um trabalho contínuo de fé. “O sentido de ter esse lugar como o espaço principal do Halleluya é porque ele é o lugar do dono da casa. Fazemos questão de manter o Espaço da Misericórdia por ser o sentido de tudo aquilo que fazemos — toda a nossa evangelização, cujo centro é Jesus”, destaca o coordenador.
O espaço conta com diversas equipes de voluntários — cerca de 500 nesta edição do festival — que atuam em várias frentes: organização das confissões, liturgia, limpeza, conservação e, principalmente, no serviço de intercessão — realizado por pessoas preparadas para ser um sinal de esperança àqueles que buscam uma experiência de acolhimento.
Sem uma escala fixa, cerca de seis pessoas são aconselhadas por noite, em média, sendo a maioria jovens. “O que existe aqui é uma oferta de serviço por amor a Deus e ao nosso irmão. Recebemos dons e carismas e precisamos transbordar isso doando nossas vidas”, explica Lia Maria Lopes, de 63 anos, e integrante do corpo de voluntários. Assim como ela, outros membros da Comunidade Shalom são formados para exercer esse serviço — apenas eles podem realizar os momentos de intercessão.
Fábio Nogueira, 66 anos, é um deles. Missionário da comunidade há 15 anos, ele destaca que o serviço exige entrega e escuta sensível. “Quando nos doamos para esse ministério, é Deus quem age em nós. Ele conduz, atua, e nos dá forças para termos as palavras certas para aquelas pessoas”, diz.
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Na capela, onde a hóstia consagrada fica exposta aos visitantes, não há momento de completo vazio. O entra e sai de pessoas é constante, dada a lotação. Algumas vêm com terços, Bíblias ou livretos de oração e permanecem em silêncio, em atitude de respeito. No mesmo local, cerca de 40 sacerdotes ficam disponíveis para atender os fiéis em busca de reconciliação, enfrentando extensas filas.
“A capela, em qualquer lugar ou evento, é sempre o espaço principal. É realmente esse lugar de encontro com Deus. As pessoas podem trazer seus problemas, suas inquietações e se colocar diante d’Ele”, afirma Vinicius.
Em uma espécie de divã espiritual, o aconselhamento — que muitos interpretam como uma verdadeira forma de doação — é simples: basta chegar, aguardar a vez e se permitir o desabafo. O momento também serve como alternativa para quem não deseja necessariamente encontrar um padre para o sacramento da reconciliação (confissão), que, ali, é precedido por um curso preparatório de 30 minutos.
Após a confissão ou aconselhamento, a orientação é que o visitante procure um centro de evangelização da comunidade para “aprofundar a escuta da Palavra de Deus”, explica a missionária Lia. O objetivo é garantir um acompanhamento mais pessoal por meio da oração e da partilha — oferecendo a intercessão que muitos buscam para lidar com os dilemas que enfrentam. “É acolher e não discriminar", reforça Fábio.