Escola em Sobral alvo de ataque a tiros retomará aulas em outubro

A decisão ocorre como forma de preparar melhor a instituição de ensino para receber os alunos e professores

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 14:51)
Escola Luís Felipe está localizada no bairro Campo dos Velhos, em Sobral.
Legenda: Escola Luís Felipe está localizada no bairro Campo dos Velhos, em Sobral.
Foto: Reprodução/Google Maps

As aulas da Escola de Ensino Médio Luís Felipe, no bairro Campo dos Velhos, em Sobral, só irão retornar no próximo dia 6 de outubro.

A decisão, divulgada pela Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) neste sábado (27), ocorre como forma de preparar melhor a instituição de ensino para receber os alunos e professores após o ataque a tiros que matou dois estudantes e deixou três feridos na última quinta-feira (25).

Segundo o comunicado, nos próximos dias, a escola – que tem mais de mil alunos – realizará atividades de apoio psicossocial para professores, demais servidores, estudantes e familiares para tentar minimizar o impacto da tragédia.

A nota ainda destaca que a Seduc e o Ministério da Educação (MEC), em parceria com órgãos e entidades parceiras, estão "desenvolvendo um plano de ação para garantir a proteção e o bem-estar dos estudantes e profissionais da EEM Luís Felipe, o retorno das aulas e o apoio integral aos estudantes em recuperação, às famílias e a toda a comunidade escolar".

Veja também

Confira a nota divulgada pela Seduc na íntegra:

A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) informa que as aulas na Escola de Ensino Médio Luís Felipe, em Sobral, serão retomadas no próximo dia 6 de outubro. O retorno está sendo cuidadosamente preparado para garantir acolhimento, cuidado e segurança a todos que fazem parte da comunidade escolar.

Entre os dias 29 de setembro e 1° de outubro, a escola realizará atividades de apoio psicossocial voltadas a professores e demais servidores, além do planejamento pedagógico para a organização dos espaços e a preparação da rotina escolar. Já no período de 1° a 3 de outubro, serão promovidos círculos de diálogo e acolhimento psicossocial com as famílias dos estudantes, conforme cronograma que será divulgado pela unidade na próxima semana.

Na retomada das aulas, serão ofertados momentos conduzidos por psicólogos, assistentes sociais e professores diretores de turma, assegurando um ambiente de apoio emocional, segurança e escuta sensível para os estudantes.

A Seduc, em parceria com o Ministério da Educação e diversos órgãos e entidades, segue desenvolvendo um plano de ação para garantir a proteção e o bem-estar dos estudantes e profissionais da EEM Luís Felipe, o retorno das aulas e o apoio integral aos estudantes em recuperação, às famílias e a toda a comunidade escolar.

Ataque a tiros em escola em Sobral

O ataque a tiros que vitimou dois estudantes e feriu outros três ocorreu na manhã da última quinta-feira (25). Imagens de câmeras da região registraram quando dois homens chegaram de moto à vizinhança, desceram do veículo e efetuaram os disparos da calçada, em direção ao pátio da escola.

Cinco adolescentes alunos da EEM Luís Felipe, com idades entre 16 e 18 anos, foram feridos durante o ataque. Um deles, que veio a óbito, foi alvejado com 13 tiros. O segundo faleceu com três disparos.

De acordo com as primeiras investigações, uma hipótese é de que os adolescentes assassinados tinham envolvimento com tráfico de drogas na região do colégio estadual e estavam envolvidos em disputa de facções criminosas.

A motivação, entretanto, ainda será desvendada, conforme o delegado João Alberto divulgou em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (26), após a prisão do primeiro suspeito do crime.

De acordo com o secretário da Segurança Pública, Roberto Sá, "custará tempo", mas "esse crime não vai ficar impune". O segundo suspeito ainda está foragido.

O que deve ser feito quando a escola é alvo de violência?

O ataque à EEM Luís Felipe gerou repercussão Brasil afora e diversos políticos, figuras públicas e entidades se manifestaram, como o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), o governador Elmano de Freitas e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

À TV Verdes Mares, moradores do entorno da escola, além de pais e mães de alunos, relataram o terror vivenciado e o temor gerado pela ação criminosa. Mãe de uma aluna, a manicure Isa Maria contou que estava próximo à unidade no momento do ataque e relatou a cena de desespero, citando que pais e mães chegaram a tentar arrebentar o portão para acessar o local.

No momento posterior a uma situação de violência como essa, especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste destacam que a prioridade é acolher as pessoas atingidas pela situação. Após um ataque assim, é comum que alunos, professores e outros funcionários das escolas tenham sintomas de Estresse Pós-Traumático, por exemplo.

O retorno deve ser gradual, trabalhado em diferentes fases, explica a doutora em educação e professora da Faculdade de Educação da Unicamp Telma Vinha, que também é coordenadora associada do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM).

"Conheço escolas, por exemplo, em que eles (gestores) fizeram voltar às aulas dois dias depois (da ocorrência), sendo que os professores ainda estão traumatizados, estudantes estão traumatizados. Você tem que ir aos poucos. Começa com professor, prepara o ambiente, prepara como receber os alunos. Antes de receber os alunos, você tem que se reunir com as famílias. Você tem que dar suporte paulatino para aquela escola voltar a abrir", explica.

Caso contrário, segundo a professora, pesquisas indicam que meses após o ocorrido há um grande adoecimento nessa comunidade, pela falta de cuidado.

O documento "Violência extrema contra as escolas: orientações para preparação e resposta", do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), indica quatro fases para ação antes e depois de situações desse tipo.

  • A Fase 0 (Zero) - Organização de um Comitê Local Intersetorial: Antecipa as necessidades e orienta a respeito da constituição de Comitês para coordenar as ações de recuperação e do provisionamento de recursos financeiros. É uma fase que deve ser realizada por todos os municípios, de forma preventiva, sem que exista ataque.
  • A Fase 1 - Conjuntura, avaliação do impacto e preparação: Trata das deliberações administrativas e organizacionais necessárias para o planejamento e concretização do fluxo de encaminhamentos para o atendimento ampliado às vítimas diretas e indiretas.
  • A Fase 2 - Resposta integrada considerando as prioridades: Refere-se à organização e implementação das ações de intervenção inicial imediata e de caráter de urgência.
  • A Fase 3 - Restauração: Orienta sobre a retomada e continuidade das ações letivas na escola afetada. O planejamento deve considerar as ações de médio e longo prazo a serem construídas e adotadas pela instituição.

Quais medidas foram anunciadas após o ataque à escola de Sobral?

Após o ataque, na última quinta-feira (25), Camilo Santana informou que equipes do Ministério da Educação (MEC) iriam acompanhar de perto a situação por meio do Núcleo de Resposta e Reconstrução de Comunidades Escolares (NRRCE), composto por profissionais especialistas em Psicologia das Emergências e Desastres.

A equipe atua diretamente junto às redes de ensino que necessitam de apoio em situações de crise em caso de ataque, promovendo o cuidado ético, o fortalecimento dos vínculos e a reconstrução coletiva da comunidade escolar.

Além disso, o governador Elmano de Freitas anunciou o envio da cúpula da Segurança Pública do Ceará para o município e o reforço policial na região.

Veja também

Em nota, o Ministério Público do Ceará (MPCE) informou que vai atuar junto à Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) e aos demais órgãos públicos estaduais e municipais no acompanhamento de um plano emergencial de gestão de crises no ambiente escolar, prevenção de violência e fortalecimento da cultura de paz nas unidades de ensino.

"A proposta é definir ações de curto, médio e longo prazo para garantir a permanência dos estudantes nas escolas com segurança. Entre as primeiras medidas estão o trabalho intersetorial para a construção do plano, com ações de acolhimento e, numa fase posterior, implementação de estratégias para o retorno das aulas de forma segura", diz o comunicado.

O plano também vai contar com contribuições de representantes das instituições do Sistema de Justiça, da Segurança Pública e da Assistência Social tanto do Estado quanto do município de Sobral.

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Assuntos Relacionados